07/07/2025 | 15h54  •  Atualização: 08/07/2025 | 13h23

Silveira volta a falar em baratear combustíveis da Petrobras e diz que avaliação de venda de campos na Bahia não chegou ao governo

Foto: Tauan Alencar/Ministério de Minas e Energia

Gabriel Vasconcelos, da Agência iNFRA

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse nesta segunda-feira (7) que se o preço do petróleo do tipo Brent seguir em trajetória de queda, há “possibilidade real” de a Petrobras reduzir o preço dos combustíveis fabricados em suas refinarias nas próximas semanas. Silveira falou a jornalistas durante a cúpula dos Brics, no Rio de Janeiro.

“A queda do Brent, se ela se mantiver como está hoje, há uma real possibilidade de nas próximas semanas a gente ter mais diminuição no preço da gasolina e do diesel. Nós estávamos naturalmente muito apreensivos com essa guerra entre Israel e Irã, mas a tensão diminuiu, e esperamos que termine”, disse Silveira.

Atualmente na casa dos US$ 69, o barril do tipo Brent chegou a superar a marca dos US$ 79 em 19 de junho, no auge do conflito. Mas despencou nas sessões após 23 de junho, após o ataque dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã e a resposta dos persas com o bombardeio de bases militares americanas no Oriente Médio.

A leitura do mercado foi que a dinâmica da guerra não afetaria a cadeia de transporte de petróleo bruto da região, dependente do Estreito de Ormuz, passagem marítma controlada pelo Irã. Em seguida, o anúncio do cessar-fogo reforçou a tendência de estabilidade dos preços abaixo dos US$ 70, e a commodity voltou a responder aos fundamentos tradicionais de oferta e demanda do mercado, chegando a um mínimo de US$ 66,17 em 29 de junho e se recuperando lentamente a partir de então.

A cotação do Brent é o principal elemento considerado pela Petrobras e outras empresas refinadoras na formação dos preços de derivados, como diesel e gasolina. Imediatamente após o início da guerra, quando a commodity estava em alta, a presidente da Petrobras descartou eventuais aumentos, ao dizer que a Petrobras não observa os picos de preço, mas “tendências”, ou seja, patamares mais estruturais de preço no médio prazo.

Segundo a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), os preços da gasolina da Petrobras estão abaixo da paridade internacional (PPI) do Golfo do México (EUA) desde 25 de junho alcançando hoje um sobrepreço de 5% ou R$ 0,13 por litro. Isso significa que haveria espaço para redução da Petrobras neste combustível, caso a estatal tenha como objetivo igualar o “preço alternativo da concorrência” praticado por importadores.

Já no diesel, segundo a Abicom, o preço da Petrobras estaria 12% ou R$ 0,37 por litro abaixo do PPI do Golfo o que ensejaria reajuste para cima por parte da estatal. Especialmente no caso do diesel, mercado dominado por produto russo vendido com desconto, a Petrobras contesta o PPI da Abicom, alegando ter escala superior e custos logísticos inferiores ao dos importadores, o que leva a outra determinação de preço.

Polo Bahia Terra
Questionado sobre a posição da Petrobras de rever a decisão de não venda do Polo Bahia Terra, conjunto de 28 blocos em terra com produção de 12 mil barris de óleo equivalente (petróleo e gás natural), Silveira disse que o assunto anda não chegou ao Conselho de Administração da Petrobras e, tão logo, aos representantes do governo no colegiado, capazes de reportá-lo ao Ministério.

Ainda assim, Silveira citou dificuldades criadas para a população a partir da privatização de refinarias, o que teria elevado estruturalmente o preço dos combustíveis no Nordeste e Norte, após as vendas das refinarias de Mataripe (BA) e Manaus pela Petrobras à iniciativa privada durante o governo anterior, de Jair Bolsonaro.

No último sábado (5), a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse que a possibilidade de venda de Bahia Terra voltou à prancheta da estatal justamente porque o preço do barril do petróleo começou a cair. “Quando o óleo está a US$ 100 o barril, faz sentido (produzir em terra), não a US$ 65 o barril. Vamos decidir se Polo Bahia fica com a gente, se terceiriza a operação ou se repassa o ativo”, disse Magda a jornalistas na saída do Fórum Estratégico da Indústria Naval Brasil-China.

Caso a venda de Bahia Terra vá a frente, significaria um retorno do programa de desinvestimentos da estatal, que fora cancelado no início do governo Lula.

A decisão agrada investidores privados, que historicamente defendem concentrar as atenções em ativos offshore de grande porte. Mas repercutiu mal junto à Federação Única dos Petroleiros (FUP). O coordenador-geral da entidade, Deyvid Bacelar, definiu a posição como “inaceitável” e “extremamente infeliz”. Ele destacou em nota que a produção de petróleo na Bahia gerou R$ 257 milhões em tributos e arrecadações especiais ao governo e disse que a FUP vai buscar apoio do presidente Lula e do MME para “evitar que eventuais planos de liquidação de ativos prosperem”.

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