Gabriel Vasconcelos, da Agência iNFRA
A Petrobras informou no fim da noite desta quinta-feira (7) que seu Conselho de Administração aprovou a atuação na distribuição de GLP – gás de cozinha – como “elemento estratégico” do Plano de Negócios da empresa. Isso não significa retorno imediato à atividade. Mas, a inclusão formal dessa diretriz na estratégia da companhia é o primeiro passo para uma nova investida no ramo.
No comunicado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a Petrobras menciona a orientação do Conselho para o posicionamento em distribuição: “atuar em negócios rentáveis e de parcerias nas atividades de distribuição, observadas as disposições contratuais vigentes”. Em seguida, lista direcionadores desse posicionamento: “atuar na distribuição de GLP; integrar com demais negócios no Brasil e no mundo; e oferecer soluções de baixo carbono para seus clientes”.
A Petrobras não atua na distribuição de GLP desde o fim de 2020, quando concluiu a venda da então subsidiária Liquigás por R$ 4 bilhões para o consórcio formado por Copagaz, Itaúsa e Nacional Gás. A venda foi anunciada ainda em 2019, sob o governo Jair Bolsonaro.
Em 2021, um ano depois de concluir a alienação da Liquigás, a Petrobras também vendeu o braço de distribuição de combustíveis líquidos, BR Distribuidora, que se converteu em Vibra. Neste caso, o contrato previa que a Petrobras ficava impedida de retornar ao setor. O mesmo não ocorreu com a distribuição de GLP, o que, na prática, significa pista livre para um movimento desse tipo no gás de cozinha. Um trecho do comunicado de ontem, em que cita “disposições contratuais vigentes”, sugere que a companhia deve observar essa situação específica para cada uma das cadeias.
Preços altos, Lula e mercado
Nos quase cinco anos que se seguiram à privatização da Liquigás, o preço médio do botijão de 13kg apurado pela ANP saltou 43,3%, passando da faixa dos R$ 75, em dezembro de 2020, para a média atual dos R$ 107, com preços locais que chegam a R$ 156. Nesse período, o pico do preço médio aconteceu entre abril e maio de 2022, quando o botijão ultrapassou, na média, os R$ 113 e viu seu maior preço chegar a R$ 160.
A resiliência dos altos preços praticados na distribuição e varejo, em que pese reduções no preço de produtor da Petrobras, têm sido alvo de reclamação do presidente Lula, que enxerga na volta da Petrobras à distribuição de GLP um caminho para induzir um barateamento do insumo às famílias mais pobres.
“Está errado pagar R$ 140 no gás de cozinha que custa R$ 37 na Petrobras. Estamos pensando em fazer com que o gás de cozinha chegue na mão dos pobres mais barato”, disse Lula no fim de maio, em agenda na Paraíba. Dias antes, no Mato Grosso, ele disse que os preços praticados ao consumidor não têm explicação e que “alguém está ganhando muito dinheiro com isso”, em referência indireta aos agentes que revendem produto da Petrobras. Reclamações públicas desse tipo vêm sendo feitas por Lula, pelo menos, desde o ano passado.
De seu lado, investidores devem reagir mal ao movimento prenunciado da Petrobras, embora o movimento fosse em alguma medida esperado. Isso tende a impactar o preço das ações na sessão de hoje. O mercado é avesso a diversificações da atuação da companhia fora do E&P (Exploração e Produção de Petróleo e Gás), em geral menos lucrativas.








