da Agência iNFRA
Em palestra de encerramento do Summit Portos 5.0, realizado na última quinta-feira (21), Anderson Fagundes, head of Loss Prevention for Transportation do Mercado Livre Brasil, destacou os benefícios que o setor produtivo tem ao adotar a verticalização em seus processos. Assista à íntegra do evento neste link.
A verticalização é um modelo em que a empresa centraliza toda a cadeia de produção, desde a matéria-prima até a distribuição dos produtos. O oposto é a horizontalização, estratégia cujo objetivo é descentralizar ao máximo a cadeia de produção de determinado bem ou serviço, explicou o diretor.
Segundo Anderson, o modelo tradicional de verticalização surgiu na Revolução Industrial, estava presente no Fordismo, mas foi perdendo espaço para a fragmentação da cadeia de valor ao longo do tempo. Agora, ele diz, o conceito vem reconquistando espaço no mercado:
“A verticalização retoma muito focada em questões como maior autonomia, domínio da tecnologia, possibilidade de maior lucro. Mas um ponto importante é o know-how e a experiência do usuário”, argumentou.
Desafios
Em sua fala, Anderson citou a matriz de transportes de carga brasileira, que ele considera muito dependente do modal rodoviário, diferente do que ocorre em outros países, como Estados Unidos, Canadá e Japão, por exemplo, onde há maior equilíbrio entre os diferentes modais.
“Acoplados a essa matriz de risco, nós temos o custo e o risco Brasil. Muitas vezes o preço do frete é maior que o produto, porque você tem um custo muito grande para poder fazer com que seu produto gire em torno disso”, pontuou.
O representante do Mercado Livre Brasil também disse que o país não tem uma estrutura de segurança interna que proteja a cadeia logística, item necessário para um país de dimensões continentais. Segundo ele, a prática conhecida como homeland security é adotada em diversos países.
“Essa segurança interna vai focar na proteção das infraestruturas críticas que, basicamente, são as estruturas da logística: portos, aeroportos, rodovias, ferrovias”, exemplificou.
Riscos
Anderson ressaltou que atrelados aos desafios existem riscos, como o tráfico internacional de drogas e o roubo de cargas, que se aproveitam da cadeia logística. Ele classificou como “severo” o índice de roubo de carga no Brasil, algo em torno de 40 roubos de carga por dia, 14 mil a 15 mil roubos de carga por ano.
“Essas cargas que são roubadas têm estruturas criminosas, que possuem, obviamente, uma estrutura logística por trás para lidar com esse descaminho”, disse.
Após apresentar um vídeo do Fórum Econômico Mundial sobre os riscos mundiais para se fazer negócios, o palestrante foi enfático ao dizer que as vulnerabilidades da cadeia logística têm relação direta com a baixa verticalização.
“Quando eu fragmento a minha cadeia de valor, eu assumo mais riscos – ao branding, à reputação – e, obviamente, as empresas que querem melhorar a sua tecnologia de gestão, que querem melhorar o seu know-how, aumentar o portfólio e a sua plataforma de serviços e produtos, eles começam a entender que isso é um risco continuado, e, obviamente, isso acaba sendo um impulsionador para que a verticalização seja mais utilizada”, concluiu.
Palestrante internacional
O evento contou ainda com palestra de Peter W. de Langen, consultor na área de portos e logística e professor da Copenhagen Business School, na Dinamarca. Ele tratou sobre arranjos produtivos para a cadeia de contêineres.
Estudo do professor mostrou que, no Brasil, a ameaça de efeitos adversos de concentração não é grande. Dessa maneira, não seria apropriado limitar entrantes no mercado de novos terminais, sob risco de reduzir a competição.
“Há competição entre os maiores portos do país, ao mesmo tempo que outros portos menores competem entre si. Além disso, os terminais também competem por cargas de transbordo”, resumiu.
Contudo, Langen sugere que seja realizado um monitoramento anual com os operadores de contêineres em terminais portuários, a fim de verificar a produtividade, os preços e a performance financeira dos terminais. Acesse o estudo completo, em inglês, neste link.