Roberto Rockmann, colunista da Agência iNFRA*
A Casa dos Ventos, com 11 GW de projetos eólicos desenvolvidos e 1,54 GW em operação ou construção, está analisando a possibilidade de comprar áreas em portos no Ceará, Pernambuco e Bahia, de olho no desenvolvimento do mercado de exportação de hidrogênio verde nesta década. A decisão é um sinal de como essa nova fronteira do setor elétrico já movimenta o setor e cria oportunidades de integração das operações.
“Estamos de olho, mapeando as oportunidades e em seis meses esperamos ter mais definições”, diz o diretor de desenvolvimento de novos negócios, Lucas Araripe. A Casa dos Ventos é grande fornecedora de grandes multinacionais, que estão buscando descarbonizar suas operações. “O leilão que a Alemanha deve fazer em 2022 deve começar a abrir esse mercado mundial. Estamos atentos à questão da certificação, ela poderá ditar a velocidade da evolução do mercado.”
A certificação é que demonstrará que a origem da energia elétrica é renovável. Não à toa o Instituto Totum, emissor local de certificados de origem renovável, está de olho no assunto. O diretor, Fernando Lopes, embarca em breve para a Europa para discutir o tema, que tem levado os organismos de certificação a analisarem o assunto.
A Casa dos Ventos, que trabalha no desenvolvimento de mais de 1 GW de parques eólicos no Nordeste, está também já estudando investimento em usinas solares ao lado de um projeto eólico na Bahia. Os ventos lá são mais fortes durante a noite. Os parques híbridos são um hedge físico diante do PLD Horário. A regulação dos parques híbridos está em análise pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica).
O porto de Pecém tem liderado as intenções de investimento em hidrogênio verde, com mais de US$ 5 bilhões em investimentos que podem sair do papel. O governo do Rio de Janeiro também se mobiliza para que o porto de Açu se torne o principal hub energético no Sudeste.
Há ainda incertezas sobre o desenvolvimento. Um estudo feito pela Irena (Agência Internacional de Energias Renováveis, em português), no ano passado, mostrou que o custo atual do hidrogênio verde pode cair de cerca de US$ 6 por quilo para US$ 1 a US$ 2 por quilo na década de 2030. Como hoje o verde é mais do que o dobro do hidrogênio cinza, países europeus têm discutido leilões com subsídios, caso da Alemanha. “O problema aqui é de onde vem o dinheiro, pois o Brasil não tem como subsidiar”, observa Luiz Barroso, presidente da PSR.
“Nós estamos comemorando um programa de hidrogênio verde no Brasil, mas ninguém fala que as eólicas e solares que geram energia precisam de termelétricas a gás natural, então é preciso ter cuidado para não desenvolvermos um hidrogênio marrom”, disse o presidente da Abrace (Associação Brasileira dos Grandes Consumidores), Paulo Pedrosa, em recente evento.