Leila Coimbra, da Agência iNFRA
O leilão de privatização da Cepisa na quinta-feira (26) foi motivo de comemoração pelo governo. A empresa foi vendida para o grupo Equatorial, que reduzirá a tarifa em 8,5% e ainda pagará uma outorga de R$ 95 milhões ao Tesouro.
Mas também existem motivos para preocupação. E não são poucos. A Cepisa é considerada a melhor dentre as seis companhias de distribuição que a Eletrobras colocou à venda. E havia a certeza dentre os agentes do mercado – e também dentro do governo – de que haveria disputa pela empresa, o que não ocorreu. O sinal amarelo acendeu com força.
Se não houve competição pela Cepisa, o risco de não haver interesse pelas outras empresas de distribuição da estatal, que serão vendidas em 30 de agosto, é grande. Os problemas financeiros e regulatórios, além da grande necessidade de aporte de investimentos – diante de mercados consumidores não muito expressivos –, podem pesar e afastar possíveis compradores. As empresas então teriam que ser liquidadas.
Equatorial: sem concorrência, mas com deságio
A competição pela Cepisa era tão certa, segundo a expectativa geral, que a Equatorial – mesmo sendo a única empresa a dar lance no leilão – propôs deságio na tarifa e o valor da outorga bem maior do que o mínimo previsto. Se tivesse a certeza de que seria a única interessada, certamente não faria tal coisa.
Grupos importantes do setor elétrico haviam dito publicamente que analisavam a aquisição da Cepisa, dentre eles: Neoenergia, Energisa e Enel. Também era esperado o apetite eventual de alguma empresa chinesa, como a State Grid (dona da CPFL), correndo por fora e surpreendendo – assim como a indiana Sterlite surpreendeu no último leilão de transmissão, que ocorreu há menos de um mês, e acabou levando a maior parte dos lotes ofertados. Nada disso ocorreu.
Problema: excesso de oferta
O fato é que, além das seis distribuidoras da Eletrobras, existe uma ampla oferta de ativos do setor elétrico à venda. A Light, distribuidora do Rio, por exemplo. Sua controladora, a Cemig, negocia o repasse do seu controle.
A Light tirou a gigante italiana Enel da disputa pela Cepisa, certamente. Vale lembrar que a Enel comprou no mês passado a Eletropaulo, mas também é séria candidata a ser dona da distribuidora carioca, já que também é dona da antiga Cerj (que depois virou Ampla e agora é Enel), no estado do Rio, que tem uma concessão complementar à da Light, em termos geográficos.
O interesse da Enel na Cepisa vinha do fato do grupo ter ativos de energia no Ceará, estado vizinho ao Piauí.
Leilão da Cesp e outros possíveis ativos
Há também a concorrência do leilão de privatização da geradora Cesp, de São Paulo, que está agendado para o dia 2 de outubro. Vários grupos já se movimentam e analisam o ativo. Sem contar a Renova, empresa de energia eólica, que também procura um comprador.
Fora isso, existe ainda a possibilidade de empresas estatais valiosas do Sul serem vendidas em breve, como no caso da paranaense Copel; e da Celesc, de Santa Catarina. E mais: os futuros leilões de transmissão, geração, e também as 70 SPEs (Sociedades de Propósito Específico) que a Eletrobras leiloará em breve. O leque de ofertas é muitíssimo amplo. Os compradores existem, mas não são tantos.
Copel
Há um protocolo assinado entre o governo do Paraná e o BNDES para os estudos a respeito de uma futura privatização da Copel. No ano passado a estatal anunciou uma redução de R$ 545 milhões nos investimentos, por falta de capacidade do estado de tocar a empresa. Já existe, no entanto, a autorização legal para que a empresa seja vendida: em 2016, a Assembleia Legislativa aprovou um projeto de lei proposto pelo governo que autoriza a venda de ações da Copel e Sanepar.
A estatal catarinense é outro ativo que vem sendo avaliado pelos investidores: recentemente a EDP adquiriu 19,62% do capital total da Celesc e já anunciou publicamente o interesse na empresa em caso de uma futura privatização.
Neoenergia
O grupo Neoenergia, dono de distribuidoras no Nordeste (Coelba, Celpe e Cosern), que teriam sinergia com a Cepisa, não se arriscou no leilão de ontem. Era uma das apostas do mercado. Os executivos da empresa, controlada pela italiana Iberdrola, já haviam dito que, dentre as seis distribuidoras da Eletrobras, apenas a Ceal e Cepisa estavam sob análise, por terem sinergia geográfica e possuir melhores condições financeiras que as demais.
A Neoenergia perdeu recentemente a Eletropaulo para a Enel e está à procura de empresas de distribuição que possam agregar valor ao grupo. O grupo também é dono da Elektro, distribuidora do interior e parte do litoral de São Paulo.
Energisa
O grupo nacional Energisa está à procura de ativos, e também chegou a disputar a Eletropaulo com Enel e Energisa. Analistas apostavam no apetite da Energisa pela Cepisa, mas não houve oferta.
Em nota, a empresa disse que a situação financeira da distribuidora do Piauí “exigirá elevados aportes de capital”, além de muitos passivos financeiros e judiciais, e índices de qualidade de prestação do serviço muito baixos. Por isso, não se interessou pela empresa.
Risco país
Segundo um analista de mercado de energia, o xadrez de consolidação dos principais grupos do setor elétrico está a todo vapor. E cada empresa olha “cautelosamente o ativo que agregará mais valor”.
No entanto, apesar do excesso de oferta, o Brasil ainda traz problemas de instabilidade jurídica, regulatória e financeira, segundo o especialista no setor elétrico, mas que não pode se identificar por conta da política de divulgação da instituição financeira onde trabalha.
“O que se passa hoje na cabeça do investidor, especialmente de um grupo internacional, é o seguinte: como será o novo governo em relação às privatizações? Contratos poderão ser desfeitos pelo futuro governante? Dependendo de quem for eleito, como será o crescimento da economia? Quanto ficará o dólar?”.
Todas essas questões ainda são muito difíceis de responder, segundo o analista, e por conta disso, por mais barato que estejam hoje os ativos, eles poderão custar caro amanhã.