Ampliação metroferroviária segue em ritmo lento, aponta balanço da ANPTrilhos

Dimmi Amora, da Agência iNFRA

O Balanço MetroFerroviário de 2024 divulgado hoje (25) pela ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos) mostra que o país segue a passos lentos no crescimento de sua rede de transporte público de alta capacidade. Em 2024, apenas duas novas estações e quatro quilômetros foram acrescidos à rede, que chegou a 1.137 quilômetros de extensão. 

Em uma década, pouco mais de 100 quilômetros de metrôs, trens urbanos e VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos) foram implantados no país, sendo que, desde 2019, a média não passa de seis quilômetros a mais por ano, o que para a diretora-executiva da associação, Ana Patrizia Lira, arrisca levar o sistema do transporte urbano das grandes cidades ao colapso.

“É muito pouco. Precisamos avançar mais rapidamente para não colapsar”, defendeu em entrevista à Agência iNFRA para apresentar os dados do setor do ano passado.

Os dados para os próximos anos são levemente mais promissores. Até o fim da década, se tudo sair como planejado nos projetos já em andamento, a rede do país pode ganhar pouco mais de 100 quilômetros, de acordo com os dados do balanço, especialmente por causa de projetos nas regiões metropolitanas de São Paulo (SP) e Salvador (BA). Esses projetos somam cerca de R$ 50 bilhões.

Mas as esperanças de uma maior transformação, segundo Ana Patrizia, estão depositadas em duas mudanças mais profundas que estão em produção. A primeira é a aprovação de um novo marco legal para o transporte público no país, PL 3.278/2021, que foi aprovado pelo Senado no ano passado e já tramita na Câmara.

O segundo é o estudo que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), em parceria com o Ministério das Cidades, está coordenando nas 21 maiores regiões metropolitanas do país e que pretende mapear as necessidades de investimentos e definir uma política nacional para o setor, de forma a dar maior racionalidade às redes de transportes nessas regiões. Esse trabalho está em desenvolvimento.

Segundo a diretora-executiva, a lei tem um importante componente, que é a criação de incentivos para que os sistemas metropolitanos tenham integração tarifária, o que para ela é a forma como será possível desenvolver projetos de grande capacidade.

Para ela, o maior exemplo dessa necessidade é a comparação entre o Rio de Janeiro, que segue perdendo passageiros em sua rede metroferroviária, e São Paulo, que vem aumentando. 

A diferença principal, de acordo com Ana Patrizia, é a integração tarifária existente em São Paulo e ineficaz no Rio de Janeiro, local também fortemente impactado pela queda na qualidade do serviço, atribuída à violência urbana local, capaz de paralisar o sistema por causa de roubos de equipamentos, o que tira a confiabilidade dos passageiros.

“Fazer integração tarifária não significa menos recursos. São mais recursos porque você recupera os passageiros que não usavam o sistema”, explicou.

No caso do estudo do BNDES, a diretora da associação tem esperança de que possa criar projetos de melhor qualidade para direcionar os investimentos públicos e privados e melhorar a integração do sistema de transporte, indicando as linhas troncais dessas regiões. 

Pré-pandemia distante
O relatório estima o quanto isso pode ser significativo. Mesmo sem ainda voltar aos níveis pré-pandemia de Covid-19 em número de passageiros transportados e com a rede atual, a estimativa é que foram economizadas 1,5 bilhão de horas dos passageiros no trânsito e 1,2 bilhão de litros de combustíveis fósseis. O impacto positivo geral na sociedade é estimado em R$ 33 bilhões.

A diretora explica que houve crescimento do volume de passageiros transportados em 3,6% entre 2023 e 2024, atribuído à melhoria econômica. Mas a volta aos níveis pré-pandemia (o número de passageiros ainda é pouco mais de 3/4 de 2019) deve demorar por causa de mudanças sociais como o home office, o ensino à distância e as compras online. O balanço pode ser visto neste link.

*A matéria foi atualizada às 16h22 para correção da data de divulgação do Balanço MetroFerroviário de 2024.

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