Roberto Rockmann*
A decisão do governo do Paraná de tornar a Copel uma empresa de capital pulverizado sem acionista controlador indica que está perto do fim o modelo do Estado como investidor majoritário no setor elétrico. Um player de peso se reforçará.
Bem-sucedida a operação, ficará apenas a Cemig, cuja privatização depende de aval da Assembleia Legislativa. O governador reeleito, Romeu Zema, tentará nos próximos meses obter a chancela parlamentar, aproveitando o capital político da reeleição em primeiro turno, mas sobram dúvidas entre investidores se ele terá êxito.
Por décadas, o setor elétrico teve Eletrobras e estaduais (Copel, Cesp e Cemig) como as principais investidoras, em um modelo verticalizado. Ao longo de 20 anos, as áreas de transmissão e geração da Cesp foram vendidas, sendo que a última parte foi licitada em outubro de 2018. O processo de capitalização da Eletrobras foi concluído neste ano. Agora é a vez do Paraná.
A operação pode trazer novo capital e fôlego para reforçar tendências. Em distribuição, o projeto de redes inteligentes da Copel é o maior do país. A empresa estuda há dez anos a tecnologia, que com a abertura total do mercado pode ganhar relevância. Em 2018, iniciou-se um projeto piloto na cidade de Ipiranga, no Paraná. Foram identificados menores custos operacionais e maior eficiência. Houve redução de 50% do indicador de DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora) e a leitura passou a ser remota.
Dividido em três fases, o projeto representa investimentos de R$ 820 milhões em 151 municípios das regiões Leste (região metropolitana de Curitiba), Centro-Sul, Oeste e Sudoeste, beneficiando aproximadamente 4,5 milhões de paranaenses. Com mais dados, a companhia também passa a estudar novos serviços, como telemetria de água, iluminação pública, projeto de pesquisa e desenvolvimento de alarmes, controle de semáforos.
Em geração, em que é a décima maior geradora hidráulica do país, a operação pode fazer a Copel manter seu maior ativo: a hidrelétrica de Foz de Areia (1600 MW). O contrato entre União e a estatal para o uso da usina se encerra em setembro de 2023, e as concessionárias poderão ter as outorgas renovadas por 30 anos, desde que privatizem a maior parte das operações.
Modernização de ativos e valoração de atributos como armazenamento nas hidrelétricas devem ganhar espaço, assim como a negociação de I-Recs e avanço de fontes variáveis, como eólicas e solares, em busca de um portfólio mais diversificado.
Em transmissão, em que detém pouco mais de 9 mil quilômetros de linhas, a empresa deve continuar expandindo sua participação com presença constante nos leilões. Ampliar a RAP (Receita Anual Permitida) é uma forma de ter caixa previsível, elevar dividendos e financiar outros projetos. Modernizar linhas mais antigas também deve ganhar espaço.
*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.
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