PNE aponta expansão via renováveis, com eólicas e solares com maiores crescimentos até 2050


Guilherme Mendes, da Agência iNFRA

A estratégia energética brasileira, para os próximos trinta anos, deve passar por uma forte expansão puxada por matrizes renováveis, tendo as fontes eólica e solar os maiores potenciais de crescimento.

Os apontamentos estão no novo PNE 2050 (Plano Nacional de Energia), publicado na última segunda-feira (13) pelo Ministério de Minas e Energia. Esse é o primeiro documento de planejamento de longo prazo levado a consulta pública pela pasta em treze anos. No último PNE, de 2007, a previsão do Executivo era de que, em 2030, a participação de fontes renováveis na matriz energética iria manter-se em torno de 45%, chegando a 168 GW de matriz hidrelétrica.

O texto principal, de 231 páginas, já considera um possível cenário de estagnação futura, com a Covid-19 impedindo a expansão da matriz energética por um período continuado. A maior parte do estudo, porém, trabalha com a conjuntura de expansão da demanda.

Eólicas: com redução de custos, offshore pode puxar expansão
Em um cenário de expansão da carga, o PNE espera um crescimento significativo da fonte eólica. Nas previsões modeladas pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), a matriz alcançaria de 110 GW a 195 GW em termos de capacidade instalada e entre 50 GW a 85 GW médios em termos de energia em 2050. Isso representaria em torno de 22% a 33% da capacidade instalada total ou de 27% a 40% em termos de energia total ao final do período.

Em modelos onde se aplica uma expansão 100% renovável da geração, ou uma frota 100% elétrica sem a construção de UHEs em áreas protegidas, o potencial pode chegar a 246 GW, o que representaria 42% da matriz nacional.

Eólicas offshore
Os analistas apontam que a expansão da matriz pode ocorrer principalmente em parques offshore (em alto mar) – análises indicam que o modelo de geração, se chegar a um custo de produção 20% menor que o registrado ano passado, pode ocupar o lugar dos parques onshore (em terra), que só se expandirão no longo prazo com uma eventual redução de custos de produção.

O PNE 2050 traz sete recomendações sobre a matriz. Uma delas pede aperfeiçoamentos à regulação existente sobre os projetos em alto mar, que podem ser úteis para incorporar as especificidades relacionadas aos empreendimentos. Isso envolveria não apenas melhoras no regramento de instalação de empreendimentos em águas públicas, de domínio da União, e de impactos na navegação, cuja responsabilidade é da Marinha do Brasil.

Solares: otimismo em menor escala
A análise também mostra um cenário promissor para a geração solar no futuro, em uma escala menor que a prevista para a matriz eólica. Na maior parte das projeções da EPE, a expansão pode ir entre 27 GW (gigawatts) e 91 GW – o volume alcança entre 5% e 16% da capacidade instalada total, ou de 4% a 12% em termos de energia total em 2050. O número não leva em consideração a geração distribuída fotovoltaica.

A expansão solar deve ocorrer nas décadas finais do período, quando a geração solar terá maior competitividade em relação às outras matrizes. A expectativa é que a expansão da matriz se dê ao custo da expansão da matriz hidrelétrica.

Em modelos onde se aplica uma expansão 100% renovável da geração, ou uma frota 100% elétrica sem a construção de UHEs em áreas protegidas, o potencial das usinas solares pode chegar a 196 GW, o que representaria 30% da matriz nacional. O cenário é menos seguro em comparação com a eólica, já que a solar tem mais competidores diretos: a cifra de quase 200GW cai em caso de expansão de hidrelétricas, ou melhora da capacidade das térmicas movidas a biomassa, seja em geração ou na disponibilidade de cana por períodos maiores do ano.

Hidrelétricas: nova função
Na edição de 2050, o capítulo sobre a matriz hídrica aponta para o reposicionamento dessa geração no futuro. “Com a inserção cada vez maior de fontes de energia renováveis não controláveis, como as fontes eólica e solar, de natureza intermitente, a operação das usinas hidrelétricas tem sido modificada e sua importância para a operação e segurança do sistema tem aumentado”, diz a EPE, autora do estudo.

Mais à frente,  a análise acrescenta: “Nesse sentido, a ampliação da oferta hidrelétrica não conseguirá acompanhar o ritmo de crescimento da demanda por energia no Brasil ao longo das próximas décadas, resultando em gradual perda de participação relativa na nossa matriz. Todavia, isso não significa perda de relevância das hidrelétricas”. Uma das razões, aponta o texto, é a dificuldade de expansão da matriz em locais hoje protegidos.

Em uma das projeções levadas à consulta pública, a complementariedade sazonal das demais fontes renováveis faz com que haja um aumento da oferta de energia renovável não hidrelétrica nos períodos secos. Esse aumento acaba por ser de tal proporção que, a longo prazo, reduz a necessidade de consumir os estoques de água nos períodos secos para evitar consumo de combustíveis nas termelétricas, de forma que não se torna necessário reduzir tanto os níveis dos reservatórios no segundo semestre.

O documento indica que o potencial hidrelétrico apontado hoje é 176 GW, sendo 108 GW já operacionais ou em construção e outros 68 GW inventariados. Desse total inventariado, apenas 23% não interferem em terras indígenas, quilombolas e/ou unidades de conservação. A análise aponta também para um aumento de 5% a 20% da carga hidrelétrica por meio da repotenciação do parque já instalado. Dos 108 GW já instalados, 50 GW estariam elegíveis para a modernização, em 51 usinas em todos os subsistemas.

Há, no documento, 11 recomendações para o Poder Executivo em relação à matriz hidrelétrica. A primeira é endereçar efeitos de um novo papel das UHEs na operação do sistema no futuro – o texto aponta que o desenho de mercado, na medida do possível, deve ser atualizado, “de modo a permitir que as usinas sejam remuneradas pelo efetivo serviço entregue, ou seja, não só pela sua produção de energia elétrica, mas também pela sua habilidade e disponibilidade para prestar outros serviços, como de flexibilidade e capacidade, permitindo que novos modelos de negócio se viabilizem”.

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