Dimmi Amora, da Agência iNFRA
A falta de infraestrutura adequada nas cidades brasileiras para carros elétricos e autônomos e o pouco interesse dos governos em iniciar os processos de regulamentação dessas áreas pode levar o país a não aproveitar todo o potencial de transformação da mobilidade urbana previsto para a próxima década.
É o que avalia Maurício Endo, sócio líder de governo da KPMG no Brasil, empresa que publicou recentemente o trabalho “Mobilidade 2030: Transformando o Cenário Urbano”. O estudo, realizado na Europa, indica as três tendências que vão moldar o transporte na próxima década: veículos elétricos, veículos autônomos conectados e mobilidade sob demanda.
A junção dessas três tendências tende a levar a uma completa mudança nos sistemas de transporte no mundo, chamado no trabalho de ecossistema de mobilidade, com capacidade de alcançar um valor global de US$ 1 trilhão em 2030, de acordo com o levantamento, disponível neste link.
Segundo Endo, dessas três vertentes, o Brasil hoje está limitado a uma, a da mobilidade sob demanda, porque ela está sendo desenvolvida por startups de tecnologia e empurram o setor. Para ele, as mudanças de hábito que estão ocorrendo por causa da pandemia de Covid-19 vão acelerar ainda mais esse processo.
Endo reconhece que a transformação no setor privado de transporte não tem a mesma velocidade no transporte público, onde os governos ainda têm dificuldades para implantar sistemas de compartilhamento, por exemplo. Mas, para ele, a situação não poderá continuar sendo a mesma.
“Se o governo não fizer, provavelmente alguma startup vai fazer”, previu o sócio da consultoria.
União das tendências
O levantamento aponta que os maiores benefícios na transformação da mobilidade ocorrerão nas cidades que conseguirem unir as três tendências. Endo diz que dificilmente as cidades do Brasil poderão beneficiar-se da união das tendência pelo fato de não terem infraestrutura adequada para os veículos elétricos e autônomos conectados.
No caso dos elétricos, o país não tem incentivos para a criação de áreas de abastecimento desses e qualquer política para a adaptação dos atuais postos combustíveis. Mesmo com a queda dos preços desses veículos no mundo, a indústria brasileira também não tem incentivos para aumentar a produção desse tipo de carro no Brasil.
Mais atrasado ainda está o trabalho com veículos autônomos conectados. Segundo ele, enquanto alguns países do mundo já testam linhas de transportes com esse tipo de veículos sem motorista e estão numa corrida para liberar o funcionamento não experimental, os testes no Brasil resumem-se a poucas áreas privadas restritas.
Para avançar, no entanto, é necessário que haja infraestrutura adequada de sinalização e pavimento, do que a maior parte das cidades está distante, segundo o sócio da consultoria. Outro problema, segundo ele, está no avanço dos regramentos para a utilização desse tipo de veículo, algo também fora da realidade do país no momento.