Análise: Setor busca a padronização de equipamentos de GD solar no Brasil para evitar blecautes como na Europa

Roberto Rockmann*

O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), o setor de GD (geração distribuída) solar, fabricantes de equipamentos e as distribuidoras de energia estão em conversas para a padronização de inversores, que são aparelhos que transformam a irradiação solar em eletricidade.

O Operador solicitou aos fabricantes um diagnóstico das ações realizadas até 23 de janeiro, próxima segunda-feira. É um movimento do ONS para evitar no Brasil problemas ocorridos na Europa e ampliar a segurança no abastecimento com o avanço da geração descentralizada.

Consome energia em vez de gerar
Há uma preocupação com os inversores instalados nos painéis fotovoltaicos. Se houver uma alteração de frequência, causando oscilação, o telhado deixa de injetar a energia na rede e passa a consumir. 

A questão exigirá um levantamento amplo da situação dos inversores existentes e se poderá haver custos envolvidos no processo, uma vez que ainda há dúvidas se a questão poderá ser resolvida apenas com a atualização à distância de softwares ou envolverá também o envio de equipes a campo. Se houver custos, terá de ser pensado como eles serão ressarcidos.

Blecautes na Europa
Se isso ocorre em efeito cascata e em milhares de casas com o mesmo problema, a rede pode sofrer sérias consequências. Na Europa, dois blecautes aconteceram por causa disso.

Para minimizar esse ponto, começou-se a discutir com a GD solar e o Inmetro a padronização de inversores. As distribuidoras também estão envolvidas na discussão, porque há questões técnicas sobre a rede de conexão. 

Em 11 de novembro, houve uma reunião entre ANEEL, ONS e distribuidoras sobre o tema. O ONS solicitou, com aval da ANEEL, Inmetro e distribuidoras, o apoio voluntário dos fabricantes de inversores para atualização de forma remota do software da maior quantidade possível de inversores para os quais essa ação se faz necessária. 

A discussão é necessária no país com o avanço da GD solar, que hoje representa 16,4 GW de potência instalada e pouco mais de 1,5 milhão de instalações pelo país. Cinco estados concentram 50% do total: Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Paraná.

GD pode triplicar em 10 anos
Mas a capacidade instalada de GD pode triplicar nos próximos dez anos, segundo expectativa da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), conforme os estudos que subsidiarão o PDE 2032 (Plano Decenal de Energia).

“A solicitação foi para, de forma voluntária, realizar a atualização remota dos softwares dos inversores que possuem conexão com a internet. Adicionalmente, foi solicitado um diagnóstico acerca do montante de inversores que puderam ser reajustados. Não temos informações sobre os custos para a realização das atualizações remotas. Alguns fabricantes sinalizaram positivamente ao plano de ação proposto e que ainda está em curso”, informou a assessoria de imprensa do ONS.

Portaria regulamentando
Em março, foi lançada pelo Inmetro a Portaria 140, que regulamenta os requisitos técnicos de qualidade, a avaliação de conformidade e a comercialização de inversores híbridos. Isso faz com que os novos equipamentos já estejam adaptados. 

O texto fixa que a partir de 24 meses contados de março de 2022 os fabricantes nacionais e importadores devem fabricar ou importar, para o mercado nacional, somente equipamentos de geração, condicionamento e armazenamento de energia elétrica em sistemas fotovoltaicos em conformidade com as disposições contidas na portaria. 

O desafio será saber quantos equipamentos instalados existem, principalmente de modelos mais antigos, se têm acesso à internet, quantos poderiam ser atualizados de forma remota e quantos precisarão de deslocamento de equipes. 

“O texto estabelece as condições para a transição e o futuro, a questão é o passado, mas não é uma grande dor de cabeça”, diz o presidente da Absolar (Associação Brasileira da Indústria Solar), Rodrigo Sauaia.

*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.

As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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