O futuro sustentável a partir do concreto descarbonizado

Patricia Muricy*

O concreto é o material fabricado pelo homem mais utilizado na Terra. É também uma fonte significativa de emissões de dióxido de carbono (CO2) geradas pelo ser humano, representando cerca de 7% das emissões globais. Muitos fornecedores de cimento e concreto já têm tomado medidas para reduzir suas emissões aumentando a eficiência energética de fornos e outros equipamentos e usando materiais cimentícios suplementares e combustíveis alternativos de menor teor de carbono.

No entanto, mesmo com a adoção de todos esses métodos, uma fábrica de cimento é capaz reduzir as emissões em apenas 50% a 60%. Para se descarbonizar completamente, fabricantes de cimento e concreto precisarão de outras soluções.

A jornada para a neutralidade de carbono não é apenas uma questão de responsabilidade ambiental, mas também uma oportunidade para impulsionar a inovação e a competitividade dessa indústria. As soluções estão surgindo, e é hora de abraçá-las com determinação e visão de futuro. Olhando para as soluções de Captura, Utilização e Armazenamento de Carbono (em inglês, CCUS – Carbon capture, utilization and storage), vemos um potencial incrível.

A captura e armazenamento de carbono ainda não foi implementada em escala comercial em uma fábrica de cimento, mas há dezenas de projetos em desenvolvimento pelo mundo, com alguns com potencial para atingir a maturidade comercial até 2030. Grande parte dessa atividade está concentrada na Europa.

Fabricantes de cimento tradicionais no continente europeu já reduziram substancialmente a intensidade de carbono de suas operações por meio de soluções como combustíveis alternativos, como a biomassa, fonte renovável que pode substituir derivados de combustíveis fósseis.

Agora, enfrentam a perspectiva de redução de permissões gratuitas de emissões de carbono sob o esquema de negociação de emissões da União Europeia em sua proposta legislativa “Fit for 55” – pacote de propostas legislativas que visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 55% até 2030, em comparação com os níveis de 1990.

O pacote limita, ainda, as emissões por meio da imposição à indústria de cotas de emissões. Se as emissões da empresa são superiores à cota a qual ela tinha direito, a empresa deve comprar partes suplementares no mercado de carbono. Para estimular a indústria a emitir menos gases de efeito estufa, as cotas diminuem progressivamente.

Menos concessões provavelmente os levarão a fazer cortes mais profundos nas emissões, potencialmente por meio de CCUS, ou aumentar os preços para compensar custos mais altos. Com o desenvolvimento de projetos ao redor do mundo espera-se capturar mais de 400.000 toneladas de CO2 por ano a partir de 2024. Este é um passo significativo na direção certa, mas ainda há muito a ser feito.

As tecnologias de captura de carbono estão avançando, com métodos como a captura pós-combustão à base de amina sendo cada vez mais eficientes. Com incentivos governamentais, como o aumento do crédito tributário nos EUA e os fundos de financiamento no Reino Unido, o caminho para a implementação dessas tecnologias está mais claro.

Por outro lado, as Químicas Alternativas de Cimento (em inglês ACCs – alternative cement chemistries) apresentam-se como verdadeiros catalisadores para a transformação da indústria. Com diversas startups liderando o caminho, vemos um potencial imenso para substituir o cimento Portland comum (OPC – ordinary portland cement) por opções de menor impacto ambiental.

Dezenas de startups estão trabalhando em CCUS e ACCs. Combinadas, elas representam mais de dois terços das empresas de concreto de menor teor de carbono e US$ 954 milhões de um total de US$ 1,7 bilhão em financiamento arrecadado desde 2018, com base em um relatório que a Deloitte fez a partir da base de dados do ecossistema GreenSpace Tech, hub global de informações voltado a ligar tecnologias climáticas à indústria, ao detalhar tendências de mercado, oportunidades e desafios relacionados a essas tecnologias, bem como seu potencial para apoiar a descarbonização.

A transição para o concreto descarbonizado não é apenas possível, mas também vantajosa em termos econômicos e ambientais. Os benefícios vão além da redução de emissões: maior durabilidade, menor necessidade de manutenção e até mesmo a criação de produtos com emissões líquidas negativas são resultados tangíveis dessa mudança de paradigma.

Portanto, é essencial que governos, empresas e sociedade civil se unam para impulsionar essa transformação. A conscientização sobre as vantagens das ACCs e as oportunidades oferecidas pela CCUS são passos cruciais para acelerar a transição.

Sem dúvida, o caminho para a neutralidade de carbono no setor do concreto é desafiador, mas também promissor. Com inovação, colaboração e comprometimento, podemos pavimentar o caminho para um futuro sustentável, em que o concreto que constrói nossas cidades também ajuda a construir um mundo mais limpo e saudável para as gerações futuras.

*Patricia Muricy é sócia-líder da Indústria de Mineração da Deloitte.
As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto

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