Guilherme Mendes*, da Agência iNFRA
Com os atuais contratos vigentes até 2022 e próximo de quitar a dívida de sua construção, a geradora Itaipu Binacional busca diversificar sua atuação nesta década. Uma das propostas seria a de contribuir em uma nova usina binacional, desta vez com a Bolívia.
A previsão é que seja um complexo com duas usinas hidrelétricas, no Rio Mamoré, com capacidade de até 6.000 MW, acima do município de Guajará-Mirim, em Rondônia.
O assunto foi tratado durante almoço com jornalistas na última sexta-feira (14), na sede da empresa, em Foz do Iguaçu. Ao discutir a construção, o diretor-geral brasileiro da Binacional, general Joaquim Silva e Luna, comentou: “Itaipu pode ter muito a contribuir” para o projeto. “Itaipu pode servir de referência, inclusive de relações que são construídas a longo prazo. Itaipu pode ajudar muito se for tomada esta decisão”, afirmou.
O argumento seria o de que a empresa já teria o know how na convivência com um investidor estrangeiro, que hoje é apenas a República do Paraguai. Isso seria o principal elemento necessário para que a usina no Mamoré pudesse ser bem-sucedida. “A questão financeira talvez seja a menos complexa a se fazer”, disse.
US$ 2 bi ao ano para investimentos
Dentro de três anos, a dívida de construção de Itaipu será quitada, o que irá liberar cerca de US$ 2 bilhões ao ano para investimentos – metade para o Brasil e a outra metade para o Paraguai.
O diretor técnico de Itaipu, Celso Villar Torino, calculou em aproximadamente US$ 5 bilhões o valor necessário para a construção do complexo hidrelétrico no Mamoré.
Revisão do Anexo C e Atualização Tecnológica
Mais cedo, durante comemoração pela marca de 2,7 bilhões de MWh gerados, batida na noite de sexta-feira (14), o diretor-geral brasileiro da binacional comentou sobre a revisão dos acordos para a utilização da energia elétrica entre Brasil e Paraguai, conhecida como o “Anexo C” do tratado de Itaipu.
O contrato completa 50 anos em 2023, e uma revisão está programada no seu conteúdo. Segundo Silva e Luna, o debate sobre uma nova redação do anexo contará com o apoio técnico da geradora – mas não além disso. “Itaipu é objeto desta negociação, mas não é ator de negociação”, comentou o general.
Como proprietários da usina, Brasil e Paraguai recebem 50% da produção cada. Como o Paraguai não usa todo o produto gerado pelas turbinas de Itaipu, pode vender sua parte para o Brasil.
A usina se prepara também para uma atualização tecnológica do complexo – que opera ainda por meio de cabos, relés e mostradores eletromecânicos. Segundo a geradora, as empresas pré-qualificadas ao processo de licitação podem tirar dúvidas. O certame deve ocorrer no segundo semestre de 2020, e o processo levará ao todo 14 anos para ser completado: quatro anos de comissionamento e atualização do sistema central da usina; e outros dez anos para a atualização das 20 unidades geradoras.
Alteamento de reservatório pode acontecer ainda em 2020
Uma das medidas a serem tomadas pela Itaipu Binacional envolve o aumento do nível da água no reservatório em um metro. A medida estaria em fase final de estudos pela geradora, e foi revelada pelo seu diretor técnico, Celso Villar Torino.
Segundo Torino, o aumento do reservatório seria para adequar os volumes de água recebidos de três rios paranaenses – o Tibagi, Piquiri e Ivaí – que não são represados e depositam volumes de água voláteis no reservatório. Em temporadas mais incertas, a vazão desses rios no lago de Itaipu é tão grande que é necessário acionar o vertedouro da usina. Na prática, a medida ajudaria a gerar um “volume de espera” maior e aumentaria a eficiência operacional de 97% para 99%.
Segundo técnicos de Itaipu, haveria a possibilidade de altear esse volume – hoje em 220 metros acima do nível do mar – em um metro, uma vez que o lago tem capacidade máxima de 225 metros. O que se aguarda é um estudo do possível espraiamento da água por parte da equipe de meio ambiente. A expectativa dos diretores é que o aumento do reservatório alague apenas áreas de propriedade da Itaipu, e que as mudanças necessárias seriam de baixo custo, como o aumento da comporta do vertedouro.
(*) O repórter viajou para Foz do Iguaçu (PR) a convite de Itaipu Binacional.