PLD deve ficar entre R$ 85 e R$ 150 no sudeste com GD solar e térmicas no período 2025-2030, diz PSR

Roberto Rockmann*

O avanço da GD (geração distribuída) solar, a entrada de térmicas autorizadas pela capitalização da Eletrobras e o acréscimo de potência com empreendimentos que buscaram isenção dos custos de transmissão com a Lei 14.120/2021 reduzirão as estimativas de PLD (Preço de Liquidação das Diferenças) para o período 2025-2030, segundo avaliação da consultoria PSR.

Os preços devem ficar entre R$ 85 e R$ 150 o MWh, a depender de variáveis que influenciarão a sobreoferta física, de acordo com dados apresentados nesta quinta-feira (30) em workshop realizado pela consultoria no Rio de Janeiro. O mais provável é que o PLD permaneça em R$ 90 o MWh.

Cenário referência e mais quatro
O cenário de referência usado nas simulações baseou-se em ENA (energia natural afluente) de 86%, nos projetos de GD solar existentes, na demanda com aumento de 2,8% ao ano e no PMO (Preço Mensal de Operação) de janeiro deste ano. Com isso, o preço do contrato para o Sudeste do período 2025-2030 ficaria em R$ 150 o MWh.

Além do quadro usado como referência, foram simulados outros quatro cenários pela PSR. No primeiro cenário de simulação, a GD solar, hoje em cerca de 19 GW, passaria para 43 GW em 2031 (acima da projeção de 33 GW da EPE – Empresa de Pesquisa Energética). Com o acréscimo da geração descentralizada, impulsionada pelos subsídios de desconto na conexão da rede concedido pela Lei 14.300/2022, o PLD ficaria em R$ 123 o MWh entre 2025 e 2030.

O segundo cenário inclui, além da GD, as térmicas autorizadas para contratação pela Lei 14.182/2021, que permitiu a capitalização da Eletrobras. A PSR estima que, dos 8 GW estipulados para a contratação pela legislação, o mais provável é que seja viável, por conta do preço do gás e da pequena malha brasileira de dutos, a contratação de 2,8 GW de empreendimentos. Nesse cenário, o PLD iria para R$ 110 o MWh.

No terceiro cenário apresentado, a consultoria adiciona também o impacto da corrida de ouro, provocado pela busca do subsídio para a conexão, o que levaria a entrada de 15 GW em projetos. O PLD ficaria em R$ 90 o MWh. 

Já no quarto cenário estão contemplados a GD solar, a corrida de ouro das renováveis e todos os 8 GW em térmicas da Eletrobras, que entrariam em operação, e o preço cairia para R$ 85 o MWh.

Crescimento do PIB
Alguns fatores poderiam elevar os preços, afirmou Mateus Cavaliere, gerente de projetos da consultoria. Um é o crescimento da economia, por exemplo, se o PIB crescesse 2,5% ao ano. Isso poderia levar o PLD de R$ 90 para R$ 99. Outra variável é a hidrologia entre 2025 e 2030: se a ENA ficar em 80%, o PLD poderia ficar em R$ 156. Se ficar em 90%, ficaria em R$ 118.

“Vive-se um cenário de sobreoferta, com muita energia inflexível, com um cenário potencializado por reservatórios cheios e economia fraca”, analisou Rodrigo Gelli, diretor técnico da área de estudos energéticos da PSR. “O modelo atual esgotou-se, esses preços machucam os geradores, com impacto sobre o fluxo de caixa. Isso faz com que discussões surjam, como a do PLD mínimo”, disse.

Isso poderá abrir discussões sobre novas formas de remuneração do gerador, como cálculo da contribuição individual de cada um, aferição da qualidade do serviço, e definição de requisitos necessários para o sistema, como flexibilidade e atendimento a horário de ponta.

Solar: preço mais baixo ao meio-dia
O avanço da GD solar e dos parques centralizados solares terão outro impacto sobre o sistema: preço mais baixo perto do meio-dia e mais alto no fim da tarde, como já se vê na Califórnia. “A gestão de risco será ainda mais importante, e a gestão de portfólio de contratos também”, afirmou Edmundo Grune, diretor técnico da PSR.

No evento, também se discutiu a polêmica em relação à disputa judicial envolvendo a definição do PLD Mínimo. O CEO da PSR, Luiz Barroso, destacou que o tema é urgente. “Ele deveria ser o item número zero da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). Não se pode correr o risco de discutir na Justiça e há muita urgência, porque alguns agentes precisam compor o portfólio de contratos para 2024 e isso envolve até liquidação de sobrecontratação de distribuidoras. É preciso discutir com tecnicidade e não ficar na disputa entre comprados e vendidos.”

*Roberto Rockmann é escritor e jornalista. Coautor do livro “Curto-Circuito, quando o Brasil quase ficou às escuras” e produtor do podcast quinzenal “Giro Energia” sobre o setor elétrico. Organizou em 2018 o livro de 20 anos do mercado livre de energia elétrica, editado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além de vários outros livros e trabalhos premiados.

As opiniões dos autores não refletem necessariamente o pensamento da Agência iNFRA, sendo de total responsabilidade do autor as informações, juízos de valor e conceitos descritos no texto.

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