Governo e setor estão divididos sobre necessidade de ligar térmicas

Leila Coimbra, da Agência iNFRA

O CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) reuniu-se na quarta-feira (6) e adiou por dois dias a decisão de ligar ou não usinas térmicas a gás para preservar os reservatórios das hidrelétricas. Uma sessão extraordinária do CMSE foi agendada para hoje (8).

Houve uma divisão dentro do comitê a respeito da medida. Segundo apurou a Agência iNFRA, foram contra o despacho térmico o diretor-geral do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Luiz Barata; o presidente do conselho da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), Rui Altieri; e o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético, Reive Barros.

O CMSE é presidido pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e conta ainda com as seguintes participações: um representante da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica); um representante da ANP (Agência Nacional do Petróleo); um da EPE (Empresa de Pesquisa Energética); e mais dois do MME (Ministério de Minas e Energia), que no caso são os ocupantes da Secretaria-Executiva e da Secretaria de Energia Elétrica.

Quem paga a conta?
A decisão de ligar térmicas é delicada, pois envolve bilhões de reais que mudam de bolso dependendo do que for determinado.

O modelo computacional que calcula os preços da energia ainda não deu a ordem de despachar térmicas, porque ele não olha para os reservatórios, e sim para as chuvas. Se continuar assim, sem acionar as térmicas, grande parte da conta continua no mercado regulado, das distribuidoras de energia.

Se a decisão de ligar as usinas for tomada pelo CMSE, sem que o modelo mande, parte desses custos serão pagos via ESS (encargos do serviço do sistema), que é dividido entre distribuidoras e mercado livre.

Como qualquer conta no setor elétrico envolve facilmente a casa de bilhões de reais, o setor também está dividido: tem gente que acha que as usinas a gás já deveriam estar operando, e há quem diga que é melhor esperar.

Risco de escassez de energia?
Na quarta-feira (6), após o comunicado oficial do CMSE, houve quem alertasse para o risco de levar os reservatórios ao limite sem a geração térmica, o que poderia provocar, em caso extremo, um racionamento de energia para que os volumes d’água se recuperem.

“Foi assim que ocorreu em 2001 [quando a população e a indústria foram obrigados a reduzir em 20% seu consumo de energia], já vimos esse filme”, disse uma fonte.

O comunicado oficial divulgado pelo MME na quarta (6), após a reunião, afirma que o suprimento de eletricidade está garantido pois “as previsões meteorológicas apontam para ocorrências de chuvas nos próximos dias”.

Mas o mesmo comunicado faz ressalvas: “Em janeiro de 2019 predominou no país cenário de pouca chuva, especialmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Como consequência, em termos de Energia Natural Afluente – ENA bruta, foram verificados valores abaixo da média histórica em todos os subsistemas. As previsões para os próximos dias indicam o aumento das precipitações, porém o solo permanece seco e a resposta em termos de vazão dependerá da permanência da ocorrência de chuvas”.

Pior armazenamento de água da história?
Fontes do setor disseram que os níveis de armazenamento de água nos lagos das hidrelétricas no mês de janeiro foram os piores de toda a série histórica, monitorada há 88 anos.

Segundo o CMSE, no mês de janeiro foram verificados armazenamentos equivalentes de 26,5%, 44,5%, 42,1% e 30,6% nos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste, Sul, Nordeste e Norte, respectivamente.

Mas, segundo o comunicado, existem perspectivas de melhora do cenário em fevereiro: de 27,9% no SE/CO; 45,8% no Norte, 41,4% no Sul e 40,9% no Nordeste.

Para um técnico do setor, “essa melhora é irrisória, e há risco de se caminhar para a pior série histórica de todos os tempos”.

“Não sei se na longa série histórica já aconteceu um mês de janeiro tão seco quanto o último, o que assusta muito. Tem chovido um pouco mais neste início de fevereiro, mas ainda longe de recuperar o que foi perdido em janeiro. O mais grave é que a carga tem subido mais do que se esperava, o que tende a dificultar mais ainda a solução do problema”, diz Edvaldo Santana, executivo da Electra Energy.

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