Gabriel Vasconcelos, da Agência iNFRA
O aumento dos percentuais obrigatórios de biodiesel, de 14% para 15%, e etanol anidro, de 27% para 30%, nas misturas de combustíveis vendidas nos postos de abastecimento deve ter pouco ou nenhum efeito de barateamento no preço ao consumidor final, disseram à Agência iNFRA agentes do setor e analistas. Os novos mandatos entram em vigor na sexta-feira, 1° de agosto.
Esse diagnóstico vai na contramão das expectativas do MME (Ministério de Minas e Energia), que espera redução relevante na gasolina e algum desconto no diesel. E, se confirmado, tem potencial para aumentar os atritos entre o governo e as empresas da cadeia de combustíveis. O governo, inclusive o presidente Lula, tem feito reclamações públicas e oficiais, ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), sobre a falta do repasse das reduções de preço da Petrobras ao que é cobrado nos postos de abastecimento.
Um executivo de grande distribuidora estima que, com a entrada em vigor dos novos mandatos, a gasolina C, mistura vendida aos postos, assista a uma redução de preço entre R$ 0,01 e R$ 0,02 por litro. Esse desconto, afirma a fonte, pode facilmente se dissipar na precificação do varejo. No cenário atual, o barateamento da parcela de gasolina A (fóssil) seria quase totalmente compensado pelo aumento do preço da parcela de etanol anidro, insumo que vem encarecendo nas últimas semanas. Nesse caso, a queda de preço viria somente do efeito de redução do PIS/Cofins sobre o preço final.
Já no caso da mistura do diesel, em vez da queda esperada pelo governo, haveria aumento imediato de R$ 0,03 por litro, ligado diretamente à parcela maior do biodiesel, produto que segue bem mais caro que o diesel A (fóssil).
Mas, no anúncio da nova política, após a reunião do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) do dia 25 de junho em que o martelo foi batido, o secretário de Petróleo e Gás da pasta, Pietro Mendes, disse que a elevação do percentual de etanol anidro na mistura da gasolina a 30% reduziria o preço final do insumo em R$ 0,11 por litro ou mais. No caso do diesel, o MME esperava que a majoração do mandato de biodiesel para 15% da mistura reduziria o preço na bomba em R$ 0,01 por litro.
Esses cálculos levavam em conta recuos no preço dos biocombustíveis, que não se confirmaram; redução na demanda dos volumes fósseis (gasolina A e diesel A) das misturas, sobretudo importados, mas cujo “efeito preço”, dizem analistas ouvidos pela Agência iNFRA, é de difícil percepção em função da dominância dos produtos da Petrobras; e uma redução da parcela de tributos, principalmente na gasolina, o que tende a se confirmar, mas sem peso suficiente para levar a quedas relevantes ao consumidor.
O diretor da consultoria CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), Bruno Pascon, afirma que uma queda no diesel é praticamente impossível em função do grande diferencial entre os preços do biodiesel e do diesel B. “Qualquer aumento de biodiesel, com os preços de hoje, leva a um aumento no preço final do diesel nas bombas”, diz.
Segundo dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o preço médio do biodiesel praticado por produtores foi de R$ 5,44 por litro na semana de 14 a 20 de julho. Esse preço teve uma leve alta na passagem de junho para julho, mas vem caindo nos últimos meses, após um pico de R$ 6,50 por litro no fim do ano passado. Ainda assim, segue muito superior ao preço médio do diesel S-10 (fóssil), de R$ 3,63 por litro.
Tanto Pascon, quanto a analista de inteligência de mercado da StoneX, Isabela Garcia, não descartam o efeito no preço do diesel A (parte fóssil) ligado à redução automática da demanda, com potencial para eliminar do mercado uma parte do produto importado, que é mais caro e, historicamente, responde por 25% a 30% do consumo nacional. Mas isso, dizem, dependeria muito da atuação da Petrobras, que não segue à risca o preço de referência internacional e nem tem espaço técnico para reduções no momento, uma vez que já vem vendendo produtos abaixo do PPI (Preço de Paridade de Importação).
Sobre a gasolina, os especialistas apontam a perspectiva de alta dos preços do etanol anidro advindo da cana-de-açúcar, na esteira de uma oferta menor e maior pressão de demanda com o mandato maior, como principal fator mitigador de uma possível queda nos preços finais dos combustíveis.
“A perspectiva é de um mercado [de etanol anidro] mais apertado, com estoques menores que os do ano passado e demanda maior, o que tende a pressionar os preços”, diz Isabela. Segundo o Cepea da USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo), o anidro ficou acima do patamar dos R$ 3,00 por litro de janeiro a maio, experimentando queda nos últimos meses, mas ainda assim acima dos R$ 2,90 por litro em julho.








