COP 28: nos posicionamos, agora precisamos agir

Elbia Gannoum*

Escrevo este artigo com a cabeça fervilhando diante de tudo que aconteceu em Dubai, onde pude acompanhar uma sinalização, ainda que tímida, de redução do uso de combustíveis fósseis. Resultado esperado, uma vez que estamos no país do petróleo cujo presidente da COP é também CEO de uma petroleira e onde o petróleo é responsável pela receita de mais de 60% dos países signatários da COP. Entende-se ser este um instrumento de poder muito grande para abrir mão em uma única assinatura. Mas tivemos avanços se olharmos o histórico. Vemos que, pela primeira vez em 31 anos, saiu algo escrito sobre a transição para a redução gradativa dos combustíveis fósseis, ao mesmo tempo que houve a consagração da meta de redução do aquecimento do planeta em 1,5 C.

Como ponto positivo, tivemos uma grata surpresa logo no começo das discussões. Cinco horas após o início da conferência, ouvimos o anúncio de recursos para perdas e danos, pauta esta que ficou travada nas duas últimas edições e que agora registra a sinalização dos países desenvolvidos para enviar recursos aos países em desenvolvimento como compensação por danos causados a partir do aquecimento global. De lá para cá, as discussões giraram em torno do estoque de carbono e como reduzir emissões.

Dentro das plenárias sobre a matriz econômica global, participei de 12 painéis onde pude discorrer sobre economia de baixo carbono e o futuro da sociedade na neo economia. Este é o cenário da política industrial, cujo Brasil tem claro protagonismo, e para o qual acompanho e trabalho, para a promoção do país como provedor de soluções de energia renovável. Estamos em um país capaz de atrair investimentos, indústrias e cadeias produtivas para a produção de bens e serviços descarbonizados. Neste aspecto, avançamos bastante e ficou claro que este novo modelo está fundamentado na energia. E não só isso, o Brasil tem toda uma possibilidade de apresentar soluções baseadas na natureza, quando olhamos para a Amazonia, bioeconomia, o agronegócio. Estamos bem posicionados.

Acompanho a COP desde 2014 e fico feliz em dizer que se tratou da melhor edição. Na COP 27, o GWEC (Global Wind Energy Council) e a IRENA (Agência Internacional para as Energias Renováveis) lançaram uma aliança global para investimentos em energia eólica offshore, fonte que é entendida como uma das grandes ferramentas na luta contra o aquecimento global devido à sua gigante capacidade de geração de eletricidade com baixíssimo impacto. Hoje, um ano depois, vimos o Brasil assinar sua adesão, mostrando sua abertura para o desenvolvimento da matriz energética limpa e renovável.

Olhando especificamente do ponto de vista das energias renováveis, a COP 28 seguiu o script das demais: traçar o caminho para atingir as metas de descarbonização passa pela transição energética por meio de fontes de baixo impacto ambiental. A diferença deste ano está na jornada. Em 2022, falamos sobre a preocupação com a velocidade dessa transformação. Falávamos em estruturar políticas de energias renováveis e criar ambiente adequado para investimentos no setor.  

Em 2023, chegamos à COP como a maior delegação do mundo, com 1.337 pessoas, do presidente Lula e seus ministérios às instituições governamentais, ONGs e classe empresarial. Trouxemos resultados em eficiência energética e produção de energia limpa, mostramos nosso potencial para novas tecnologias e que estamos preparados para atrair investidores ao Brasil, com o objetivo de financiar a transição energética justa.

Tivemos muitos marcos para compartilhar nessa Conferência. Chegamos ao final de 2023 com 30 GW de capacidade instalada de energia eólica. Ultrapassamos a marca de mil parques eólicos no Brasil e quase 11 mil aerogeradores em operação. Avançamos com a aprovação do marco legal do hidrogênio na Câmara, com o projeto de lei para eólica offshore e com a regulamentação para o mercado de carbono brasileiro. Estamos buscando a velocidade apontada na COP 27 como essencial para a transição e a descarbonização.

Nesta COP 28, chegamos como protagonistas. Saímos da discussão sobre como fazer e caminhamos no sentido de tornar efetiva toda a nossa potencialidade. Pensando no conceito de neoindustrialização, de transição da economia para baixo carbono e aproveitando dos recursos renováveis, não só interno, mas oferecendo ao mundo essa produção de energias renováveis como elétrica e biocombustíveis.

Volto para casa com essa missão para desenvolver ações dentro da ABEEólica e GWEC e também como integrante do grupo de trabalho para transição energética do conselhão do Lula. O objetivo é chegar à COP 30, no Brasil, ainda mais fortes e imprescindíveis nesta transformação global com a tarefa de casa já bastante avançada. Nosso trabalho é urgente! Mostramos o esforço do Congresso em aprovar medidas de incentivo ao hidrogênio verde e eólicas offshore, agora a Brasil não pode perder o ritmo. Temos que aprovar esses projetos de lei em definitivo, além de seguir com o mercado de carbono e de combustíveis do futuro. É a nossa vez, a hora é agora e 2024 teremos uma COP ainda mais favorável para o Brasil.

*Elbia Gannoum é presidente executiva da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), vice-presidente do GWEC (Conselho Global de Energia Eólica) e conselheira do CDESS (Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável).
As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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