Anunciando que produzirá ‘potássio verde’, Adriano Espeschit diz que georreferenciamento é aliado do agro.
“O fertilizante é um insumo historicamente importante para o Brasil, e ajudou o país a sair da condição de importador de alimentos para figurar entre os maiores produtores mundiais. Temos potencial para nos tornarmos autossuficientes também na produção de potássio.” Quem garante é Adriano Espeschit, presidente da Potássio do Brasil, empresa que conduz o Projeto Autazes, de produção de cloreto de potássio, no município de Autazes, a 112 km de Manaus (AM).
Em entrevista à Agência Geocracia, ele diz que falar de potássio é “falar de segurança alimentar, é proporcionar autonomia para o país, é utilizar todas as potencialidades da nossa produção agrícola. Por isso, falar de potássio é falar de soberania nacional”.
Apostando na engenharia sustentável, Autazes usará um método de câmaras e pilares para extração da silvinita (rocha composta de halita – cloreto de sódio – e silvita – cloreto de potássio) que promete não causar danos ao solo da superfície nem ao meio ambiente.
Adriano salienta ainda que, por assegurar a procedência e a qualidade dos produtos originados no país, o georreferenciamento é um aliado da agricultura brasileira: “Isso traz um diferencial aos nossos produtos no mercado interno e externo, porque atesta o que todos já sabemos – que nossos produtores têm preocupação com as boas práticas de fabricação e produção. Nossos produtos são ‘verdes’, e a Potássio do Brasil irá produzir o potássio verde”.
Acompanhe, a seguir, a entrevista na íntegra.
Na pauta brasileira de importações, fica evidente a dependência de fontes de potássio (K), principalmente do Leste Europeu. A guerra na Ucrânia expôs nossa perigosa dependência do fator fertilizante, sobretudo os ricos em potássio. Por que ainda não diminuímos essa dependência que ainda é um problema para o Brasil?
O Brasil é um dos principais produtores de alimentos no mundo, sendo o responsável por 20% dos alimentos produzidos no planeta. Porém, importa mais de 96% do potássio que consome, principalmente do Canadá, da Rússia e da Bielorrússia.
Esse fertilizante é o principal nutriente utilizado pelos produtores rurais brasileiros, contribuindo para atender a demanda oriunda da produção agropecuária, alimentos processados e biocombustíveis. Por isso, deve ser tratado como um insumo estratégico para o desenvolvimento do país nos próximos anos. Sem fertilizante, não há agronegócio no Brasil.
Temos 1/3 das áreas agricultáveis em todo o mundo. Temos grandes mercados internos. Só o Projeto Potássio Autazes atenderia cerca de metade da necessidade do Mato Grosso, por exemplo. O país tem potencial para não apenas se tornar autossuficiente na mineração do potássio, mas também um dos maiores produtores do mundo.
Então, este é o momento de definirmos as políticas de desenvolvimento da cadeia produtiva de fertilizantes no Brasil. Precisamos de um modelo que respeite o meio ambiente e que, ao mesmo tempo, seja capaz de utilizar todo o potencial produtivo do país e a força da nossa gente.
Da mesma forma, também é necessário ampliar o investimento em pesquisa para a prospecção de novas fontes de potássio, viabilizar a operação de projetos em andamento, além de atrair e fixar investimentos. É importante lembrar que grandes players do setor estão entrando no Brasil. Por isso, é estratégico termos diretrizes bem definidas.
Nesse sentido, estamos trabalhando em parceria com o governo federal e com o governo do Amazonas na operacionalização do Plano Nacional de Fertilizantes publicado no início de 2022 e com metas para 2030 e 2050. Esse é um plano estruturante. É um plano de Estado, não é um plano de governo. Por isso, estamos certos de que continuaremos caminhando em conjunto para buscarmos modelos de negócios sustentáveis para a Amazônia, de modo a atender as demandas da sociedade brasileira criando condições para garantir a segurança alimentar do Brasil e do Mundo.
Somente fortalecendo a produção nacional conseguiremos estar menos vulneráveis às oscilações econômicas e políticas de outros países no que se refere ao suprimento de fertilizantes.
Atualmente é possível obter potássio de forma a não degradar o ambiente, tanto no processamento quanto em sua aplicação?
Sim. E o Projeto Potássio Autazes é um exemplo disso. Na verdade, os fertilizantes em si já proporcionam o aumento da produtividade com sustentabilidade ao viabilizar o reúso da terra, o que evita o desmatamento de novas áreas para cultivo.
