Debora Oliver*
Ao longo dos últimos anos, o gás natural vem consolidando seu papel como vetor fundamental da transição energética, permitindo a redução de emissões com estabilidade e segurança no fornecimento de energia. Seu uso contribui para a confiabilidade do sistema, enquanto outras fontes renováveis intermitentes, como solar e eólica, ganham cada vez mais protagonismo em nossa matriz energética.
No entanto, no Nordeste, o gás natural tem se revelado um combustível ainda mais estratégico: está se transformando em um motor para o desenvolvimento econômico e social da região. Graças à infraestrutura que viabiliza e às oportunidades que impulsiona, o gás natural se posiciona hoje como um grande catalisador da transformação regional, levando novos horizontes a diversos pontos da região.
A atuação conjunta dos governos estaduais, por meio do Consórcio Nordeste, é exemplo bem-sucedido de articulação regional que acelera o desenvolvimento a partir da expansão da infraestrutura do setor de gás. Em vez de disputarem fatias pequenas de um mercado incipiente, as distribuidoras de gás da região estão trabalhando juntas para expandir a demanda e a infraestrutura de forma integrada.
Essa visão se traduz na interiorização do gás natural. Com a penetração atual da infraestrutura de gás em apenas 1,3% da região – ainda abaixo da média nacional de 5% –, há amplo espaço para avanços. E é o entendimento dessa perspectiva que tem feito a diferença. Como disse recentemente o governador do Ceará, Elmano de Freitas, ao comentar sobre o melhor caminho para o crescimento do estado: “Acreditamos que o elemento central é levar o desenvolvimento econômico para o interior.”
E o gás tem exercido esse papel em projetos como a ampliação da rede de distribuição no sertão de Pernambuco – no polo gesseiro do Araripe –, bem como na implantação de corredores sustentáveis e rotas de abastecimento com GNV (Gás Natural Veicular) para caminhões. Em Alagoas, o município de Batalha tem se consolidado como uma rota estratégica para o desenvolvimento da infraestrutura de gás, com potencial para atrair novas indústrias e fortalecer cadeias produtivas regionais.
São todos exemplos de como essa visão integrada ganha força. Com articulação interestadual e inspiração em modelos como o projeto capixaba ES Mais+Gás, a iniciativa de integração que está sendo desenvolvida a partir do Consórcio Nordeste busca o reforço da infraestrutura logística, a redução de custos e de emissões de setores considerados difíceis de descarbonizar, como o transporte pesado. Nesse front, a adoção do GNV tem mostrado resultados concretos, com redução relevante nas emissões de CO₂, especialmente com a utilização crescente do biometano. De acordo com dados publicados pela European Biogas Association e pelo American Biogas Council, o biometano pode reduzir as emissões de CO₂ em até 80% quando comparado ao diesel.
Uma estrutura piloto que vem sendo testada para a implantação de um data center em Mossoró utiliza motogeradores a gás natural e integra um estudo mais amplo sobre soluções energéticas sustentáveis para a expansão da infraestrutura digital no interior do Rio Grande do Norte. A combinação do fornecimento de energia a partir de múltiplas fontes, como a eólica, solar e o gás, pode ser fator de desempate para atrair grandes investimentos para o país e garantir estabilidade para operações intensivas em energia com baixa emissão.
Para que esse ecossistema prospere ainda mais, é essencial a colaboração entre todos os elos do setor. O Consórcio Nordeste mostra que isso é possível. Mas é preciso assegurar segurança jurídica e regulatória. Modernizar, sim, mas com diálogo e respeito às regras.
O Nordeste já é visto hoje no Brasil como uma região líder na geração de energias renováveis. Pode ser também referência no mercado de gás natural e se tornar a região que terá as melhores oportunidades no país para abrigar grandes projetos de tecnologia e setores intensivos em consumo energético, com segurança no fornecimento e baixos índices de emissões de GEEs (Gases de Efeito Estufa) – tudo que a demanda global por cadeias produtivas focadas na redução de emissões precisa.
Com colaboração, infraestrutura e visão de futuro, o gás natural e o biometano se transformam em alavancas para o desenvolvimento socioeconômico do Nordeste, ampliando sua relevância na nova economia de baixo carbono.
*Debora Oliver é diretora-presidente de Negócios de Gás da Energisa.
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