Elisa Costa, da Agência iNFRA
Segundo os dados de pesquisa divulgada hoje (14) pela Fundação Dom Cabral, as rodovias sob gestão pública são 3,2 vezes mais perigosas que as rodovias concedidas, levando em conta a taxa de severidade dos acidentes. A taxa de severidade é ponderada pela intensidade do tráfego e avalia danos materiais; feridos; feridos e pedestres; e vítimas fatais.
“Se eu isolo os acidentes com vítimas fatais, a periculosidade das rodovias sob gestão pública fica seis vezes maior que a das rodovias concedidas”, contou Ramon Cesar, professor e coordenador da pesquisa, à Agência iNFRA. Para realização do estudo, foram utilizados dados da Plataforma de Infraestrutura em Logística de Transportes e da Polícia Rodoviária Federal.
De acordo com Cesar, os investimentos nas rodovias públicas têm sido mais “acentuados”, e isso melhorou a circulação nas vias, com a diminuição de 6% dos acidentes nos últimos seis anos, contudo os acidentes continuam sendo os mais graves. Em uma pesquisa anterior da fundação, com dados de 2018 a 2021, a malha sob gestão pública já indicava altos índices de periculosidade.
Em 2022 e 2023, a parcela viária sob gestão pública seguiu o mesmo caminho, sendo predominante na formação das taxas de severidade da maioria das 20 rodovias vistas como as mais perigosas do país. Nessa lista, a BR-116 e a BR-101 ocupam as duas primeiras posições, com os maiores índices: 11,5% e 9,7% respectivamente.
A Agência iNFRA procurou o Ministério dos Transportes para apurar informações sobre o tema, mas não obteve retorno. Mais informações sobre a pesquisa da Fundação Dom Cabral estão neste link.
Soluções
À reportagem, o professor Ramon Cesar relatou que a melhor forma de reduzir a periculosidade das rodovias federais é investindo na melhoria da infraestrutura e, quando necessário, no aumento da capacidade das vias. “O que precisamos é de investimentos: ou com recursos orçamentários da União ou do setor privado, através da cobrança de pedágio”, destacou.
Cesar explicou que, à medida que uma parte da malha é passada para o setor privado, a extensão de rodovias sob responsabilidade do poder público é reduzida, permitindo um montante de recursos maior aplicado para cada quilômetro. “Eu desonero o orçamento de cuidar de uma parte da malha e tenho mais dinheiro para cuidar de uma parcela menor”, explicou o professor.
Aumento de acidentes
Enquanto o número de acidentes em rodovias públicas diminuiu, o número de acidentes em rodovias concedidas aumentou 5,8% entre 2018 e 2023. A hipótese da fundação é que o resultado se dá exatamente pelo aumento da rede de rodovias sob concessão após os leilões que ocorreram.
Em nota, a Melhores Rodovias do Brasil – ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias), disse que a extensão de rodovias concedidas cresceu 10% entre 2018 e 2023, e, com isso, houve um aumento de 30% da intensidade do tráfego no mesmo período. “Os trechos, ao serem concedidos, demandam médio e longo prazo para melhorias pela iniciativa privada e consequente redução de acidentes”, esclareceu a associação.
De acordo com o professor Ramon Cesar, os investimentos previstos em programas de concessão realmente não ocorrem de imediato, o que pode alterar a percepção dos resultados das pesquisas. “Primeiro temos os trabalhos iniciais, com recuperação do pavimento, renovação de sinalização, e só alguns anos depois são feitas obras como as de duplicação”, finalizou.