Roberto Rockmann, colunista da Agência iNFRA*
Alguns números circularam no governo e entre executivos na última semana. Se a demanda por energia elétrica crescer 3% em 2021, o risco de racionamento é de 14%. Se crescer 8% ao ano, o risco é 20%. Esses números são válidos, se o governo não fizer nada. Se a CREG (Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética) atuar bem, esses riscos zeram. A chance de estresse e problemas é de cerca de 40%.
Boa parte da atuação do governo depende da gestão hídrica, um tema que ainda deve render muita dor de cabeça. Nas últimas semanas, a vazão de alguns reservatórios, como da usina de Porto Primavera, tem sido reduzida. Poupar água para produzir energia elétrica causa impactos sobre turismo, irrigação, indústrias e hidrovias.
A bancada de Minas Gerais já tem manifestado insatisfação em relação às medidas para os reservatórios de Furnas. Em São Paulo, parlamentares começam a discutir o impacto sobre a Hidrovia Tietê-Paraná. No plano nacional, o tema pode trazer divergências entre o Ministério da Economia e do Desenvolvimento Regional. A mortandade de peixes pode criar um flanco entre ambientalistas.
Consumo “bombando”
Outro ponto é a demanda. Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, comemorou que o consumo de energia está “bombando”. Dados da CCEE apontam um aumento de 19,2% no mercado livre no primeiro semestre. Já no mercado regulado, o consumo avançou 2,5%.
O programa de redução voluntária ainda está cercado de dúvidas. Na última sexta-feira (16), fabricantes de máquinas e equipamentos buscavam marcar reunião entre eles para elaborar sugestões. Como a economia cresce mais que o esperado e o ciclo das commodities está em pico histórico, deslocar a produção sairá caro.
O senso de urgência perdeu alguns graus nas últimas semanas, o que faz recordar de uma história ocorrida em janeiro de 2008, quando o risco de racionamento superava 30%. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou uma reunião de emergência e mandou até a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, voltar de férias.
Enquanto a maioria dos participantes dizia que não havia preocupação, o diretor-geral da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), Jerson Kelman, fez questão de ressaltar que o risco era muito acima do normal. Lula não se mexeu da cadeira.
Riscos nos governos Lula e FHC
A princípio, Kelman achou que o presidente não tinha entendido, mas depois a ficha caiu. “Um líder fez um zilhão de apostas ao longo da vida em que a probabilidade de ganhar era baixa – e ele ganhou. Com 70% de probabilidade de dar certo, ele achou um exagero. No caso dele deu certo, no do Fernando Henrique, errado.”
Qual lado da moeda cairá para o presidente Jair Bolsonaro?