Dimmi Amora*, da Agência iNFRA
O novo presidente da Codesp (Companhia Docas de São Paulo), Casemiro Tércio, afirmou que sua gestão trabalha para que a empresa possa fazer, ainda no atual governo, o lançamento de ações na Bolsa de Valores.
A intenção, segundo ele, é que o governo mantenha o controle da companhia estatal, mas que, a partir do momento que esteja listada em bolsa, a Codesp tenha uma governança mais adequada, principalmente sem interferência política, algo que foi duramente criticado pelo atual gestor.
O plano de Tércio foi apresentado na última terça-feira (19) durante palestra na XXII Conferência Nacional de Logística, evento que faz parte da Intermodal South América e NT Expo, feiras que acontecem nesta semana em São Paulo. Até chegar ao lançamento de ações, Tércio apresentou um ambicioso plano de reestruturação da empresa que inclui inclusive concessões de longo prazo para o Canal de Acesso ao Porto e para as vias rodoviárias.
Em relação ao Canal, a ideia é fazer uma concessão de 30 a 35 anos para que todo o sistema – da dragagem ao gerenciamento dos navios – seja gerido de forma privada. Ele explicou que as decisões sobre a ordem de entrada dos navios continuaria com um gestor público.
A modelagem dessa concessão seria feita na própria Codesp, em parceria com o Ministério da Infraestrutura. Ela seguiria todos os trâmites de uma concessão, inclusive com análise pelos órgãos de controle.
O mesmo ocorre com as vias de acesso ao porto, que teriam pedágio eletrônico cobrado dos caminhões. A ideia é não cobrar dos moradores da cidade, e será estudado até mesmo se uma segregação de vias é necessária.
A ideia da nova gestão é que os recursos arrecadados possam ser usados para solucionar os problemas trabalhistas da companhia, especialmente a dívida com o fundo de pensão dos portuários, estimada em R$ 3 bilhões.
Segundo ele, a solução dessa dívida é essencial para iniciar um projeto de redução dos quadros da Codesp em cerca de 50%.
Modelo de gestão
Em sua palestra, Tércio foi crítico do modelo de gestão dos portos, que permitiu uma elevada ingerência política na administração das unidades. Ele afirmou que, para portos de maior complexidade, como Santos, não há chance de que uma concessão de Companhia Docas seja realizada, pelo conflito de interesses do concessionário com os arrendatários.
“Acho que se colocarem freiras para administrar o porto de Santos elas vão deixar de ser freiras”, brincou Tércio em relação ao tema do conflito de interesses.
O diretor acha que o modelo de concessão completa (ou venda de ativos) pode funcionar em portos menores, citando São Sebastião (SP), Vitória (ES) e Cabedelo (PB). Ele cobrou, contudo, uma tabela de preços nacional para os serviços portuários para que se possa comparar a eficiência de cada porto público e mostrar os que devem ser fechados por ineficiência.
“Alguém vai ter que ter coragem para fazer isso”, disse o presidente.
Tércio afirmou que sua gestão será marcada por acabar com a influência partidária na gestão do porto e a retomada da autoridade portuária, inclusive para fazer a cobrança de empresas que devem à Codesp, citando expressamente a World Port, terminal de contêineres que opera em Santos.
“Tem muito cliente chorão em Santos que acha que está pagando muito, mas está pagando pouco”, afirmou o novo presidente da companhia que disse que já está convocando empresas para avaliar os contratos.
Pedido de Investimentos
A XXII Conferência Nacional de Logística foi aberta pela secretária-executiva adjunta do Ministério da Infraestrutura, Viviane Esse, que apresentou um panorama dos investimentos previsto para o setor nos próximos anos e apelou por investimentos privados.
De acordo com Viviane, o governo tem metas ousada para o setor, mas exequíveis. Segundo ela, além da pauta de investimentos, o governo também tem uma pauta de melhoria regulatória e de mudanças legislativas, que passam inclusive por melhorias no setor de cabotagem.
*O jornalista viajou a convite da Intermodal South America e NT Expo
