Roberto Rockmann, colunista da Agência iNFRA*
A crise energética global e a disrupção em algumas cadeias de valor mundiais já trazem impactos para o setor elétrico brasileiro. Os principais efeitos se dão sobre o setor solar e de gás natural.
Com grande parte dos equipamentos importados da China, o setor solar brasileiro já começa a sofrer com câmbio elevado, aumento de custos e ameaça de desabastecimento de equipamentos, com algumas fábricas chinesas operando agora apenas meio período.
Há preocupação de que o mercado brasileiro não seja priorizado nesse momento. Distribuidoras já notificaram nas últimas semanas aumentos de 15% a 20% nos preços para empresas no Brasil.
A expectativa é de que a normalização na cadeia produtiva não seja atingida antes de março de 2022. Isso pode ter impacto sobre o andamento de projetos previstos para entrar em operação nos próximos meses. Também pode levar à mortalidade de empreendimentos. Empresas que estejam muito expostas ao setor serão olhadas com lupa pelos analistas.
O contexto levou uma empresa a suspender por ora um projeto de parque centralizado solar para autoprodução que seria erguido no Nordeste. Além do fornecimento na China, o receio é grande sobre como ficará a taxa de câmbio nos próximos meses.
Mais ruídos sobre a política fiscal poderão levá-la acima de R$ 6, o que poderá ter um impacto ainda mais negativo sobre o setor solar. No setor eólico, a pressão é menor, uma vez que 80% da cadeia estão no Brasil, mas pode haver reajustes de preços de equipamentos.
O inverno está chegando ao hemisfério norte. A pressão sobre os preços do gás natural poderá ser ainda mais elevada no mundo. Cenário que poderá perdurar por longos meses. O barril do petróleo subiu mais de 15% nos últimos dois meses, enquanto o dólar aumentou mais de 10%.
Em dezembro, grandes consumidores esperam alta de preços em alguns mercados, como o de São Paulo. Adiciona-se outro ingrediente: no último mês do ano, expiram contratos de distribuidoras do Nordeste e de São Paulo com a Petrobras.
Grandes consumidores estão receosos com a renegociação, que ocorre em um momento de tensão mundial nos preços do insumo e em que o GNL (gás natural liquefeito) também bate recordes.