Dimmi Amora
Uma das maiores empresas ferroviárias do mundo, a estatal DB (Deutsche Bahn) firmou parceria para desenvolver e operar uma ferrovia privada no Brasil, cujo projeto é ligar a Ferrovia Norte-Sul ao porto privado de Alcântara, no Maranhão, também em desenvolvimento.
A DB se uniu à GPM (Grão-Pará Multimodal), empresa do grupo português que tem as autorizações emitidas pelo governo federal tanto para a ferrovia como para o porto, e à consultoria ferroviária Sysfer no negócio que é estimado na casa dos R$ 20 bilhões (se somados os dois projetos), com estimativa de início em 2024, após o licenciamento, e operação a partir de 2028.
A Embaixada da Alemanha no Brasil pediu e recebeu informações sobre o projeto para que ele faça parte das conversas que o primeiro-ministro do país, Olaf Scholz, terá com o presidente Lula em sua visita ao Brasil nesta semana.
O Terminal Portuário de Alcântara é um projeto que pretende implantar um novo porto na Baía de São Marcos, em frente aos portos na cidade de São Luís (MA), mas com calado estimado em 25 metros, muito superior ao dos portos onde hoje são operados os navios que recebem carga que chega da EFC (Estrada de Ferro Carajás).
O complexo portuário está sendo desenhado para atender a diferentes tipos de cargas, em modelo de consórcio, como granéis minerais e vegetais, cargas de projeto (para atender à base espacial na mesma cidade), fertilizantes, contêineres e também combustíveis, especialmente a produção do chamado “hidrogênio verde”, com potencial para exportação.
O projeto inicial já tinha a previsão de uma ferrovia que seria uma espécie de desvio da EFC para atender ao porto de Alcântara. Mas, com a edição do Novo Marco de Ferrovias, em 2021, a GPM pleiteou e obteve a licença para construir e operar uma ferrovia privada que amplia o desvio da EFC até a FNS (Ferrovia Norte-Sul).
Conversas desde 2022
A parceria começou a se concretizar no ano passado, dentro da área internacional da companhia alemã, que já tem operações no Brasil na área de projetos de engenharia e estudos. Em entrevista para a Agência iNFRA, Peter Mirow, diretor-executivo da DB no Brasil, disse que o projeto chamou a atenção desde o início, pelo fato da empresa ter trabalhado na EFC e constatado as dificuldades que a ferrovia tem para ampliar a sua capacidade, o que acaba por restringir o uso da FNS.
Outro tema que chamou a atenção da empresa, segundo Mirow, foram os cuidados sócio-ambientais dos projetos da ferrovia e do porto e também as possibilidades que ele tem de desenvolver a área de energia, com proximidade com a Europa.
“A gente acredita que esse projeto é inclusivo, abre oportunidades para outros países que também vão se beneficiar em ter à disposição um corredor logístico que não só reduz custos, mas faz isso de uma forma que contribui para conservar o meio ambiente, com acesso a mercados de commodities minerais, agrícolas e de energia limpa”, disse Mirow.
“Open access”
A DB vai participar na elaboração dos projetos de engenharia para a implementação da ferrovia, segundo Mirow, já trabalhando com a intenção de operar o sistema com as tecnologias usadas pela empresa. A ferrovia está sendo desenvolvida no modelo “open access”. Mas a parceria não para nesse ponto.
Segundo Mirow, o projeto tem incentivo da matriz da DB e a ideia é agregar outros parceiros da empresa no mundo para que tragam seus projetos tanto para a ferrovia como para o porto. E também apoiar na estruturação e desenvolvimento dos contratos de garantia de carga, que serão fundamentais para lastrear o financiamento do projeto, que ele confia que possa ser inteiramente privado e com apoio internacional.
“[Financiamentos desse tipo] precisam da segurança jurídica do país, o apoio institucional e também de parceiros fortes, com um projeto saudável e robusto. Nós, como desenvolvedores, conseguimos atender a todas as etapas do ciclo de desenvolvimento. Isso dá o conforto que os investidores e parceiros precisam para participar de um projeto desse”, afirmou o diretor-executivo.