da Agência iNFRA
O painel “Raio-X da Infraestrutura: Energia” inaugurou o segundo dia de atividades do Abdib Experience 2021, no último dia 8 de dezembro. A perspectiva dos convidados é a de que é inescapável, para o setor, perseguir um futuro de carbono zero, com menor produção de poluentes e impacto ambiental.
Porém, não a qualquer preço ou a qualquer tempo. É necessária uma transição constante, observando tanto as características do Brasil quanto as particularidades do setor instalado, considerando eficiência e competitividade como atributos essenciais na desejada equação verde. Isso para dizer que é vital o equilíbrio entre a segurança energética e a modicidade tarifária.
“Uma coisa que precisamos ter em mente é nunca trancar a rota de desenvolvimento”, definiu Marcello Cabral da Costa, secretário-adjunto de Planejamento e Desenvolvimento Energético do MME (Ministério de Minas e Energia), ao defender a ideia de que cada país tem uma solução adequada para a sua realidade, embora o objetivo mundial seja o mesmo.
“O caminho que o ministério adota é o biocombustível, é a eletricidade? Não. O caminho é chegar em meados de 2050 com 50% de emissões a menos, esse é o compromisso. E como chegar nele? Não é um trilho, é uma trilha. Sabemos o destino, mas precisamos ser capazes de entender como chegar lá sem desligar a chave-geral”, comentou.
Desta maneira, entende Costa, não se pode dispensar, a curto prazo, a energia gerada a gás ou mesmo a carvão. “Não é desejável ter uma fonte poluente de energia. No entanto, existe um trade off. O país já conta com uma das matrizes mais limpas do mundo. Quase 50% da matriz energética é renovável, e a matriz elétrica é composta por 85% de energia limpa”, argumentou.
Por isso, o secretário-adjunto defende a necessidade de se fazer a equação entre as fontes disponíveis nos momentos de necessidade. “Porque, se é caro e é ruim despachar térmicas, certamente é muito mais caro atender a demanda que eu preciso com energia renovável. O custo acaba sendo impraticável para o consumidor”, definiu.
Setor bem regulado
Arthur Pereira, head of Industrial Applications Products da Siemens Energy, concordou com as colocações do secretário-adjunto e avaliou o setor de transmissão de energia, classificando-o como “bem regulado” e “um dos maiores sistemas integrados no mundo, com leilões de transmissão que são modelo para a América Latina”.
Mas apontou que os processos de autorização entre a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e as concessionárias podem ser simplificados. Ele também observou que um dos maiores desafios que o setor enfrenta é a troca da base de ativos na rede.
“Muitos equipamentos estão em final de vida útil e hoje estamos os substituindo de acordo com a necessidade. Mas, se tivermos uma abordagem mais sistêmica, isso vai trazer ganhos para todos. A substituição poderá incrementar o monitoramento, diminuir o uso de cabos e permitir uma digitalização mais acelerada do sistema”, argumentou.
Eletricidade: ‘Espinha dorsal’
José Roberto Paiva, country managing director na Hitachi Energy, compartilha da perspectiva. A substituição de equipamentos poderá também ajudar no movimento de transição energética. Para o executivo, a eletricidade será, no futuro, a “espinha dorsal do sistema de energia”.
“A nossa expectativa é de que a energia elétrica responda por 50% do total de energia no mundo”, apostou.
Um dos sinais nesse sentido é a eletrificação da mobilidade, que é outro desafio já projetado pela empresa desde a atualidade.
“Estamos focados na eletrificação de ônibus e caminhões”, revelou. “O carro elétrico é inevitável. Isso traz complexidade ao sistema elétrico. Precisaremos de mais digitalização e projetar as novas demandas por consumo de energia elétrica”, complementou.
Marco regulatório
O secretário-adjunto do MME disse ainda que para construir um processo de transição energética eficaz aproveitando as vantagens competitivas do Brasil há duas frentes prioritárias: “A primeira é fortalecer as bases que já temos hoje, incrementando o desenho do mercado, as bases regulatórias, atuando com previsibilidade e transparência, deixando os agentes bem informados”.
“O segundo ponto é o marco regulatório, para que a gente consiga enxergar o ingresso de novas fontes de energia, de renováveis, de novas tecnologias, e dar as respostas adequadas. Isso para que a gente consiga criar um ambiente competitivo, estável, com modelos de negócios que façam o Brasil trilhar o caminho da transição energética sem desperdiçar potencial e olhando, inclusive, a qualificação de seus profissionais”, finalizou.
O painel “Raio-X da Infraestrutura: Energia” foi mediado pela editora de Energia da Agência iNFRA, Leila Coimbra.