A tecnologia a serviço de uma infraestrutura de transportes mais sustentável

Marcelo Bernardino*

O último Encontro Empresarial Brasil-Espanha, que aconteceu no primeiro trimestre, e que tive a oportunidade de participar, reuniu autoridades e representantes de algumas das principais companhias e instituições de ambos os países, com objetivo de discutir relações comerciais e, em especial, investimentos ligados ao Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo brasileiro.

Comprometido com a transição ecológica, a neoindustrialização, a geração de empregos e o desenvolvimento econômico sustentável, o Novo PAC vai aportar um montande de R$1,7 trilhão em todos os estados do país, sendo 1,4 trilhão até 2026 e R$320,5 bilhões após essa data.

Com esse cenário em vista, um dos tópicos que dominou o debate do encontro empresarial foi o transporte eficiente e sustentável, que compõe um dos nove eixos de investimento do Novo PACe cujo investimento previsto é de R$ 349,1 bilhões, com foco na execução de projetos de infraestrutura em rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos.

A ideia, com isso, é contribuir para a redução dos custos da produção nacional, além de melhorar a qualidade de vida dos usuários desses modais. 

Com uma carteira de investimentos públicos e privados, o Novo PAC visa não só a redução dos gargalos logísticos enfrentados no território brasileiro, mas também uma maior integração e diversificação da malha nacional de transportes.

O tema é de especial interesse para as organizações espanholas, tendo em vista que, além de figurar como a 15ª maior economia do mundo e a quinta da Europa, o país também ocupa a quarta posição no ranking de estoque de investimentos estrangeiros diretos no Brasil, com uma cifra que chegou à casa dos US$ 52 bilhões, em 2022, de acordo com estudo divulgado pela ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), no último mês de fevereiro.

Ainda de acordo com o levantamento da ApexBrasil, a Espanha também já é o segundo maior investidor direto no país pela ótica da participação no capital, que se refere à entrada de recursos estrangeiros para aquisição ou aumento do capital social de empresas residentes no Brasil.

Esses dados provam não só a abrangência da colaboração bilateral já existente entre as duas nações, mas também o potencial advindo do fortalecimento dessa relação comercial e da criação de novas oportunidades de parceria, em prol do desenvolvimento econômico local, com geração de empregos e renda.

Nesse sentido, a pauta da infraestrutura sustentável surge como uma importante aliada na atração de investimento internacional, em especial no segmento de concessões de transportes, considerado prioritário pelo poder público brasileiro, compondo um dos eixos estratégicos do “Programa País do Brasil para o Fundo Verde do Clima”, por exemplo. 

Além disso, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), vinculado ao Ministério do Planejamento e Orçamento, aponta o aprimoramento do sistema viário brasileiro, com foco em sustentabilidade e segurança no trânsito e transporte, como uma das metas necessárias para que o Brasil esteja alinhado ao ODS 9 (Nono Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) da ONU (Organização das Nações Unidas), voltado para indústria, inovação e infraestrutura.

Não é de hoje que nossa matriz logística pouco diversificada tem se mostrado um entrave à sua competitividade brasileira no cenário global.

Com o transporte rodoviário respondendo pelo escoamento de 75% da produção nacional, de acordo com dados da FDC (Fundação Dom Cabral), faz-se necessário o incentivo ao uso e à expansão de modais mais eficientes, acessíveis, resilientes e de baixa emissão de carbono, tanto no deslocamento de cargas quanto no de passageiros.

No entanto, tais avanços só se tornarão viáveis por meio do fomento à adoção e ao desenvolvimento de novas tecnologias de transporte e mobilidade, que exigem a disponibilização de uma oferta de valor com elevados níveis de serviço, além de expertise no manejo e aplicação de recursos e ferramentas como IA (Inteligência Artificial), IoT (internet das coisas) e redes 5G. E isso em duas principais frentes.

A primeira delas é baseada nas TICs (tecnologias da informação e comunicação), utilizadas tanto no aprimoramento das práticas de planejamento e gestão, realizadas pela administração pública e demais entidades responsáveis pela operação dos transportes e do trânsito, quanto na disponibilização de informações para que os usuários programem suas viagens e escolham as opções de condução mais convenientes e sustentáveis. 

A segunda frente concentra-se no avanço tecnológico com foco na sustentabilidade e na necessidade de operacionalizar a transição para uma jornada de desenvolvimento que envolva não só a diminuição do uso de combustíveis fósseis, mas também a utilização progressiva de energias renováveis, levando em consideração o atual cenário de emergência climática.

Seja por meio da eletrificação do transporte ou do uso de biocombustíveis como o etanol e o H2V (hidrogênio verde), essa é uma mudança marcante, que exige não só a aplicação de novas tecnologias de motorização, mas também a consolidação de toda a infraestrutura necessária para suportar essas modalidades de deslocamento em crescente ascensão.

Como se vê, o caminho em direção a uma matriz de transportes mais sustentável passa, obrigatoriamente, pelo investimento massivo em inovação tecnológica.

Tópico que, inclusive, foi contemplado durante a recente visita oficial do presidente da Espanha, Pedro Sánchez, ao Brasil, no último mês de março, quando foram assinados memorandos de entendimento entre os dois países nas áreas de comunicação, ciência, tecnologia e inovação, administração pública e saúde.

A iniciativa reforça a importância da cooperação internacional enquanto caminho para o avanço da transição energética e de medidas de mitigação e enfrentamento às mudanças climáticas.

Além disso, também chama atenção para a consolidação da infraestrutura sustentável como porta de entrada para atração de novos investimentos, ditando, assim, uma nova agenda de impulsionamento da economia brasileira, com impactos positivos e concretos nas condições de vida da população.

*Marcelo Bernardino é CEO da Indra e da Minsait no Brasil.
As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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