Proposta de remuneração da administração da Light será questionada em assembleia

Roberto Rockmann e Leila Coimbra, da Agência iNFRA

proposta de remuneração da diretoria da Light, que será discutida em AGOEs (Assembleias Gerais Ordinária e Extraordinária) nesta sexta-feira (28), será alvo de críticas. A Tempo Capital, de Paulo Bodin, – que anunciou nesta semana ter atingido mais de 7% do capital da concessionária, tornando-se um dos principais acionistas –, e Victor Adler, que possui mais 2,85% da empresa, já enviaram justificativa de voto propondo a outros acionistas a rejeição da proposta da administração.

A Light tem o capital pulverizado e outros acionistas como JGP e BB Asset também se manifestaram contrários à remuneração sugerida para a diretoria. Mas os dois maiores sócios da empresa, Ronaldo Cezar Coelho e Beto Sicupira, que juntos possuem um terço da empresa, devem apoiar a administração.

O principal ponto de divergência refere-se ao plano de opções de compra de ações para o board, e o preço estabelecido aos papéis, de R$ 0,01 por lote de mil ações. Segundo a justificativa de voto dos  acionistas contrários, mesmo mantido o valor depreciado da ação (que hoje fechou em R$ 2,58), o desembolso chegaria a R$ 40 milhões para pagar a diretoria, que poderia deter 5% do capital da empresa.

Condicionado à renovação
O pacote de remuneração está condicionado principalmente à renovação da concessão da Light, que vence em 2026. Tem relação também com diminuição das perdas em comparação à revisão tarifária de 2022, igual ou superior a R$ 300 milhões, no momento da renovação ou antes, por meio de RTE (Reajuste Tarifário Extraordinário). E inclui uma regra específica de reconhecimento de perdas em áreas críticas.

Os acionistas contrários à proposta dizem que a renovação da concessão é esperada e isso, por si, não garante a sustentabilidade da companhia. Para a Tempo Capital, o plano de opção e recompra, “além de não alinhar o interesse da administração com o dos acionistas, está focado em métricas equivocadas e regulatórias”.

“Causa espanto, em primeiro lugar, um plano abrangendo 5% das ações da Light e, mais ainda, com um desembolso de R$ 40 milhões, mantido o preço depreciado atual da ação. Some-se a esse estranhamento quanto às condições econômicas, o fato de o Plano não atingir o objetivo a que se propõe, qual seja, promover a geração de valor de todos os acionistas”, diz o comunicado de voto da Tempo e Victor Adler.

Remuneração fixa maior
A administração prevê ainda que a remuneração global anual fixa dos administradores para 2023 seja de R$ 18,3 milhões, valor 70% superior aos R$ 10 milhões propostos no ano passado. A Tempo Capital e Victor Adler indicam Ricardo Reisen de Pinho e Raphael Manhães Martins para o conselho da Light, cuja composição será deliberada na sexta.

A proposta de remuneração da administração da Light vem recebendo críticas também no mercado financeiro, após a decisão de a empresa buscar mediação judicial em relação a uma parte de suas dívidas. Gestores e investidores criticam o aumento de 70% da remuneração fixa global aos seis diretores e o valor muito baixo atribuído às ações no plano de opções dos executivos justo em um momento em que a concessionária buscou a Justiça para saldar dívidas prementes, como R$ 6,27 bilhões em debêntures.

De outro lado, a proposta é vista como uma forma de reter os executivos da linha de frente, que serão essenciais para lidar com os credores e com o governo federal, que discutirá as condições de renovação ou não do contrato de concessão de distribuição, que expira em maio de 2026.

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