Ivan Pereira*
As PPPs (Parcerias Público-Privadas) colhem os frutos de um momento de expansão até então inédito no Brasil. No primeiro semestre deste ano, foram contratados R$ 82 bilhões em projetos de PPP, consolidando o modelo como um instrumento estratégico de desenvolvimento. Vale destacar o setor educacional, que teve um crescimento vertiginoso no número de iniciativas. O volume de novas PPPs focadas em escolas e creches saltou de 12 em 2023 para 91 em 2024, ultrapassando a marca de 150 projetos atualmente.
Para os próximos dois anos, a projeção é de que esse número de contratos de PPPs em educação triplique, sendo impulsionado pelo apoio de órgãos estruturadores como Caixa Econômica Federal e BNDES, que financiam diversos projetos. Em São Paulo, por exemplo, a “PPP Novas Escolas” deve ganhar ainda mais escala nos próximos meses, com a concessão da gestão de outras 143 escolas, com investimento estimado em R$ 1,7 bilhão. No governo paulista, a meta chega a 5,5 mil unidades escolares, conforme sinalizado pela Companhia Paulista de Parcerias.
Mas, apesar da euforia com a expansão e a eficiência, a pergunta que se impõe é clara: qual o próximo desafio das PPPs de educação? Se o primeiro (e atual) ciclo está voltado a resolver gargalos de infraestrutura e gestão, o segundo deve mirar mais alto: conseguir cobrir a lacuna de aprendizagem urgente do Brasil.
Não basta construir ou modernizar escolas em tempo recorde com gestão profissionalizada. É essencial pararmos para refletir: os alunos estão, de fato, aprendendo mais e melhor? Estamos preparando-os para um mundo com IA? Estão passando pelo letramento humano, munindo-os das competências socioemocionais – como resiliência, empatia, autocontrole e pensamento crítico – que serão cada vez mais relevantes num mundo automatizado e digital?
Aqui entra um ponto crucial: as PPPs não devem substituir o papel pedagógico dos professores, mas sim ser capaz de apoiá-los. Para fortalecer a relação com a comunidade escolar, é preciso que os contratos de PPP incorporem indicadores de aprendizagem, indo além do tijolo e cimento e, de fato, dividindo a responsabilidade pelo impacto finalístico. Isso não significa invadir a sala de aula, mas oferecer ferramentas, materiais de apoio e programas de valorização que deem condições reais para que educadores exerçam sua função no mais alto nível.
Ao mesmo tempo, esse movimento vai liberar gestores públicos para focarem em políticas pedagógicas, enquanto a infraestrutura e os serviços de apoio ficam sob gestão especializada. Democratiza-se, assim, o acesso a escolas de qualidade, mas também se fortalece o ecossistema educacional, onde cada ator tem clareza de seu papel.
A inclusão de métricas qualitativas nesses modelos contratuais é urgente. Hoje, já poderíamos incluir indicadores como o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), combinados a parâmetros de desenvolvimento socioemocional que estão na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), mas ainda não são medidos na Prova Brasil. Essa soma traduz com mais profundidade o valor gerado, ao mostrar não apenas eficiência na entrega, mas evolução concreta no aprendizado e no desenvolvimento humano dos estudantes.
Em outras palavras, o sucesso de uma PPP não pode ser medido apenas por ganhos de eficiência administrativa e financeira. Ele precisa ser complementado pelo impacto na construção do futuro do país, no desenvolvimento dos alunos. Isso passa por metas claras de aprendizagem, mecanismos de avaliação contínua e, sobretudo, pelo fortalecimento da figura do professor – que deve ser protagonista do processo, com as PPPs atuando como parceiras estratégicas.
Se as PPPs vão mesmo se consolidar como instrumento transformador, precisam expandir seu alcance para além do tijolo e da gestão predial. Devem colaborar com a construção de um futuro melhor para o país, onde infraestrutura de qualidade se combina com desenvolvimento integral dos alunos e valorização dos educadores.
É assim que transformaremos as PPPs de educação em um verdadeiro motor de inovação social, gerando um ciclo virtuoso de aprendizagem, desenvolvimento humano e impacto socioeducacional. Esse é o futuro que merecem nossas crianças e jovens. Esse é o próximo passo para a educação brasileira.
*Ivan Pereira é especialista em educação e CEO da Mind Lab.
As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.





