iNFRADebate: Covid-19 expõe urgência da transformação digital na infraestrutura de transportes e obras

Moacir Antônio Marafon*

As inovações disruptivas demonstram ser capazes de mudar o mundo numa velocidade nunca antes vista. E especialmente nos últimos meses, com o impacto da pandemia de Covid-19 – que revelou-se um desafio humanitário, sanitário e econômico –, a aceleração digital foi posta à prova e, em tempo recorde, assumiu a vanguarda de diferentes negócios que precisaram reinventar-se para conter os efeitos da crise. Em áreas como saúde, alimentação e turismo, os impactos foram visíveis. No entanto chama a atenção o quanto o coronavírus vem acelerando a digitalização no setor público. Um dos grandes exemplos dessa virada vem do segmento de infraestrutura de transportes, obras e mobilidade, essencial para o desenvolvimento do país. 

O ser humano nunca dependeu tanto do digital para sobreviver e, com isso, podemos afirmar que esse é o momento do digital. Quando falamos sobre inovações em infraestrutura de transportes rodoviários precisamos olhar para as grandes tendências mundiais: surgem os veículos autônomos, que poderão reduzir os acidentes em 90%, e vias inteligentes com circulação em formação de comboio, sem parar, com velocidade constante e sincronizado com semáforos; estradas inteligentes, mais funcionais, seguras e convenientes; controle inteligente do tráfego com veículos conectados entre si e com a estrada via Internet das Coisas, Big Data, Inteligência Artificial e algoritmos com “conhecimento” de legislação; além do já implantado transporte em veículos compartilhados, podendo reduzir a frota de veículos em até 90%; e drones transportando pessoas.

Este “mundo novo” vai chegar nas rodovias, podendo ser ainda melhor e diferente, pois a cada dia temos disponíveis mais tecnologias e inovações para o bem das pessoas. Essas transformações foram debatidas nesta quinta-feira (10), na live “Impacto das tecnologias nas estradas do futuro”, transmitida no YouTube via Abder (Associação Brasileira dos Departamentos Estaduais de Estradas de Rodagem). O encontro foi mediado pelo engenheiro Maurício Marques, secretário-geral e coordenador do GT de Tecnologia da Abder. Eu participei como representante da Softplan, ao lado de Anderson Germano, gerente de Departamento da Diretoria de Relacionamento com Clientes do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), e Geraldo Melo, coordenador de Tecnologia da Informação do DER-DF (Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal). 

Mudanças começam do papel para o digital
No encontro, além das tendências de futuro e tecnologia para o setor, serão evidenciadas as soluções que estão sendo empregadas pouco a pouco nos órgãos rodoviários brasileiros e que têm suas implantações aceleradas pela Covid-19. Nesse contexto, destaca-se, por exemplo, a digitalização de processos e documentos. Não temos como falar em mundo digital quando ainda circulam toneladas de papel nos órgãos públicos. O papel alavancou a humanidade, distribuiu conhecimento e nos acompanha do nascimento até a morte, mas passou a ser vilão da ineficiência e burocracia. Tornou-se ainda agente perigoso de transmissão do novo coronavírus – que se mantém vivo por até cinco dias em sua superfície. Sabemos que toneladas de papel transitam entre várias mãos – dos empreiteiros aos fiscais de obras e gestores do órgão fiscalizador – e não há mais espaço, nem segurança, para usá-lo.

É totalmente viável, com as tecnologias existentes, digitalizar esses e muitos outros processos imediatamente. Em Santa Catarina, na Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade do Estado, contratos, aditivos e medições já são todos geridos digitalmente. A Secretaria de Infraestrutura do Amazonas é outro órgão que está adotando solução de tecnologia que instituiu o “diário de obras digital”, facilitando as ações entre fiscais e empresas construtoras. Outra vantagem é a transparência à sociedade nos portais desses órgãos, nos quais é possível acompanhar como os recursos públicos são investidos.

Fiscalização e segurança
A tecnologia também está permitindo aumentar a capacidade de fiscalização das rodovias – tão importante para garantir a segurança dos usuários e fonte de arrecadação de recursos para serem reinvestidos em melhorias das estradas. Além disso, permite diminuir o contato entre agentes de trânsito e condutores, por meio de soluções em dispositivos móveis que verificam a regularidade de documentos, licenciamentos, aplicação de multas e concessões de autorizações especiais de trânsito, cargas perigosas, entre outros.

O DER-MG (Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais) é um exemplo, ao implementar o Portal de Multas – plataforma digital que atende todas as pessoas usuárias das rodovias estaduais mineiras. O portal fez com que os processos sejam 100% digitais, agilizando o andamento das demandas. Mesmo com o isolamento social, os usuários das rodovias podem consultar multas, fazer pagamentos, pedir revisão, a partir de suas casas. Há ainda a assinatura digital nos processos.

Igualmente se tornou desnecessário ir aos órgãos solicitar a autorização ou a regularização da ocupação onerosa da faixa de domínio das rodovias. Já é possível fazer isso via soluções de TI especializadas. Por meio de imagens de satélite é possível criar camadas de visualização das informações de maneira a encontrar os pontos onde há ocupações irregulares, fazendo isso na segurança dos escritórios, deslocando os agentes para uma fiscalização in loco somente quando necessário. Essa é a realidade do DER-DF, em que a gestão da faixa de domínio é realizada por aplicativo mobile, aumentando a produtividade e a arrecadação e otimizando recursos e trabalho.

É importante atentarmos para o fato de que, a partir do momento que organizamos a informação por meios digitais, conseguimos extrair inteligência, fazer análise, identificar gargalos e otimizar processos, porque os dados “falam”. Os exemplos acima mostram ser possível fazer com que o cidadão possa interagir com o governo a qualquer momento e aonde estiver, com maior transparência e, consequentemente, confiança nos gestores públicos.

E isto é apenas o começo, pois a transformação digital é um processo sem volta. Como diz o escritor e futurista norte-americano Alvin Toffler, conhecido pelos seus escritos sobre a revolução digital e a singularidade tecnológica, “os analfabetos do século XXI não serão aqueles que não souberem ler ou escrever, mas aqueles que não souberem aprender, desaprender e reaprender”.

*Moacir Antônio Marafon é engenheiro civil, pós-graduado em Planejamento Econômico e Ciência da Computação, e co-founder da Softplan.
O iNFRADebate é o espaço de artigos da Agência iNFRA com opiniões de seus atores que não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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