Roberto Rockmann, colunista da Agência iNFRA*
Depois de atingir quase R$ 600 o MWh em setembro, o PLD (Preço de Liquidação de Diferenças) para a primeira semana de dezembro caiu para R$ 50/MWh com as chuvas que têm atingido as regiões Sudeste e Nordeste.
Nesse cenário – mesmo com alerta de consultores de que o período úmido pode ter sido antecipado, que os reservatórios ainda estão em níveis baixos e que as cotações poderão ter forte alta em 2022 –, algumas empresas consumidoras de energia estão esperando para contratar energia ainda mais barata no fim do mês ou início de janeiro e fevereiro, quando boa parte das chuvas de verão é esperada.
De setembro para cá, São Pedro ajudou a melhorar a situação, mas os reservatórios no Sudeste ainda estão abaixo de 20% e o setor continua usando térmicas que despacham energia a quase R$ 2.000 o MWh. Esse é um sinal de como o modelo de preços está errado.
Grosso modo, os reservatórios estão sendo esvaziados com hidrelétricas a R$ 100 o MWh, enquanto são enchidos com térmicas a mais de R$ 2.000 o MWh. A conta é paga em boa parte no mercado cativo, mas também respinga no mercado livre. Os encargos hoje são um dos problemas que os grandes consumidores têm de explicar à direção – em alguns casos superam R$ 100 o MWh.
Sem mudanças, correm-se riscos dessas flutuações bruscas de preços produzirem problemas nas comercializadoras nos próximos meses. Frise-se que o aperfeiçoamento das regras de segurança do mercado ainda é assunto em discussão desde 2019 pelo governo, CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) e ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). Há notas técnicas recentes da CCEE sobre o tema, mas sem avanços concretos.
Sem alterações nesse modelo, o risco de assistir a sustos como o vivenciado entre junho e setembro também continuará presente. Um novo modelo que precifique corretamente a água nos reservatórios das hidrelétricas é essencial.
Nos bastidores, comercializadoras já indicam para a agência reguladora a necessidade urgente de se mudar o sistema de precificação. Já publicamente a Abrace (Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia) defendeu que a CREG (Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética), agora extinta, deveria ter criado limites contra a variação de preços em contextos excepcionais.
A ajuda dos céus foi providencial, mas sem mãos humanas as disfuncionalidades continuarão criando perdas para muitos e ganhos para alguns.
*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.
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