Leila Coimbra e Nestor Rabello, da Agência iNFRA
O cenário de falta de chuvas e falta de gás natural é crítico para a segurança energética do país, e existe uma probabilidade de racionamento, mas muito baixa, segundo especialistas do setor elétrico ouvidos pela Agência iNFRA.
O consultor da Thymos, Pedro Moro, estima que a situação hídrica no país deve melhor a partir da próxima semana, quando aposta que as afluências devem aumentar. Ele cita que os últimos três meses sobrecarregaram o sistema elétrico com recordes de escassez no país.
Moro aponta que o risco de racionamento em um contexto como este é baixo, mas pode ser considerado, já que o clima pode surpreender. “Não é um cenário base [racionamento]. Lógico que tem um risco. Quando a gente fala de meteorologia e de chuva, sempre existe o risco.”
Ele acredita que haverá uma alta no consumo de energia, mas nada fora do que já está previsto pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Moro aponta ainda que, confirmada a melhora nas afluências, a bandeira tarifária ficará amarela em janeiro e, nos meses seguintes, é possível que não haja mais cobranças adicionais nas tarifas do consumidor.
Já o diretor-executivo da Neal e ex-diretor da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), Edvaldo Santana, afirmou que o atraso prolongado da entrada do período úmido preocupa e piora o cenário para a segurança energética “a cada semana”.
De acordo com ele, o acionamento da bandeira tarifária no patamar vermelho 2 é o último passo, em termos regulatórios, antes de ser necessário adotar medidas mais drásticas, como a racionalização da energia.
“A bandeira vermelha é o primeiro passo para tentar frear o consumo, mas não vai conseguir. De qualquer maneira, algo tem de ser feito para não precisar cortar parte da carga, ou medida de racionalização mais grave”, disse.
“Depois da bandeira vermelha, do ponto de vista regulatório, não tem mais nada. É o governo dizer para as pessoas consumirem menos antes de começar a cortar”, resumiu.
Ele acrescentou que o CMO (Custo Marginal de Operação) já chegou aos R$ 750,00 MWh (megawatt-hora), o que indica que não há térmicas a serem despachadas para atenderem à demanda.
Edvaldo, no entanto, não vê riscos para a queda da importação do gás natural em termos de segurança energética.
Para o CEO da PSR, Luiz Barroso, o ano de 2020 foi marcado por uma reversão nas expectativas sobre a evolução das chuvas, o que causou desde setembro um aumento forte dos preços da energia.
“No entanto é necessário muito cuidado nas análises para o suprimento da energia no ano que vem e conclusões precipitadas, pois estamos na transição para o período úmido, e, como o setor sempre faz, é necessário monitorar a situação de perto”, disse.
“Veja: há a possibilidade de chuva nesta próxima semana e os preços de energia para o primeiro trimestre de 2021 já inclusive caíram. Para 2021, há 5 GW de oferta nova entrando, com 1,3 GW de térmica a gás, e o resto é renovável. Enfim, há que ter calma”, pontuou.