11/06/2025 | 11h41  •  Atualização: 24/06/2025 | 10h12

CEOs apontam necessidade de regulação mais flexível e rodovias voltadas à experiência do usuário

da Agência iNFRA

A transformação das rodovias concedidas no Brasil passa por uma mudança de visão do setor, que deixa de ser apenas provedor de infraestrutura para se fortalecer como provedor de serviços. Esse foi um dos pontos levantados no evento Rodovias do Futuro, promovido pela ABCR (Melhores Rodovias do Brasil), na última semana, no painel de CEOs, que reuniu os presidentes dos principais grupos de concessionárias do país. Além disso, os executivos defenderam que a rodovia do futuro precisa ser automatizada, sustentável e segura — e a regulação precisa acompanhar esse ritmo. 

“As mudanças tecnológicas são muito mais rápidas do que a regulação consegue acompanhar. A regulação tem que ser mais flexível, pensando mais na funcionalidade, no benefício que aquela inovação vai trazer e menos na tecnologia por trás da funcionalidade”, afirmou o CEO da Arteris, Sergio Garcia. 

“A passagem regulatória é fundamental para que o setor receba de forma organizada as inúmeras soluções tecnológicas. A tecnologia precisa ter viabilidade técnica, a finalidade de beneficiar o usuário e passar pelo crivo regulatório”, reforçou o CEO do Grupo EcoRodovias, Marcello Guidotti. 

Para o CEO da Via Appia, Brendon Ramos, o cliente tem uma jornada na rodovia. Por isso, o setor deve prover serviços e uma operação mais inteligente. “A reflexão é muito mais sobre como a rodovia tem que se estruturar para atender à demanda do cliente. A rodovia com o máximo de automação possível é aquela que melhor atende”, pontuou. 

Sustentáveis, seguras e conectadas
O compromisso com práticas mais sustentáveis foi um dos pontos de convergência entre os CEOs. A necessidade de reduzir emissões, promover eficiência energética e repensar a matriz de transporte rodoviário surgiu como consenso.

Na Motiva (antiga CCR), o destaque é a meta de eliminação do dinheiro físico nas praças de pedágio até o fim de 2026. Segundo o CEO do grupo, Eduardo Camargo, atualmente a cédula física representa apenas 6% das operações da concessionária. “A praça de pedágio é uma zona de insegurança. Por isso, investir em soluções como o autoatendimento, o free flow e meios de pagamento é tão importante. O setor está vivendo uma grande transformação e precisa se reinventar”, comentou. 

O diretor-presidente do Grupo EPR, José Carlos Cassaniga, defendeu que é preciso olhar para o conjunto de dados e informações disponíveis e incentivar o regulador do futuro a desenvolver novas visões sobre segurança viária. “A tecnologia vem muito a serviço da segurança. Não tenho dúvidas de que incentivar reflexões nesse aspecto é importante para calibrar prontidão de infraestrutura e prontidão operacional. Daqui a dois anos, gostaria que pudéssemos comemorar um novo patamar de segurança viária nas nossas rodovias”, disse. 

Abordado em diversos painéis ao longo do evento, o tema conectividade teve destaque também no painel dos CEOs, na participação do CEO da TIM Brasil, Alberto Griselli. “A conectividade é um grande habilitador e facilitador para as concessionárias. O primeiro grande desafio é que os principais atores do setor trabalhem juntos para implementar a tecnologia. O segundo é resolver o problema do roaming – independente de quem constrói a infraestrutura, deixar aberta a todos os usuários”, comentou.  

De usuário a cliente
A busca do setor por uma mudança na forma de enxergar a quem presta seus serviços foi tema do painel “De usuário a cliente: redefinindo a jornada nas melhores rodovias do Brasil”. A defesa é que as empresas deixem de ver quem trafega nas rodovias concedidas como usuários e passem a tratá-los como clientes de um setor que provém serviços, segurança e conforto em uma jornada de viagem.

Segundo a diretora financeira e de Desenvolvimento de Novos Negócios da Motiva, Josiane Almeida, a nova marca do Grupo CCR é uma forma de “ressignificar o negócio e ampliar a percepção do cliente, que é o centro até do novo slogan do grupo: você nos move”.

Para o presidente da Infra S.A., Jorge Bastos, a implantação do free flow full pode reduzir custos para quem utiliza as rodovias. “Hoje estamos apenas substituindo a praça de pedágio por pórtico. Com o free flow full, a tarifa será mais barata para todos. Precisamos pensar grande. Temos condições de tornar as tarifas mais módicas para quem realmente usa a rodovia”, comentou. 

A mudança de abordagem já está em curso, inclusive nas operadoras mais novas. Segundo a diretora-executiva da EPR Sul de Minas, Erica Kawatake, o conceito de cliente exige das concessionárias uma postura ativa de escuta e resposta. “A transformação vai além do motorista. Impactamos comunidades inteiras, levamos conectividade a áreas rurais. A EPR é um grupo novo, mas com seis ativos e três mil quilômetros sob gestão. Precisamos entender qual é o perfil do cliente hoje, e essa escuta é fundamental”, afirmou. 

A secretária nacional de Transporte Rodoviário, Viviane Esse, reforçou que a maturidade regulatória permite hoje um refinamento da política de concessões, com foco na personalização dos serviços. “A política de conectividade é um exemplo. Não é só para falar com o usuário, mas para ouvir e oferecer um serviço melhor. Precisamos ser dinâmicos, ouvir, dialogar e trazer inovações para os projetos. Estamos prontos para avançar rumo às concessões inteligentes”, afirmou.

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