Gabriel Vasconcelos, da Agência iNFRA
A Light, geradora e distribuidora de energia que atende 31 municípios no Rio de Janeiro, calcula que a demanda média por energia na região vai saltar da casa dos 3 GW (gigawatts) atuais para 6 GW nos próximos cinco anos, puxada pela instalação de data centers no estado.
Segundo a superintendente de experiência do cliente da companhia, Laís Tovar, a procura de empresas do setor pela Light disparou recentemente, graças a um conjunto de fatores, que envolvem a publicação, pelo governo federal, da MP (Medida Provisória) 1.318, do Redata (Regime Especial de Tributação para Data Center); esforços da prefeitura local para receber esses empreendimentos; e a capacidade da Light em atendê-las mediante “adaptação de questões internas”. A executiva falou a jornalistas na última terça-feira (11), em um almoço na sede da concessionária, no Centro do Rio.
“A Light tem se colocado como parceira desses agentes (big techs), adaptando as nossas questões internas para conseguir capturar todo esse ganho para a cidade e o estado. A gente já está sendo muito procurado”, disse Laís.
“Teve o Redata, que deixou mais competitivo esse mercado de data centers no Rio de Janeiro. Com isso, a procura aumentou. São cifras muito altas e uma demanda muito grande de energia. A gente hoje tem uma demanda média de 3 GW, e nossa expectativa é, em cinco anos, dobrá-la só com procura de data centers na região”, continuou. Ela lembrou que a demanda da área de concessão por energia já tem picos na casa dos 6 GW durante o verão, mas que, ainda assim, é possível subir a média.
A executiva destacou a iniciativa “Rio AI City”, da prefeitura do Rio, um plano que inclui a construção de uma área dedicada a data centers na região do Parque Olímpico, na Zona Oeste da capital, com capacidade inicial de prover 1,5 GW à data centers em uma primeira fase com entrega prevista para 2027. “Temos muita coisa assinada, já sendo desenvolvida”, disse ao citar o projeto do polo de data centers local.
O presidente da Light, Alexandre Nogueira, tem falado do interesse da companhia em atender projetos de data centers. Para além da recente facilitação a esses projetos por iniciativa das administrações federal e municipal, Nogueira tem destacado a resiliência da rede da Light, que deve ser ampliada por meio de redução constante dos furtos e um pacote de investimentos em modernização e renovação da sua rede, a ser iniciado após a renovação da concessão, o que deve acontecer em meados de 2026 – o processo foi avalizado na semana passada pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). Além disso, o executivo cita a localização estratégica do Rio, que conta com fornecimento redundante de energia por outras regiões e rede de dados, conexão direta com África, Europa e América do Norte.
Sandbox Tarifário
Com vistas a solucionar a questão dos furtos de forma mais estrutural, a Light tem avançado com dois programas de sandbox tarifário paralelos, um piloto de tarifas diferenciadas dentro da área de concessão, com cobranças fixas em áreas notabilizadas por furtos e inadimplência.
O primeiro programa em curso, chamado de “Light Controle” e feito em parceria com a ANEEL, engloba 10 mil unidades consumidoras em áreas da Zona Norte, Zona Oeste e do Município de Caxias, considerando faixas de faturas fixas entre R$ 60 e R$ 250 em função do nível do consumo de energia. O objetivo é testar um novo modelo de cobrança capaz de minimizar as perdas de energia e inadimplência e, assim, recuperar receita. O programa, autorizado pela agência reguladora, terá 36 meses de duração, e conta com R$ 18 milhões em investimento de Pesquisa e Inovação e contrapartida da empresa de até R$ 6 milhões.
Já o segundo programa, tocado de forma independente pela Light, testa uma tarifa fixa de R$ 90 nas comunidades Chapéu Mangueira e Babilônia, na Zona Sul da cidade. Lançado em fevereiro, o programa tem hoje 48% de adesão, por um total de 929 residências de um universo de 1.945.
Segundo a superintendente de Comunicação e Sustentabilidade da Light, Giovanna Curty, o piloto tem avançado rápido e vai, numa próxima etapa, alcançar mais uma comunidade, em Duque de Caxias. Além de regularizar a situação, os moradores recebem a conta de luz com a cobrança fixa e um indicativo do valor relativo ao consumo efetivo, com a finalidade de conscientização. A ideia é que, à frente, o pagamento da tarifa fixa e a permanência dentro de um limite de consumo dê acesso a benefícios, como desconto em atendimentos de saúde em uma clínica local, fruto de parceria da Light com a Agora Consulta. Essa contrapartida à regularização foi apontada como a mais indicada em pesquisa junto aos moradores, assim como a tarifa fixa de R$ 90.
“Nosso objetivo é tentar zerar perdas e mudar gradualmente a cultura do consumo [excessivo e não pago]. Não imaginamos que vamos ter receita adicional nesses territórios”, disse Giovanna.
A Light convive com um percentual de furto na casa dos 40% da energia que distribui. Isso equivale a R$ 1,3 bilhão anual não faturado, montante já atenuado por repasses nas contas de usuários adimplentes da área de concessão. A média nacional de furto de energia gira em torno de 15%.








