da Agência iNFRA
Os eventos climáticos extremos, cada vez mais recorrentes, demandarão investimentos expressivos para preparar e aumentar a resiliência das redes de energia elétrica. No entanto, terá que ser feito de forma equilibrada e buscando o menor impacto tarifário possível.
Esse desafio foi levantado por autoridades do setor elétrico na abertura do encontro “Eventos Climáticos Extremos: Experiência Internacional e Impactos nas Redes de Energia Elétrica”, promovido pela Agência iNFRA e o Instituto Abradee na última quarta-feira (11), em Brasília (DF).
O evento contou com a participação de especialistas brasileiros, além de palestrantes internacionais que expuseram diferentes experiências e pontos de vista sobre o tratamento de questões regulatórias, resiliência das redes e outros desafios diante de eventos climáticos severos. A íntegra do evento está disponível no canal da Agência iNFRA no YouTube.
Adaptação e mitigação
O diretor-geral da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), Sandoval Feitosa, afirmou que os grandes desafios diante do aumento dos eventos extremos são a adaptação e mitigação, o que passa pela busca de uma resposta mais rápida das empresas de energia após essas ocorrências.
Feitosa lembrou que a agência está com consulta pública aberta até 19 de dezembro sobre aprimoramentos regulatórios para melhorar a resiliência e resposta das redes. “Esse é um desafio no qual a ANEEL tem se debruçado na busca por um caminho sustentável para os subsídios tarifários e estabelecimento de tarifas justas que observem a capacidade de pagamento do consumidor brasileiro”
Para a secretária-executiva adjunta substituta do MME (Ministério de Minas e Energia), Isabela Sales Vieira, embora os eventos extremos sejam inevitáveis, as consequências deles podem ser reduzidas através de um trabalho que envolva todos os ciclos do setor elétrico, desde o planejamento até melhorias tecnológicas, de pessoal e mesmo de comunicação.
Experiência da Flórida
O consultor e ex-vice-presidente da Florida Power, empresa distribuidora de energia nos Estados Unidos, Michael Spoor, relatou que investimentos e planejamento nas redes de distribuição e transmissão levou a um restabelecimento de energia mais rápido pós-eventos climáticos extremos. A região é constantemente atingida por furacões e a empresa precisou traçar uma estratégia para atuação.
Dentre as estratégias adotadas pela companhia, estão investimentos em redes inteligentes, manejo de vegetação próxima às estruturas, manutenção e substituição de postes, além de cuidados com a fundação e infraestrutura subterrânea. Segundo Spoor, antes dos investimentos realizados, a companhia levava cerca de 18 dias para restaurar a energia para os clientes após a passagem de furacões. Recentemente, após a adoção das estratégias, o tempo caiu para cerca de oito dias.
Outro ponto chave destacado pelo palestrante é a comunicação com os consumidores e com as autoridades. “Depois desses eventos, a primeira pergunta do cliente é: ‘Quando eu vou ter energia de novo?’”, destacou. “Mesmo que nenhum cliente goste de ficar sem energia, o que eles mais querem é a informação de quando terão energia de volta para poderem se planejar.”
Segundo o palestrante, nas primeiras 24 horas pós-evento, as companhias se esforçam em dar uma perspectiva a nível nacional sobre o retorno da energia. Após 48 horas, passam a ser divulgados os detalhes por vizinhanças.
Regulação por incentivos
Durante o painel “Impactos, mitigação e recomposição de redes diante de eventos climáticos extremos”, Grant McEachran, diretor de Assuntos Regulatórios da S&C Electric Company, do Reino Unido, disse que há várias formas no mundo de se medir a resiliência nas redes, mas que as entidades de regulação de vários países têm lidado com o tema de forma semelhante.
A regulação por incentivos pode ser o caminho para ajudar no financiamento da mitigação e recomposição de redes de energia diante de eventos climáticos extremos. Trata-se de um modelo que vem sendo adotado em vários países do mundo, como forma de incentivar as empresas a investirem na resiliência das redes e a terem recursos extras para fazer esse enfrentamento.
McEachran citou o exemplo do Reino Unido e da Austrália, onde os órgãos reguladores publicaram orientações e medidas em casos de eventos extremos que afetam o setor elétrico, como a necessidade de planejamento prévio, financiamento dos investimentos em resiliência e reforço na comunicação antes, durante e depois de cada ocorrência.
“Eventos grandes não podem ser previstos, então é importante que as empresas tenham um financiamento adicional quando é preciso para responder. Tem que existir uma combinação do financiamento anterior, para o investimento em resiliência, e um financiamento quando necessário para apoiar os esforços extras das concessionárias depois dos eventos”, afirmou McEachran.
O painel também contou com a participação dos palestrantes Michael Spoor, ex-vice-presidente da Florida Power; Nivalde de Castro, coordenador do Gesel (Grupo de Estudos do Setor Elétrico/UFRJ); Walmir Freitas, da Unicamp (Universidade de Campinas); e o CEO do Grupo Energisa, Ricardo Botelho.
Arborização e previsão climática
As concessionárias de distribuição de energia elétrica precisam estar inseridas nos debates sobre cidades arborizadas e aumento da acuracidade das previsões climáticas, a fim de conciliar as infraestruturas no ambiente urbano. A conclusão é dos participantes do painel “Desafios e possibilidades para centros urbanos em eventos climáticos extremos”.
Um dos pontos levantados pela vice-presidente de Regulação, Institucional e Sustentabilidade da Neoenergia, Solange Ribeiro, é a necessidade de indicar a atuação de cada ente em momentos de crise: “Não é só o diagnóstico e o planejamento. A gente tem que ir até a questão da solução da crise. Quando a crise se estabelece, como é que entram os vários entes?”.
Rose Hofmann, sócia da Deltainfra Consultoria e consultora legislativa na Câmara dos Deputados, apontou para a necessidade de conciliação das chamadas “infraestruturas cinzas”, de concreto, com as “infraestruturas verdes”, as árvores. No seu entendimento, o momento atual é oportuno para unificar uma política nacional que trate da arborização e determine funções, com obrigações e responsabilidades.
Sérgio Brazolin, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, destacou que a função de manejo arbóreo não cabe às concessionárias, mas que elas podem investir em tecnologias, como automatização de inventários, para indicar à gestão urbana árvores que precisam de atenção. “Onde a gente pode atuar junto? No manejo preventivo. Eu tenho que fazer um plano integrado de manejo preventivo com a prefeitura”, afirmou.
Também presente no painel, o meteorologista Pedro Regoto de Souza, do Climatempo, destacou a necessidade de se investir mais em produção de dados no país a fim de aumentar a acuracidade das previsões. Isso permite um maior preparo das distribuidoras para atuarem em eventos extremos.
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