Gabriel Vasconcelos, da Agência iNFRA
A Petrobras reduziu o preço do diesel produzido em suas refinarias pela terceira vez em pouco mais de um mês para não perder espaço no mercado após identificar um aumento na importação do produto a preços menores, disseram fontes da estatal à Agência iNFRA. O mesmo não tem acontecido com a gasolina, que, por isso, teve o preço de refinaria mantido, ainda que hoje a Petrobras também venda o combustível acima do preço de importação.
Desta vez, o litro de diesel da Petrobras caiu R$ 0,16 ou 4,6%, para R$ 3,21. Segundo a Abicom (Associação Brasileira de Importadores e Combustíveis), antes da redução, o diesel Petrobras era vendido 9% ou R$ 0,32 por litro acima do preço de importação relativo ao Golfo do México (EUA). O nível de preço da estatal estava ainda mais alto se comparado a outras referências internacionais, como o diesel russo, que ainda domina o mercado nacional a preços descontados com relação ao de origem americana.
Segundo Thiago Vetter, consultor de Gerenciamento de Risco da StoneX, o diesel Petrobras estava cerca de R$ 0,50 por litro acima do chamado “PPI mínimo”, que inclui o preço russo. “Depois da redução, esse preço ainda segue 34 centavos acima do PPI mínimo e 23 centavos considerando o produto do Golfo dos EUA. Nos termos atuais do mercado, seria adequado que a empresa seguisse reduzindo preços”, avalia Vetter.
Uma das fontes ouvidas reforçou que a companhia observou, mais uma vez, três componentes para a tomada de decisão: um dólar que tem cedido ante o real; a cotação cadente do barril de petróleo do tipo Brent; e o cenário de importação para proteção de market share, que pesou. A cotação do Brent caiu cerca de 3% no início da tarde, refletindo a decisão da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e aliados de aumentar a produção de petróleo.
“Não é interessante para o sistema verticalizado da Petrobras ver um aumento grande da importação, como estava acontecendo com o diesel. Foi nessa linha que a gente fez [o reajuste] e sempre fará. Se precisar aumentar depois, faremos isso. Queremos criação de valor, mas com preço justo, e sempre considerando o ‘market share'”, disse à Agência iNFRA uma fonte com acesso à formação de preços da companhia.
Em que pese a constante pressão do governo pelo barateamento dos combustíveis da estatal, nos bastidores, a queda do diesel Petrobras já estava precificada pelo mercado em função do sobrepreço ante os valores internacionais.
Gasolina
Embora a gasolina Petrobras também seja vendida hoje a distribuidoras acima do PPI (Preço de Paridade de Importação) – 9% ou R$ 0,26 por litro, segundo a Abicom –, os técnicos da Petrobras optaram por não mexer no preço do produto porque a diferença nominal para a referência internacional é menor, assim como o movimento de importação.
“Não vimos ingresso de gasolina [no país] como vimos de diesel. A paridade de preço neste caso está mais justa. O que descolou mais foi mesmo o diesel”, diz a fonte.
Também está no horizonte estratégico da companhia o início da “driving season”, o período de férias nos Estados Unidos, entre o fim de maio e início de setembro, quando o consumo de gasolina aumenta, pressionando as cotações internacionais do derivado.
Como a Petrobras evita repassar volatilidade para seus preços, eventual mudança no momento poderia exigir aumento compensatório à frente. Mesmo assim, analistas e operadores do mercado de distribuição não descartam uma redução na gasolina nos próximos dias.