Falando especificamente da Potássio, a empresa possui critérios e práticas concretas de ESG [sigla em inglês para Environment, Social and Governance, ou Meio Ambiente, Social e Governança Corporativa, traduzindo para o português]. Assim, a companhia tornará o Projeto Potássio Autazes uma referência na produção mineral sustentável no país. Antes mesmo de iniciarmos nossas atividades, já estamos implantando ações voltadas aos aspectos socioeconômicos e ambientais em conjunto com diversas entidades governamentais e não governamentais.
Na prática, nossa atuação está pautada em projetos que tenham o menor impacto ao meio ambiente, que sejam socialmente justos e comprometidos com o desenvolvimento humano, além de obedecerem as normas e a legislação brasileira de forma integral.
Para começar, não haverá desmatamento de floresta primária (mata virgem) em nenhuma área para a implantação fabril e extração da silvinita em Autazes, tendo em vista que o terreno das futuras instalações industriais é uma área anteriormente utilizada para a pastagem de gado.
Ainda assim, a empresa terá poucas atividades em superfície, apenas a planta de beneficiamento, a estrada de acesso e o porto de embarque do potássio para o mercado consumidor brasileiro. As atividades de mineração serão realizadas no subsolo, a uma profundidade de cerca de 800 metros.
Mesmo assim, nós temos o forte compromisso de reflorestar uma área dez vezes maior do que essa área que iremos ocupar na superfície. Mais de 20 mil mudas já foram doadas ao município de Autazes, neste ano, para projetos de reflorestamento e arborização urbana.
A Potássio do Brasil criou o PAS (Programa Autazes Sustentável) com mais de 30 projetos socioeconômicos e ambientais para aplicar na região. Um deles é o de fornecimento subsidiado de cloreto de potássio para agricultores familiares, para evitar que haja desmatamento por conta da atividade e promova um melhor aproveitamento do solo das pequenas e médias produções destas famílias.
A evolução verificada na atividade de mineração, nas últimas décadas, está relacionada principalmente à crescente preocupação com as questões ambientais, com a segurança das operações e com o avanço tecnológico.
O Serviço Geológico do Brasil, empresa pública ligada ao Ministério de Minas e Energia, identificou na Bacia do Amazonas novas ocorrências e ampliou em 70% a potencialidade sobre depósitos de sais de potássio. Em um ambiente no qual importamos 96,5% do cloreto de potássio e somos um dos maiores produtores agrícolas do mundo, é correto afirmar que sua extração no Brasil passa a ser questão de soberania?
O fertilizante é um insumo historicamente importante para o Brasil, inclusive ajudou o país a sair da condição de importador de alimentos para figurar entre os maiores produtores mundiais. Temos potencial para nos tornarmos autossuficientes também na produção de potássio. A produção interna desse fertilizante poderá reduzir em cerca de 80% a emissão de gases de efeito estufa, levando em conta a matriz energética brasileira e a menor distância que os navios transportadores do potássio irão percorrer.
Portanto, falar de potássio é falar de segurança alimentar, é proporcionar autonomia para o país, é utilizar todas as potencialidades da nossa produção agrícola. Por isso, falar de potássio é falar de soberania nacional.
Nossa legislação ambiental é muito rígida nos casos de atividades extrativas em florestas. Como ferramentas de georreferenciamento podem ajudar a mitigar os impactos e comprovar a rastreabilidade dos insumos agrícolas quando EUA e a UE pressionam o agronegócio brasileiro a demonstrar a procedência de seus produtos?
A agricultura brasileira é um exemplo de produtividade e de gestão das florestas, pois a mata forma uma espécie de “cinturão verde” que ajuda no controle natural de pragas. Além disso, atua dentro da legislação vigente no país. Então apoiamos todas as iniciativas nesse sentido, que atestam que os produtos brasileiros seguem rigidamente a legislação e normas vigentes no país e as melhores práticas mundiais.
Portanto, o georreferenciamento é um aliado da agricultura brasileira porque assegura a procedência e a qualidade dos produtos originados no país.
Isso traz um diferencial aos nossos produtos no mercado interno e externo, porque atesta o que todos já sabemos: que nossos produtores têm preocupação com as boas práticas de fabricação e produção. Nossos produtos são “verdes”. A Potássio do Brasil irá produzir o potássio verde.
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