Rafael Bitencourt, da Agência iNFRA
A corrida para criar políticas de incentivo à exploração de minerais estratégicos para transição energética e indústria de alta tecnologia – como lítio, cobalto, níquel, cobre e terras raras – tem levado mineradoras tradicionais a pleitearem a melhora do ambiente de negócio também para a produção de minerais tradicionais ainda bastante valorizados no mercado internacional, como minério de ferro e ouro.
Em entrevista à Agência iNFRA, a presidente da Anglo American Brasil, Ana Sanches, disse que o direcionamento da política pública é muito debatido dentro do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração), onde atua como presidente do conselho diretor.
Mesmo vinculado às grandes mineradoras, o Ibram defende abertamente a exploração de minerais estratégicos. A entidade chegou a publicar recentemente um caderno explicativo para ajudar a aprofundar as discussões sobre o tema às vésperas da realização da COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) no Brasil.
Entre as maiores mineradoras do país, os executivos reconhecem que os minerais mais demandados para a transição energética devem ter a produção estimulada. Porém, eles defendem a visão de que “o mundo seguirá precisando de minério de ferro, por exemplo, e uma gama de produtos minerais tradicionais para continuar se desenvolvendo”, destacou uma fonte do setor que acompanha de perto as discussões.
Sanches disse que o grupo britânico Anglo American assumiu a estratégia de reduzir a variedade de minérios comercializados, mas mantendo participação entre minérios importantes no processo de eletrificação da economia, além de minerais tradicionais com grande demanda global.
“O grupo teve uma mudança no seu posicionamento estratégico, uma simplificação de portfólio, focando agora em cobre, minério de ferro de alto teor e fertilizantes”, disse a CEO da Anglo American Brasil. “Estamos apostando no portfólio mais simples, com um menor número de commodities, e ao mesmo tempo em minerais que a empresa acredita que vão ser essenciais para o futuro, seja nesse futuro da transição energética e também em todas as demandas que a gente vai ver com o desenvolvimento e progresso da sociedade”, completou.
Política para Minerais Estratégicos
Atualmente, o MME (Ministério de Minas e Energia) está preparando um programa de incentivo aos minerais estratégicos para a transição energética, iniciativa apelidada de “MEL” (Minerais para Energia Limpa).
O governo pretende lançar a nova política até a primeira semana de novembro, antes da abertura da COP 30. Ao mesmo tempo, o Congresso discute a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos, com o PL (Projeto de Lei) 2.780/24. O texto é de autoria do deputado federal Zé Silva (Solidariedade-MG).
Kinross Brasil
A diretora de relações governamentais e responsabilidade social da Kinross Brasil, Ana Cunha, disse à Agência iNFRA que, “sem dúvida nenhuma, toda essa discussão dos minerais críticos e estratégicos é uma discussão muito importante”. Segundo ela, a relevância do tema para o Brasil não é explicada apenas pelo apelo da transição energética, mas pelo “potencial que o país tem para contribuir globalmente” diante das reservas a serem exploradas.
Cunha, porém, avalia que a atividade econômica que gira em torno dos minerais tradicionais não deve ser esquecida pelo poder público. “A gente precisa olhar para todos os minerais como ativos importantes hoje, quando a gente olha pro Brasil e todo seu potencial dentro do setor mineral”, disse a executiva da subsidiária do grupo canadense.
Questão de “prioridade”
A diretora de assuntos corporativos e sustentabilidade da mineradora australiana PLS, Marisa Cesar, ressalta que “o mundo inteiro está tratando os minerais críticos e estratégicos com políticas específicas” diante da importância que ganhou no cenário internacional. Para ela, isso não significa que estão “desvalorizando os outros segmentos” da mineração.
“Pelo contrário, estamos olhando com atenção para uma agenda que exige prioridade, planejamento e um posicionamento estratégico do Brasil. Na minha visão uma escolha inteligente. Se tentarmos tratar todos os minerais com a mesma régua, corremos o risco de não sermos competitivos justamente onde temos mais vantagem”, disse a executiva da PLS. “Com uma política voltada para os minerais críticos, conseguimos atrair investimentos, desenvolver tecnologia, agregar valor dentro do país e ainda fortalecer a governança do setor como um todo”, acrescentou.
A PLS é considerada a maior produtora mundial de lítio de rocha dura. No Brasil, o grupo australiano assumiu a operação do Projeto Colina, localizado a dez quilômetros da cidade mineira de Salinas, ao adquirir a Pilbara Minerals, em 2025.
Marisa ressalta que, com uma política específica para minerais críticos, o Brasil terá condições de ser “um grande player” nessa agenda. “Somos um dos poucos países com uma variedade significativa de minerais estratégicos – como lítio, nióbio, grafite e terras raras – e com potencial de produzir com segurança jurídica, ambiental e social”, disse à Agência iNFRA, considerando que essa seria uma forma de “puxar para cima” a cadeia de produção com mais inovação e sustentabilidade.








