Conflito entre Rússia e Ucrânia pode levar petróleo aos US$ 100 e pressionar ainda mais os combustíveis

Roberto Rockmann*

A eventual guerra entre Rússia e Ucrânia poderá levar o barril de petróleo à casa dos US$ 100 no mercado internacional, o que trará ainda mais pressão sobre a inflação, a Petrobras, a política de preços dos combustíveis e o processo de desinvestimento da estatal. Efeitos também serão sentidos no setor elétrico.

Feita a agressão pelo governo Putin, os olhares acompanharão as sanções que poderão ser feitas sobre a Rússia, um dos maiores produtores de petróleo do mundo. “O que acontecerá aqui no Brasil, se o petróleo chegar a cem dólares? Haverá alguma intervenção?”, questiona o sócio da Datagro, Plinio Nastari.

Em 2017 e 2018, o governo federal começou a desenhar a política de desinvestimento da Petrobras, que detinha 98,5% do refino do país. A estatal venderia até 50% de sua presença no segmento, enquanto foi criada uma política de biocombustíveis, o RenovaBio, para apoiar o setor.

“A vacina adotada foi reduzir a participação da Petrobras e atrair a iniciativa privada”, aponta. No fim do ano passado, foi concluída a primeira venda de refinaria – a Rlam (Refinaria Landulpho Alves), na Bahia, para o fundo Mubadala. Outras maiores ficaram para o fim deste ano.

Em 2021, o mercado de diesel movimentou 62 bilhões de litros, sendo 14 bilhões importados. “A mistura de biodiesel, que era 13%, caiu para 10%. E o cronograma, estipulado em 2018, apontava que ela ficaria em 14% a partir de março, mas esse percentual ficará em 10%. Por quê? Preço. O desafio é apontar que a política tem de ser mais forte que as oscilações de mercado.”

No mercado financeiro, os economistas já começam a tentar entender os eventuais impactos sobre os combustíveis e a inflação. Isso coincide com o recente recado do Banco Central dos Estados Unidos, que está restringindo a liquidez. “A festa do dinheiro abundante parece estar no fim e isso tem um impacto sobre o Brasil”, diz Gabriel Galipolo, ex-presidente do banco Fator.

“Isso cria uma bomba relógio para o primeiro semestre, com repercussão no segundo semestre, que é eleitoral”, aponta Glauco Nader, sócio da consultoria Dinamus. E o setor elétrico? Provavelmente a guerra poderá criar efeitos, por duas razões, diz o ex-diretor da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) Edvaldo Santana.

“Primeiro, as termelétricas compram o gás por contratos de longo prazo, o que implica em o efeito não ser direto. Porém, a depender da proporção e da duração da crise, o efeito dela sobre a taxa de câmbio não deve ser desprezível. A taxa de câmbio é um componente da fórmula paramétrica que reajusta o gás.  Segundo: a taxa de câmbio é o principal componente da tarifa de Itaipu, que também pode ser afetada”, afirma Santana.

*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.

As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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