Andréa Shad, para a Agência iNFRA, do Rio de Janeiro
A geração eólica continua liderando os financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) na área de energia. No biênio 2017/18, os desembolsos chegaram a R$ 10,78 bilhões, alta de 13% ante 2016/15 (R$ 9,53 bilhões). O destaque, no entanto, é para o segmento de transmissão, que deu um salto de 137% no mesmo período, passando de R$ 4,28 bilhões para R$ 10,15 bilhões.
Por outro lado, no mesmo período, os créditos para hidrelétricas despencaram 85%, de R$ 8,67 bilhões para R$ 1,26 bilhão E os para distribuição caíram 37%, de R$ 5,92 bilhões para R$ 3,73 bilhões.
Térmicas
Os desembolsos do BNDES para termelétricas cresceram 174%, um percentual alto, mas em termos de volume financeiro, o total ainda é baixo comparado a outras fontes: R$ 630 milhões em 2017/18 ante R$ 230 milhões no biênio anterior. Já no setor de PHC (pequenas centrais hidrelétricas), os financiamentos caíram 10%, de R$ 820 milhões em 2015/16 para R$ 730 milhões no biênio seguinte.
Carla Primavera: mudança de perfil
Houve uma mudança de perfil, segundo a superintendente da área de energia do banco, Carla Primavera. Os financiamentos em hidrelétricas costumavam ser bem mais fortes em 2008 e foram decrescendo ao longo dos anos, devido ao menor número de investimentos licitados. No ano passado, o BNDES fez o último grande desembolso em hidrelétrica.
“Mas em relação à geração de energia, começamos a fazer um trabalho de não só financiar projetos que tenham venda de energia no mercado regulado, mas também que vendam no mercado livre”, explica Carla.
R$ 64 bilhões e 13 GW
A energia eólica tem sido a principal matriz renovável apoiada pelo BNDES, que já financiou 13GW, com investimentos de R$ 64 bilhões. Mas agora, o banco de fomento está focando bastante em biomassa, solar e energia híbrida (eólica e solar).
“A discussão é mais regulatória, pra depois apoiar o investimento de projetos híbridos: vento com sol e híbrido que considere armazenamento de energia (baterias)”, afirma Carla. É preciso definir como regulamentar o parque híbrido em relação ao eólico, que já vende energia no mercado regulado.
“A expectativa de desembolso total pra 2019 é que fique próximo ao de 2018, com menos hidrelétrica e maior presença do eólico no mercado livre”, prevê Carla. Em 2017/2018, a energia solar começou a se destacar e recebeu financiamento pela primeira vez: R$ 1,06 bilhão.
Mercado Livre
A expansão do mercado livre de energia é outro esforço da agenda do setor. Segundo Carla, as instituições financeiras já estão acostumadas a financiar projetos de geração no mercado regulado, o que não existe no livre: “O BNDES tem papel importante de criar ambiente de financiamento para essas áreas de mercado livre”.
No ano passado, foi lançado o preço de referência para o mercado livre estruturar financiamento de projetos de longo prazo. Hoje há 13 projetos em análise, com capacidade de 2,7 GW, sendo 818 MW de energia eólica e o restante de solar.
O BNDES apoiou o primeiro projeto de parque eólico do país, em Osório, no RS, em 2005. Hoje, a maioria dos parques está no Nordeste. Dos dez maiores produtores de energia eólica do país, oito estão no NE e dois, no Sul, segundo a ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica). E no Sudeste, o banco apoia um parque pequeno, em Minas Gerais.
Carla acredita que há a necessidade de reforçar o investimento em energia eólica, hoje centralizada no Nordeste, para atingir o Sudeste, região com maior demanda. Sobre a energia solar, o banco já apoia projetos de grande escala em Minas Gerais e no Rio Grande do Norte, que totalizam R$ 2,8 bi de investimentos, com capacidade de 500 MW.
Meio Ambiente e Green Bonds
“O investimento em energia renovável traz um orgulho pelo apelo ambiental grande, que contribui pra amenizar a questão climática”, defende a superintendente do BNDES.
Com essa carteira, o banco pôde também captar no mercado externo. O BNDES foi a primeira instituição financeira brasileira a emitir green bonds (títulos verdes) no mercado internacional em 2017, na Bolsa de Luxemburgo, vinculados a oito complexos eólicos, com 1,3 GW, que devem evitar a emissão de 421,6 toneladas de CO2. A carteira eólica atrai não só investidores tradicionais brasileiros, mas também fundos internacionais, como canadenses e americanos.
Autossustentável
O financiamento é baseado na capacidade de o projeto gerar receita. Não é um olhar de custo. O projeto vende energia no mercado regulado e vai receber receita por 20 anos. O modelo de financiamento é de projeto autossustentável. Não depende que um garantidor aporte dinheiro pra pagar a dívida. O banco só empresta referente ao que o projeto tem capacidade de devolver.
Quando o eólico começou, os financiamentos tinham um diferencial no spread básico. Hoje, o segmento se estabeleceu, tem cadeia produtiva e não precisa mais dessa vantagem.
“O segmento solar que ainda não percorreu a trajetória do eólico, precisa de mais estímulo. A carteira é bem inicial e não vai crescer só na geração descentralizada, vai crescer também na distribuída e vai percorrer a trajetória da eólica”, prevê Carla.
Privatizações
O BNDES acompanha a discussão do debate no mercado sobre a potencialidade que o gás pode trazer para a economia e formou um grupo envolvendo várias áreas. Um dos estudos, segundo Carla, é sobre o uso do gás como combustível para caminhões e ônibus.
O potencial de desestatização de empresas estaduais de energia e gás é outra área de estudo. Esse tipo de conversa tem sido liderada pelo presidente do BNDES, Joaquim Levy, com governadores. Mas a liberação desses financiamentos depende da definição das privatizações.