11/09/2025 | 10h00  •  Atualização: 15/09/2025 | 08h32

Petrobras já avalia traçado de novo oleoduto com 2 mil km entre SP e MT

Foto: Transpetro

Gabriel Vasconcelos, da Agência iNFRA

A Petrobras já estuda o melhor traçado para um novo oleoduto que vai ligar a Replan (Refinaria de Paulínia), em São Paulo, a um ponto ainda indefinido do Mato Grosso. Segundo o gerente-executivo de logística da companhia, Daniel Sales, há três opções principais na mesa e, no momento, é considerado apenas um duto de ida. O executivo falou a este respeito nesta quarta-feira (10) durante o Rio Pipeline, evento organizado pelo IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás Natural) no Rio de Janeiro.

Agentes do mercado esperavam que, após passar pelo Mato Grosso do Sul, a estrutura desembocasse em Rondonópolis, ao sul do Mato Grosso, onde a Petrobras tem reforçado sua logística voltada à região. No entanto, segundo fontes da estatal, esse ponto final ainda não está definido e pode ser mais acima, se aproximando de Sinop. Esse ponto final vai depender, entre outros fatores, dos mercados visados pelo caminho e aspectos ligados ao licenciamento ambiental.

Sales não detalha os três trajetos favoritos, mas admite que uma possibilidade seria aproveitar trechos de servidão do Gasbol (gasoduto Bolívia-Brasil), o que reduziria o tempo de licenciamento, maior dificuldade em termos de calendário. 

Com cerca de dois mil quilômetros de extensão, fora as interligações com ao menos cinco novos terminais pelo caminho, o projeto deve demandar investimento superior a US$ 2 bilhões. Fontes do setor ouvidas pela Agência iNFRA estimam capex entre US$ 2,5 e US$ 3 bilhões, considerando os custos atuais médios de uma obra dessa dimensão. Seria o primeiro oleoduto a ser construído pela Petrobras desde 1996, quando a estatal inaugurou o Osbra (Oleoduto São Paulo-Brasília) em seus 962 quilômetros de extensão. Inicialmente projetado para transportar gasolina e diesel, a estrutura acabou dominada pelo último insumo, e hoje carrega entre 800 mil m³ e 850 mil m³ do combustível por mês.

Ainda não há FID (decisão final de investimento, em inglês) para o novo oleoduto, e a entrada em operação é prevista somente para depois de 2030. Sergio Bacci, presidente da Transpetro, subsidiária encarregada pela construção e operação de estruturas desse tipo, afirma que ainda não haverá previsão nesse sentido (implementação) no próximo plano estratégico, a ser divulgado em novembro e voltado ao período 2026-2030. Bacci disse, no entanto, que a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, já solicitou à Transpetro que atue no reforço desse atendimento logístico ao Centro-Oeste, indicando que os trabalhos nesse sentido podem ser acelerados.

Antecipação possível
Segundo Sales, da Petrobras, seria possível antecipar o empreendimento para os próximos anos. Em coro, Bruno Ebecken, gerente-executivo de Manutenção, Integridade e Eficiência da Transpetro, diz que uma eventual antecipação do duto seria possível não só pela capacidade de construção da empresa, quanto pelo cenário de demanda “estabelecido”, que ajudaria a justificar o projeto economicamente. 

“O mercado [de combustíveis] do Centro-Oeste vem crescendo a taxas de crescimento da China, 8%, 10%, 11% ao ano. E um mercado maduro, com essa demanda e crescimento grande, requer logística madura. Isso envolve mais confiabilidade, redução de custos e maior economia [na comparação com outros modais], todos estes fatores que o duto traz com ele”, diz Ebecken. 

Segundo o executivo da Transpetro, além dessa viabilidade econômica, que passa pela necessidade de fontes de financiamento mais favoráveis, também são escrutinados aspectos ligados ao licenciamento ambiental e regulatório. Ele não entra em detalhes, mas a Petrobras defende uma revisão das regras de acesso a essas infraestruturas, já que hoje a exclusividade de uso da empresa operadora é de dez anos, considerado pouco tempo ante o volume de investimento necessário. 

Na prática, construir esse oleoduto até o Mato Grosso vai requerer da Petrobras um incremento relevante no capex quinquenal da empresa voltado a esse tipo de estrutura. No atual planejamento estratégico – que ainda não considera a implementação do projeto – a companhia reservou US$ 3,6 bilhões até 2029 para expansão da infraestrutura de dutos e terminais logísticos; aumento da frota própria de embarcações; e segurança operacional. A fatia específica para dutos e terminais, indica o plano, equivale a pouco menos da metade desse total, cerca de US$ 1,5 bilhão, valor abaixo do necessário para tirar o novo oleoduto do papel.

O objetivo do novo duto seria substituir de maneira perene a expansão logística que vem sendo feita para o Centro-Oeste por meio de caminhão e trem desde 2023, quando foi inaugurada uma base de entrega em Rondonópolis para distribuir o combustível vindo de São Paulo por meio da combinação entre Osbra e caminhões. Em 2024, a Petrobras inaugurou mais uma base, desta vez em Rio Verde (GO), que recebe produto levado diretamente de Paulínia (SP) por caminhões, e assinou contrato com a empresa de transporte ferroviário Rumo para reforçar o transporte de combustível ao Mato Grosso. 

No fim das contas, o que está na prancheta é por quanto tempo a logística que mescla modais vai dar conta da demanda na fronteira agrícola. E isso, acrescenta Sales, valeria não só para o Centro-Oeste, mas também para o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e Pará, regiões do agronegócio também na alça de mira da estatal.

Caminho de volta
À Agência iNFRA, Sales disse que a Petrobras ainda não estuda a construção de estrutura paralela em sentido contrário. O setor de etanol de milho, no entanto, movimenta-se para pleitear uma estrutura desse tipo, voltada ao escoamento do biocombustível para o Sudeste. 

Segundo fontes da Petrobras, isso também seria positivo para a companhia, que avalia entrar na produção de etanol, voltar à distribuição de combustíveis, além de receber cargas cada vez maiores de óleo vegetal para a produção de diesel verde, HVO (diesel renovável) e SAF (combustível sustentável de aviação) em suas refinarias.

“A produção de etanol de milho já é muito alta, tem perenizado a produção de etanol no Centro-Oeste. Os volumes de produção de etanol já são maiores que os volumes consumidos de derivados fósseis. O que ‘desce’ de etanol do Centro-Oeste já é maior que o que sobe de derivados, e isso já é uma ineficiência logística, porque já não se consegue fazer o par completo”, reconhece Ebecken.

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