Leila Coimbra, da Agência iNFRA
A EPE (Empresa de Pesquisa Energética) deu início neste mês aos estudos socioambientais da usina hidrelétrica de Bem Querer, na bacia do Rio Branco, no município de Caracaraí, em Roraima. Com 650 MW de capacidade instalada, ela é considerada de grande porte.
Profissionais já estão em campo realizando os trabalhos de colheita de informações sobre o relevo, tipos de solos e usos da água. Em breve serão obtidos também os dados sociais e econômicos da população local, necessários para a elaboração do EIA-Rima (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental). O consórcio formado pelas empresas Walm e Biota foi contratado pela EPE para a realização dos estudos.
Reservatório do tamanho do de Belo Monte
Assim como outras hidrelétricas construídas no entorno da floresta Amazônica, Bem Querer é alvo de críticas. A principal delas é em relação ao tamanho do reservatório, cuja previsão inicial é de 560 km2 de alagamento. É uma área similar à do lago da usina de Belo Monte, no Pará, que possui 516 km2.
Para os contrários ao projeto, um reservatório desse porte é “impensável” na região. Ainda mais para uma capacidade instalada de 650 MW, enquanto Belo Monte possui 11 mil MW, dizem os críticos. Assim como em Belo Monte, a usina de Bem Querer tem comunidades indígenas na região de abrangência do seu reservatório.
Transmissão é essencial
A construção da hidrelétrica só é viável se Roraima passar a ser interligada por linhas de transmissão ao sistema elétrico nacional. Hoje é o único estado isolado do sistema. Existe um esforço dentro do governo para tornar possível a construção do linhão de Tucuruí, que interligaria a capital do estado, Boa Vista, a Manaus.
Todo o estado de Roraima tem um consumo médio de 240 MW. Assim, produção excedente de Bem Querer seria escoada para o restante do país e serviria para resolver o abastecimento de Manaus, dizem os defensores do projeto.
Os estudos de inventário hidrelétrico feitos pela EPE na bacia do Rio Branco identificaram um potencial de geração de energia hidrelétrica de 1.049 MW no local, que poderiam ser injetados no sistema elétrico nacional, transformando Roraima em um exportador de energia para o resto do país.
Transição energética em RR
Atualmente Roraima depende de importação de energia da Venezuela, que chega pela linha de Guri. Como o país vizinho passa por uma crise econômica e social, o estado vem sofrendo com blecautes.
Para resolver o desabastecimento, foi posto em execução um plano de geração exclusivamente de térmicas movidas a óleo combustível. O programa tem dado certo, e não há mais a ocorrência de interrupções.
Mas essa geração é cara, poluente, e exige um grande esforço logístico de transporte do combustível. Cabe apenas em situações emergenciais.
O contrato de compra de energia da Venezuela expira em 2021 e ainda não há uma sinalização a respeito dos governos dos dois países a respeito de sua renovação ou não.
Soluções no médio prazo
Outras soluções para garantir o abastecimento no médio prazo estão em discussão no Ministério de Minas e Energia. Dentre elas, a geração eólica e solar, com baterias modernas que armazenariam a energia dessas fontes para os períodos sem ventos e sem sol.
Neste caso, existem também os críticos deste tipo de geração, que para alguns é sem garantia porque nos momentos em que não há ventos ou radiação solar, não é produzida a energia. É chamada de geração intermitente.