Guilherme Mendes, da Agência iNFRA
O PLD (Preço de Liquidação de Diferenças) baixo em 2020 levará a um aumento da despesa na Coner (Conta de Energia de Reserva), dos planejados R$ 1,2 bilhão no início do ano para R$ 4,3 bilhões, na avaliação mais otimista com o cenário de pandemia. A informação foi dada pelo presidente do conselho da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), Rui Altieri, durante conferência organizada virtualmente pelo banco de investimentos ABC.
A CCEE é a responsável pela gerência da conta e, segundo Altieri, terá de arrecadar recursos a partir de maio, para fazer frente ao pagamento das geradoras. “Não está nas tarifa das distribuidoras esse montante”, apontou. “O reajuste nas revisões que a ANEEL fez ao longo desse período considerou este valor de R$ 1,2 bilhão. E isso vai dar um impacto no caixa das distribuidoras e dos consumidores livres que pagam este encargo.”
“Qual vai ser esse montante o pessoal [da CCEE] está fechando, mas vai ser da ordem de R$ 300 a R$ 500 milhões para todo o mercado”, afirmou Altieri. Segundo Altieri, essa despesa é repartida entre compradores no mercado regulado (75%) e no mercado livre (25%).
Após a conferência, em entrevista à Agência iNFRA, Altieri afirmou que o valor, apesar de crescente, não representa no momento um foco de atenção máxima da Câmara. “Não colocaria em níveis preocupantes”, afirmou.
Altieri também ressaltou que a cobertura da despesa em maio já era prevista pelo órgão, mas os aportes feitos a partir de junho já serão consequência direta da conjuntura causada pela crise financeira do coronavírus.
Adesão ao standstill do BNDES predomina entre distribuidoras
Na mesma conferência, a superintendente da área de energia do BNDES, Carla Primavera, informou que dentro dos pedidos de adesão ao programa de standstill do banco relativos ao setor elétrico, a maioria deles vem de empresas de distribuição.
O standstill foi um dos destaques apresentados pelo presidente do BNDES, Gustavo Montezano, no plano emergencial de amparo às empresas afetadas pela crise da Covid-19. O dispositivo permite que empresas que negociam diretamente com o banco suspendam integralmente os juros e a cobrança do principal por seis meses, além de permitir a manutenção do prazo total, limitação de distribuição de dividendos ao mínimo legal e capitalização no saldo devedor. O valor destinado a essa operação é de R$ 19 bilhões.
Segundo Carla, as distribuidoras foram as que mais pleitearam o dispositivo, e o comedimento dos outros segmentos da cadeia de energia denotam sinais específicos – como por exemplo a área de transmissão, cuja execução de projetos pode forçar as empresas a proteger seu caixa neste momento. “Em geração, tem-se notado muito o pleito das hidrelétricas, que já vêm sofrendo muito com a questão do risco hidrológico”, comentou Carla, também durante conferência virtual.
A superintendente também apontou que o BNDES aguarda como o mercado livre utilizará do benefício, já que, até o momento, haveria um cuidado maior do setor. “Talvez o standstill possa amenizar qualquer efeito de uma negociação bilateral entre um gerador e o comprador no mercado livre”, afirmou a superintendente.