Análise: O fim do carnaval para o presidente Jair Bolsonaro

Dimmi Amora, da Agência iNFRA

O carnaval, data em que se brinca que é o marco do início do ano no Brasil, terminou com um acúmulo de más notícias preocupantes para o presidente Jair Bolsonaro, o que vai afetar sobremaneira as decisões que ele precisará tomar no setor de infraestrutura.

As informações de que a economia se acelerava após a sua vitória não tinham a força da retórica que o governo tentou imprimir, como mostrou a divulgação do PIB de 2018, com uma estagnação no último trimestre e declínio dos investimentos em relação ao trimestre anterior.

Os primeiros dados econômicos do início do ano estão reforçando a tendência de mais um ano perdido na economia, com recessão ou estagnação do crescimento pelo quinto ano seguido, e provavelmente situação igual em emprego e renda.

O horizonte na economia real não deve ajudar em nada ao presidente, que ainda pode ter pela frente pressões inflacionárias de itens dependentes do preço do petróleo, que não para de subir desde sua chegada ao poder.

E, agora, também do dólar após o encanto do mercado financeiro começar a acabar numa Quarta-Feira de Cinzas, após o presidente recuar em muito em relação à linha que separa candidato de governante ao compartilhar em suas redes cenas de pornografia para criticar o carnaval.

As críticas dos próprios apoiadores a esse ato do presidente realçam outro dado preocupante que já vinha sendo mostrado nas pesquisas de popularidade: o apoio a Bolsonaro é baixo e não é irrestrito.

A reforma da Previdência, mesmo com todo o apoio que tem recebido dos meios de comunicação, tem potencial para fazer ainda mais estragos na imagem dele junto às camadas mais pobres por mexer em pontos sensíveis a elas como abono salarial, BPC e aposentadoria rural.

Para completar o quadro, o governo não formou base congressual para aprovar praticamente nada. Hoje, quiçá veja aprovada uma indicação de embaixador quando a enviar. Medidas importantes e urgentes para o setor de infraestrutura podem se perder se esse quadro não for revertido.

A aposta principal para tentar reverter esse quadro de definhamento precoce do governo é numa grande publicidade para os chamados 100 dias, em que se pretende contar com grande colaboração do setor de infraestrutura. Os recorrentes tweets do presidente sobre o tema apontam para isso.

Além dos leilões que já estavam programados, Bolsonaro também vai apresentar nas próximas semanas sua lista de projetos para serem licitados nos próximos anos, em reunião do Conselho do PPI marcada para março.

Mas vai acabar a mamata de pegar carona em leilões deixados pelo presidente Michel Temer. Para realizar seus próprios projetos, o atual governo precisará trabalhar duro para desatar nós que estão há anos amarrando o desenvolvimento do setor de infraestrutura.

Para a maioria desses nós, faltou ao presidente Michel Temer força política para encarar o desgaste na imagem – seja junto ao eleitorado, seja junto ao mercado investidor, seja junto à base de apoio parlamentar – que decisões desse tipo resultam.

Na atual conjuntura, a pergunta que fica é qual será a real força que Bolsonaro tem e quanto ele vai poder gastar dela para destravar esse setor.

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