iNFRADebate: Inteligência Artificial e rodovias, uma nova realidade

*Luiz Eduardo Ritzmann

Com o avanço da IA (Inteligência Artificial), principalmente após o lançamento do ChatGPT, da OpenAI, muito tem se falado sobre os benefícios que a ferramenta traz às empresas no atendimento e diálogo com clientes e na maneira de interação entre pessoas e corporações pelos dispositivos eletrônicos. Na esteira de inovações nas rodovias brasileiras, como o pedágio eletrônico de passagem livre (free-flow), já em fase de testes na rodovia Rio-Santos, fica a pergunta: é possível a IA beneficiar o setor de infraestrutura rodoviária? E de que forma?

Digo que certamente vai beneficiar e muito o setor com agilidade, precisão e sistemas inteligentes de gerenciamento de dados. Imagine que você esteja dirigindo o seu carro e, devido a uma falha mecânica, ele pare no meio de uma rodovia. Em poucos minutos, sem utilizar o telefone para pedir ajuda, um veículo de apoio da concessionária estará ao seu lado para levá-lo a um local seguro. Atualmente, já é possível utilizar a IA para interpretar as imagens transmitidas pelas câmeras de monitoramento da rodovia, e assim identificar situações de risco, como um veículo no acostamento.  E ainda, de forma autônoma, a IA envia um alerta visual e sonoro ao CCO (Centro de Comando e Controle), gerando a abertura de uma ocorrência aos operadores.

O uso de IA para “assistir” o que as câmeras estão transmitindo, assim como a conectividade das centrais de controle das concessionárias a aplicativos de trânsito e veículos, já são uma realidade em algumas rodovias brasileiras. Na Régis Bittencourt, rodovia que liga São Paulo a Curitiba, a Arteris utiliza dessa tecnologia e tem registrado ótimos resultados. Parte deste processo envolveu “ensinar” a IA interpretar o que as as câmeras de monitoramento de tráfego estão transmitindo para que atuem como “olhos” auxiliares, identificando diversos tipos de ocorrências e/ou objetos.

A companhia já investiu em um parque tecnológico com mais de 12 mil dispositivos instalados ao longo de 3.200 quilômetros concedidos. O passo seguinte foi a criação de um sistema de armazenagem e gestão de dados (Data Lake) e então transformá-los em informações. Desta forma tornando a companhia apta a uma gestão estratégica baseada em informação. A otimização dos processos operacionais nas rodovias e a análise do fluxo de veículos e do comportamento dos motoristas torna então possível diminuir, por exemplo, o tempo de resposta entre o registro da ocorrência e a remoção efetiva do veículo parado, além de reduzir a exposição do usuário e de colaboradores da empresa em situações de risco envolvendo outros veículos que trafegam em alta velocidade.

As informações reais do tráfego, quando devidamente quantificadas e qualificadas, podem acender o alerta para a necessidade de instalação de um determinado dispositivo de segurança em um local estratégico. A análise destas informações pode também indicar a oportunidade de criar iniciativas ou ações específicas para orientar o comportamento de usuários.

A quantidade de frentes de gestão de companhias de grande porte, como é o caso do setor de infraestrutura rodoviária, é desafiador. A criação e o aperfeiçoamento dessas novas tecnologias permitem ampliar e fortalecer sua estratégia e visão de negócio. Importante ressaltar que estamos falando de investimentos na casa dos milhares de reais, portanto, o uso das big datas é, certamente, uma solução inovadora, que permite a criação de um banco de dados único, associado a um modelo digital em terceira dimensão, que provê informações relevantes para todo o ciclo de aplicação de recursos. Isso se torna um modelo que pode ser seguido no mercado e que, sem dúvidas, gera economia e, consequentemente, preserva a saúde financeira das empresas e acelera ainda mais o processo de desenvolvimento do país.

Daqui para frente, haverá muitas possibilidades de usar a tecnologia a favor de rodovias mais sustentáveis e conectadas. Atualmente, por exemplo, já vemos saindo do papel diferentes projetos de rodovias mais inteligentes e com estrutura para receber carros elétricos e/ou autônomos num futuro não tão distante. Há um grande espaço para expandir e oferecer uma mobilidade mais tecnológica melhorando a segurança do usuário e sua experiência ao trafegar por uma rodovia. Tecnologia é sim um componente essencial para a gestão de rodovias mais acessíveis e conectadas, e ao final garantindo um dos principais pilares, a preservação da vida.

*Luiz Eduardo Ritzmann é diretor de Tecnologia e Transformação da Arteris.
O iNFRADebate é o espaço de artigos da Agência iNFRA com opiniões de seus atores que não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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