Bruno Aranha*
O Brasil é conhecido internacionalmente por ter uma das mais bem-sucedidas experiências na produção e distribuição de biocombustíveis para veículos automotores, com destaque para o biodiesel e o etanol, que hoje substitui quase metade da gasolina no país. Agora existe uma nova frente que precisa ser explorada: a produção de combustíveis sustentáveis de aviação (SAFs).
O país possui uma indústria de aviação interna bem desenvolvida e com grande potencial de crescimento, além de sua capacidade exportadora de aeronaves comerciais e executivas. Ao mesmo tempo, em nível global, essa indústria apresentou compromissos de redução de emissão de gases de efeito estufa (GEE), com destaque para meta de zerar as emissões líquidas de dióxido de carbono até 2050.
Em 2019, o Brasil registrou consumo de 7 bilhões de litros de querosene de aviação, o que geraram emissões de quase 10 milhões de toneladas de CO2, representando mais de 5% das emissões do setor de transporte.
Contudo, a descarbonização do transporte aéreo tem se demonstrado bastante desafiadora. Diferentemente dos veículos terrestres, que contam com a possibilidade da eletrificação, para a aviação essa alternativa ainda apresenta muitos desafios, sobretudo para as aeronaves de maior porte. Nesse contexto, os SAFs vão desempenhar papel crucial na transição para a aviação de baixo carbono.
O Brasil tem vantagens competitivas importantes para a produção de SAFs. Além da base agrícola competitiva e com grande potencial de oferta de biomassa, o país também dispõe de uma grande infraestrutura ligada à produção e distribuição de biocombustíveis.
Além disso, contamos com experiência na execução de políticas de incentivo ao uso de combustíveis sustentáveis, cujo exemplo mais recente foi o Programa RenovaBio. O governo brasileiro vem desenvolvendo esforços para fomentar o uso do SAF, com destaque para o Programa Combustível do Futuro, que demonstra a disposição do país em acelerar a transição para combustíveis sustentáveis também na aviação.
Para se ter uma ideia do impacto econômico potencial do SAF, considerando o consumo histórico de querosene no Brasil, seriam necessários investimentos da ordem de R$ 30 bilhões na construção de capacidade industrial apenas para uso doméstico, números que podem ser ainda maiores se adicionarmos o potencial de exportações de SAF. E, com isso, gerando crescimento e empregos verdes.
Na década passada apoiamos o desenvolvimento de novos biocombustíveis, como foi o caso dos projetos pioneiros de etanol 2G e de biogás ou biometano. E que agora começam a se difundir e ganhar escala. Precisamos estar dispostos a fazer o mesmo pelo SAF.
O país não pode perder essa oportunidade. Empresas de transporte aéreo, fabricantes de aeronaves, investidores, setor financeiro, produtores de biomassa, fabricantes biocombustíveis, academia e governos precisam juntar esforços e trabalhar em conjunto. Identificar e superar rapidamente os desafios tecnológicos, regulatórios, financeiros e sociais. E, assim, darmos o salto rumo ao desenvolvimento sustentável.