Dimmi Amora, da Agência iNFRA
Depois de praticamente uma década de marasmo, o mercado de concessões de rodovias começou a se movimentar mais fortemente desde o ano passado, com novos atores se fortalecendo e ampliando sua carteira de projetos.
Numa década marcada por poucos projetos levados a mercado e na ressaca da Operação Lava Jato, a CCR e a Ecorodovias, grupos originários de grandes construtoras, se consolidaram como as maiores concessionárias de rodovias do país, levando praticamente todos os leilões de maior relevância entre 2015 e 2022.
Mas, nos dois últimos anos, viram surgir concorrentes que avançam fortemente sobre esse mercado, que tende a crescer no futuro com um grande volume de projetos federais e de estados em estudos no momento. Só o governo federal promete mais de 30 concessões rodoviárias até 2026, média de mais de 10 ano ano, quando historicamente a média é de menos de duas ao ano.
Nos dois leilões mais recentes de rodovias federais, a EPR – sociedade entre a tradicional construtora Equipav e o fundo de investimentos Pefin – levou um dos lotes de rodovias do Paraná e a BR-040/MG. Com esses dois projetos, que somam pouco mais de 800 quilômetros, e os 1,5 mil quilômetros de três concessões estaduais em Minas Gerais vencidas a partir de 2020, a empresa passa a ter em extensão pouco mais de 10% do mercado nacional. Só nas concessões federais, será responsável por um capex de mais de R$ 15 bilhões.
Maior de São Paulo quer a Rondon
No ano passado, após ganhar o projeto do Rodoanel Norte em São Paulo, com R$ 3,4 bilhões de capex, o fundo de investimentos Starboard criou a Via Appia para gerir as concessões de rodovias. No mesmo ano, adquiriu no mercado as três concessionárias da AB Concessões, que pertenciam aos grupos Bertin (Brasil) e Atlantia (Itália), em São Paulo (Colinas, Nascentes e Tietê).
Este ano, iniciou negociações para adquirir a Via Rondon, do grupo BR Vias Holding. Caso essa negociação, ainda tratada em sigilo, se consolide, a Via Appia se tornará o maior concessionário de rodovias estaduais de São Paulo.
Melhor estruturação e regulação
Analistas ouvidos pela Agência iNFRA indicam que um dos fatores mais relevantes a trazer novos entrantes para o mercado foi a melhoria contínua nos últimos anos da estruturação dos projetos e da regulação por parte das agências, especialmente na área federal, mas também nos estados.
José Carlos Cassaniga, diretor-presidente da EPR, corrobora a tese da melhoria como fundamental para o desenvolvimento desse mercado e acrescenta também a melhoria na segurança jurídica como necessária para esse consolidação.
“Entendemos que [com esses fatores] todos os interessados possam olhar para esse pipeline, que não é pequeno. É grande e com concentração importante a partir de 2024”, disse o diretor-presidente da empresa.
Dificuldades para projetos grandes
Apesar dos novos entrantes, o fato é que os leilões seguiram com baixa número de competidores em cada disputa até o ano passado. A indicação é que isso se deve ao tamanho do capex dos projetos, especialmente na área federal, o que ainda leva a dificuldade de entrada. O motivo principal: continua não sendo fácil financiar grandes volumes de investimentos.
Mesmo com promessas de novos modelos de financiamento se repetindo ano a ano, o fato é que o grosso dos empréstimos ainda precisa de garantias corporativas, o que reduz muito as possibilidades para empresas de menor porte. Cassaniga, no entanto, avalia que a melhora na estruturação também ajudou nesse ponto, tornando os projetos melhor financiáveis.
Além disso, os juros altos nos últimos anos também não ajudam a quem precisa fazer grandes investimentos, o que leva a necessidade de aumento das taxas de retorno, algo que os concedentes tentam segurar ao máximo para evitar tarifas elevadas ou volume de investimentos baixos, mas que fez em alguns casos resultarem em leilões sem interessados.
Carteira ousada
Já nos projetos estaduais, a tendência segue deles serem o caminho de entrada para novos playeres. O mais recente projeto de concessão em São Paulo, o Lote Litoral, teve como vencedor um consórcio liderado pela CBI (Companhia Brasileira de Infraestrutura), que vai estrear como concessionária no setor, mas com longa experiência nas áreas de construção, montagem industrial e outras.
José Cassaniga, da EPR, lembra que a carteira de projetos para os próximos anos é ousada, não somente na área federal. Por isso, para ele, será preciso ampliar o mercado. No caso da EPR, o diretor-presidente garante que a empresa segue interessada em novos projetos, mas preservando a disciplina, sempre com uma estruturação prévia de capital para cada projeto.
Interesse público
Cassaniga lembra ainda que a carteira federal vai depender dos processos de repactuação em andamento. Ele diz que o esforço tem sido grande para solucionar os problemas dos contratos e que será preciso, para isso, demonstrar que o interesse público será bem sucedido.
As repactuações, que não devem ser feitas para todas as 14 concessões federais que apresentaram a solicitação nos Ministério dos Transportes, devido a impeditivos nas negociações, podem gerar um processo competitivo privado para algumas delas, o que também é aguardado pelo mercado com expectativa de que possa gerar novos movimentos.