30/07/2025 | 14h00  •  Atualização: 31/07/2025 | 13h58

“Falta política de Estado para o setor nuclear”, diz presidente de associação

Lais Carregosa e Geraldo Campos Jr., da Agência iNFRA

O Brasil precisa de uma política de Estado que garanta estabilidade para o setor nuclear que “transpasse governos”, afirma o presidente da Aben (Associação Brasileira de Energia Nuclear), almirante Carlos Henrique Seixas. Em entrevista à Agência iNFRA, ele disse que há decisões pontuais em governos, mas na maioria das vezes elas não têm continuidade, como sobre a conclusão da usina de Angra 3.

“Precisamos de uma política nuclear que transpasse governos porque você entra com o governo [Michel] Temer, o MDB tem uma visão, entra com o governo [Jair] Bolsonaro, tem uma outra visão, entra o governo Lula, uma nova visão. Precisamos ter uma política de Estado, que seja perene”, disse.

Contudo, afirma o almirante, o setor nuclear vai se desenvolver no país “aos trancos e barrancos” devido à necessidade por uma energia firme e menos poluente. “Nós vamos ser arrastados pelo momento mundial”, declarou.

Angra 3
Para Seixas, a indefinição sobre a conclusão da usina de Angra 3 tem consequências para a cadeia nuclear brasileira. Ele, que foi presidente da Nuclep (Nuclebrás Equipamentos Pesados) – fabricante de equipamentos para o setor – até maio deste ano, diz acreditar que a autorização para a retomada das obras da usina será dada pelo CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) na próxima reunião, marcada para dezembro.

“Essa indefinição sobre Angra 3 é muito ruim para todo o setor nuclear porque existe uma cadeia logística. Não é a Nuclep, não é a Eletronuclear, não é a INB [Indústrias Nucleares do Brasil], são todas. Ou seja, atrás da Nuclep há uma série de outras empresas que fornecem materiais. Temos uma cadeia gigantesca”, declarou à Agência iNFRA.

O almirante diz que há 11 mil equipamentos prontos para Angra 3, que estão armazenados em um galpão da Nuclep ou no canteiro de obras da Eletronuclear, que está paralisado.

Diversificação da Nuclep
No caso da Nuclep, a estatal foi criada com a função de fabricar equipamentos para oito usinas nucleares no Brasil. “Como todo mundo sabe, construímos uma [Angra 2], porque Angra 1 foi [construída pela] Westinghouse”, afirmou.

De acordo com o almirante, em sua gestão a Nuclep passou a diversificar os setores atendidos, incluindo a indústria de óleo e gás e a fabricação de torres de transmissão de energia. Foram fechadas parcerias com empresas como Petrobras e Neoenergia. “Passamos a diversificar para a empresa ter trabalho, ter faturamento”, declarou, afirmando que com a indefinição sobre Angra 3 a estatal “quase entrou em colapso”.

Exoneração
Seixas foi exonerado da presidência da Nuclep no fim de maio. O almirante afirmou à Agência iNFRA não acreditar que sua exoneração tenha relação com a foto que teria circulado de Seixas ao lado do ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier – suspeito de envolvimento em planos de golpe de Estado com aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

De acordo com Seixas, a foto em questão foi tirada quando Garnier estava no comando da Marinha, no governo Bolsonaro. Ele ponderou que a Marinha é a principal cliente atualmente da Nuclep, uma vez que a estatal é responsável pela construção do submarino de propulsão nuclear desenvolvido pela força.

“Não teve nada a ver, na minha opinião, com essa foto com o Garnier. Se olharmos a foto, o almirante estava de branco, uniformizado. Ou seja, ele era o comandante da Marinha na época que ela foi tirada, que foi numa feira em Brasília em que ele, enquanto comandante da Marinha, passou lá. Todos os almirantes comandantes da Marinha foram recebidos na Nuclep”, disse.

Carlos Henrique Seixas ainda destacou que seu mandato à frente da Nuclep havia se encerrado em junho de 2024, considerando que a lei das estatais permite mandato de no máximo oito anos. “A partir dessa data, eu deveria ser substituído. Mas a lei também deixa uma vertente que é o diretor permanecer no cargo até ser substituído. Então desde junho de 2024 eu estava aguardando a minha substituição”, afirmou. 

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