Marília Sena, da Agência iNFRA
A decisão de tarifar em 50% a importação de produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na última quarta-feira (9), só deve impactar a atividade do Porto de Santos caso o governo brasileiro adote o princípio da reciprocidade em proporções semelhantes. A avaliação é do diretor-presidente da APS (Autoridade Portuária de Santos), Anderson Pomini.
Segundo o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), em 2024, o Brasil comprou US$ 1,045 bilhão em medicamentos e produtos farmacêuticos dos Estados Unidos, o que representa 2,6% do total importado do parceiro comercial no ano. Medicamentos veterinários somaram 2,3%; motores e máquinas, 15%; aeronaves, 4,9%; e óleos combustíveis de petróleo ou minerais betuminosos, 9,7%.
Caso o Brasil adote a reciprocidade também taxando produtos americanos no mesmo patamar, a operação no porto de Santos pode ter um impacto maior. O presidente da APS avalia que a medida pode diminuir a movimentação de cargas no maior terminal da América Latina. “Se reduz a exportação e a própria importação, pode ser que a gente tenha uma redução de movimentação de cargas”, analisou o diretor-presidente, indicando que estudos ainda estão em andamento pela empresa para estimar os impactos.
O comércio exterior nacional tem uma característica de exportar commodities e importar produtos industrializados, que tem um maior valor agregado. Por isso, a avaliação é de que a operação portuária, especialmente no setor de contêineres, onde Santos tem a liderança nacional, teria um impacto maior se o Brasil taxar os produtos norte-americanos do que a taxação dos produtos brasileiros pelos EUA.
No entanto, neste momento, Anderson Pomini avalia que os mais prejudicados pela imposição de Trump serão os próprios americanos. O Brasil é um dos principais exportadores de café, aço, suco de laranja, alumínio e petróleo para os EUA, e grande parte desses produtos passa pelo porto de Santos.
“No caso do suco de laranja, 95% passa pelo porto de Santos; da carne bovina, 65%; já o açúcar representa 71%, e assim por diante. Em um cálculo rápido, o próprio cidadão americano seria o mais prejudicado”, avaliou Pomini, indicando possibilidade de aumento de preços aos consumidores dos EUA.
A tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros aos EUA deverá ser cobrada a partir do dia 1º de agosto, segundo carta enviada pelo presidente Trump ao governo brasileiro. Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou a soberania do Brasil e disse que “o Brasil não será tutelado por ninguém”. Lula também ressaltou os números da balança comercial entre Brasil e EUA favoráveis aos norte-americanos nas últimas décadas.