da Agência iNFRA
A construção de uma infraestrutura de energia elétrica resiliente no Brasil deve transformar profundamente o setor nos próximos anos, mas as primeiras ações exigem investimento imediato em capital humano para fortalecer a capacidade de resposta a eventos extremos cada vez mais frequentes.
O tema foi debatido no painel “Transformação Climática: a Nova Ordem do Setor Energético” que abriu o evento “CNN Talks + iNFRA: COP30 | Resiliência Climática – Regulação e Financiamento”, promovido na última terça-feira (8) pela CNN Brasil e Agência iNFRA, com patrocínio da Enel Brasil.
O presidente da Enel Brasil, Antonio Scala, apresentou um conjunto de ações adotadas após eventos climáticos extremos que causaram longas interrupções no fornecimento de energia em São Paulo, em 2023.
Scala contou que, a partir dos aprendizados do evento, o plano da Enel incluiu a ampliação da força operacional, com a contratação escalonada até 2026 de cinco mil novos eletricistas, alterações nos contratos de trabalhadores e empresas terceirizadas para garantir equipes em regime de sobreaviso e investimentos robustos em capacitação técnica.
“Os resultados foram sentidos no curto prazo. Entre novembro de 2024 e março de 2025, tivemos um período 35% mais crítico em São Paulo em comparação a 2023, mas conseguimos reduzir em 50% o tempo médio de atendimento e em até 90% as falhas prolongadas”, destacou o CEO da companhia distribuidora de energia em São Paulo.
Scala lembrou que os contratos de concessão das distribuidoras são antigos e defendeu a modernização desses acordos, ressaltando a importância das agências reguladoras. “Há 30 anos os desafios do setor eram diferentes e o tema resiliência climática não estava na mesa. Com o debate da renovação dos contratos de concessão temos uma oportunidade de modernizar a estrutura contratual e gerar os incentivos econômicos, e o papel das agências reguladoras é fundamental.”
Cortes orçamentários
O impacto dos cortes orçamentários sobre agências reguladoras também foi abordado pela diretora da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) Agnes Costa. Segundo ela, os recentes contingenciamentos atingem 25% do orçamento da agência e já comprometem atividades essenciais, como ouvidoria e processamento de dados. Até o momento,145 terceirizados foram desligados em razão do contingenciamento. “Quando a gente perde essa força de trabalho, isso impacta políticas públicas”, afirmou.
De acordo com ela, é preciso assegurar recursos para fiscalizar, que é a atividade essencial das agências, mas também ir além, propondo melhorias ao sistema para enfrentar eventos climáticos extremos. “A gente tem a discussão agora no Congresso de uma maior abertura de mercado e do empoderamento do consumidor, e a gente precisa desses braços de reguladores”, completou.
Escoamento de energia
Outro ponto forte do debate foi a necessidade de investimentos nacionais em transmissão para viabilizar o escoamento da energia renovável do Norte e Nordeste para as regiões Sudeste e Sul, além de melhorar o uso da capacidade ociosa, o que reforça o percentual de energia limpa na matriz energética brasileira, a que gera menos emissões de carbono entre países com PIB relevante.
“Está sendo feito um grande programa de leilões de transmissão. Desde 2023, foram R$ 60 bilhões em licitações, com foco em resolver esses gargalos”, explicou Gentil Nogueira, secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia.
Nogueira acrescentou que o governo trabalha em um plano para destinar o excedente elétrico a data centers, reduzindo custos e otimizando recursos. Em linha semelhante, o CEO da Norsk Hydro Brasil, Anderson Baranov, falou do incentivo à energia de baixo carbono.
Investimento de R$ 1,3 bilhão
A Alunorte, que pertence à companhia, é a maior refinaria de alumina do mundo fora da China e iniciou a substituição do óleo combustível por gás natural e caldeiras elétricas. Foi reservado R$ 1,3 bilhão para reduzir as emissões em até 1,2 milhão de toneladas de CO₂.
“Mais do que discutir crédito de carbono, as indústrias devem focar em operações verdes. Isso não é só marketing”, afirmou Baranov. E completou: “A cadeia tem que ser cada vez mais limpa, e quem não mudar não vai conseguir operar para a frente”.