Roberto Rockmann, colunista da Agência iNFRA*
O xadrez da corrida presidencial está distante ainda de ficar claro, mas já se notam as primeiras movimentações de assessores de candidatos em contatos com especialistas do setor elétrico para montar o esboço dos programas de energia que serão apresentados a eleitores e ao mercado em 2022. O telefone de consultores já começa a tocar com sondagens iniciais. Alguns que já receberam sinais estão receosos de marcar reuniões em razão do clima de polarização política.
O PT (Partido dos Trabalhadores) é um dos que já saíram a campo. Um ex-integrante do Ministério de Minas e Energia em 2003 já começou a conversar com especialistas. Os tucanos não têm seu candidato definido, mas o tema de energia já está na pauta dos assessores do governador gaúcho (PSDB-RS), Eduardo Leite. O tema deve ser um dos mais delicados.
O cenário atual tem diversas particularidades. Combina transição energética, crise hídrica, incerteza em relação ao abastecimento em 2022 e 2023, custos elevados de operação do sistema elétrico, uma crise energética global que tem pressionado preços de combustíveis do Brasil à Europa, um país que desde 2014 não tem crescido com vigor, desemprego em alta, renda apertada para milhões de brasileiros, e polarização crescente da sociedade brasileira.
Os ingredientes poderão tornar-se ainda mais delicados a depender: 1) do andamento do processo de capitalização da Eletrobras; 2) da discussão sobre a geração distribuída solar no Senado; 3) do andamento da legislação da reforma do setor elétrico e da potencial abertura do mercado; 4) da criação de um encargo para os custos dela. A Petrobras, sua política de preços e a abertura do setor de refino também estarão no centro dos debates.
O setor de energia estará no radar de analistas e da imprensa nas eleições do próximo ano diante de um cenário muito mais complexo e explosivo do que em 2002, quando o tema também esteve no centro dos debates eleitorais, depois do racionamento de 2001, que expôs a dúvida sobre qual modelo ficaria de pé. Entre o modelo à esquerda proposto no programa de governo do candidato Lula ao novo modelo sancionado em 2004, passaram-se longos meses de debate até a guinada que levou à atual regulação.
Resta saber como será a história da eleição de 2022 e os meses seguintes à eleição.