da Agência iNFRA
Implementado há 30 anos, o Plano Real pavimentou o caminho para o desenvolvimento da infraestrutura brasileira. Essa foi a avaliação da CEO do MoveInfra, Natália Marcassa, durante a abertura da palestra do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, na última quinta-feira (7), em evento que celebrou as três décadas da Lei de Concessões.
Para Natália, revisitar o passado é tão essencial quanto planejar o futuro. “A gente começou [o evento] ouvindo o que a gente quer para o futuro, a gente teve um painel de multimodalidade sobre o que a gente ainda pode melhorar, mas às vezes a gente esquece que a gente já foi muito pior. Todos esses arcabouços legais – Plano Real, estabilidade fiscal, e lei de concessões – deram a possibilidade de trilhar o caminho até o que a gente tem hoje, com investimentos de mais de 1,2 trilhão [de reais] em infraestrutura”, declarou.
“Uma andorinha só não faz verão”
Em sua apresentação, Pedro Malan revisitou a história do Plano Real e destacou, como principal lição para o desenvolvimento do país, a importância de uma liderança fundamentada em relações duradouras e na confiança mútua. Segundo Malan, “uma andorinha só não faz verão”. Para uma boa governança, é fundamental contar com um grupo de pessoas que compartilhem visão, propósito comum e direção clara.
O palestrante relembrou a forma como Itamar Franco, então presidente da República, convocou Fernando Henrique Cardoso para chefiar o Ministério da Fazenda. “O Itamar nos surpreendeu publicando no Diário Oficial que ele [Fernando Henrique Cardoso] havia sido designado ministro da Fazenda. Fernando Henrique Cardoso havia pedido para que eles conversassem com calma, quando ele voltasse ao Brasil, mas saiu a nomeação no Diário Oficial enquanto ele estava no exterior. O que ele [Itamar] seguiu para escolher o ministro da Fazenda? A primeira coisa que ele fez foi procurar as pessoas que ele conhecia de longa data. É uma grande lição, a primeira e mais importante lição do Real, que tem implicações para outras políticas públicas no Brasil”, afirmou.
Nomeado, Fernando Henrique Cardoso seguiu a mesma lógica, reunindo economistas com os quais já tinha uma relação consolidada, como Pérsio Arida, André Lara Resende e Gustavo Franco, além de Pedro Malan. Esses profissionais, que vinham de anos de discussões acadêmicas sobre dívida externa e inflação, formaram uma equipe coesa pelo propósito de estabilizar a economia. “O Real não teria acontecido sem Fernando Henrique Cardoso e sua equipe, que eram conhecidos de longa data […] as pessoas têm que se conhecer de longa data, têm que trabalhar juntas, discutir coisas juntas”, afirmou Malan.
Penalização será nas urnas
Na ocasião, Malan citou ainda as recentes eleições dos Estados Unidos. Para ele, o impacto da opinião pública sobre a inflação do país foi decisivo para a derrota de Biden e vitória de Trump. “Na maioria da opinião pública americana, aparece uma preocupação [de] que a inflação subiu muito na gestão Biden. […] Agora está baixando, está convergindo para a meta, mas a sensação de um americano médio é que o nível da inflação aumentou. Ele está pagando hoje mais por produtos básicos, mais do que ele pagava antes. Eles atribuem isso ao governo do Biden, que não resolveu esse assunto.”
O cenário, segundo Malan, reflete uma percepção compartilhada por muitos eleitores no Brasil, que, após 30 anos do Plano Real, passaram a ver a preservação da inflação baixa como uma obrigação de qualquer governo. “Qualquer governante hoje, no Brasil, que tenha uma atitude excessivamente leniente em relação à inflação, será penalizado nas urnas”, afirmou.
“Divisor de águas”
Em um contexto de hiperinflação, com índices que ultrapassavam 2.000% ao ano em 1993, o Plano Real e a Lei de Concessões foram verdadeiros divisores de águas. “É muito interessante ver como nós avançamos ao longo desses últimos 30 anos em várias áreas. O Real e a Lei foram divisores de águas. Tem um Brasil antes do Real e tem um Brasil antes da Lei, porque tudo na vida pode ser aperfeiçoado e melhorado”, enfatizou Malan.