Gabriel Vasconcelos, da Agência iNFRA
A CEO da TBG, Angélica Laureano, estima que o Brasil só deve contar com fornecimento firme de gás da Argentina após 2029. A executiva disse à Agência iNFRA que a transportadora de gás está pronta para receber mais produto argentino em sua malha, mas os envios devem se limitar a um caráter interruptível nos próximos anos, principalmente na primavera e no outono, quando “sobra” molécula no país vizinho. A TBG controla os quase 2,6 mil quilômetros da parte brasileira do Gasbol (Gasoduto Bolívia-Brasil), porta de entrada do gás de Vaca Muerta no Brasil. Envios pontuais começaram em abril.
“Espaço eu tenho, o que falta é preço competitivo e mais infraestrutura na Argentina”, diz Laureano. Dos 30 milhões de m³/dia de capacidade de transporte da TBG, hoje estão em uso 18 milhões de m³/dia, sendo que apenas 12 milhões de m³/dia ingressam pela Bolívia.
Para chegar de forma firme ao Brasil, o produto argentino precisa de mais ampliações na malha da TGN (Transportadora Gas del Norte) no país vizinho – o que inclui loops (duplicações) – além de ver equacionadas as questões do preço mínimo de exportação e das altas tarifas de interconexão. As duas primeiras, diz a executiva, cabem à TGN e ao governo argentino, enquanto a negociação de tarifas mais razoáveis passaria pela negociação de empresas carregadoras.
“Esses três problemas têm de ser tratados. E o investimento [na malha argentina] é de médio e longo prazo. Vai levar, minimamente, três ou quatro anos. Por isso não acredito que esse gás chegue de forma firme ao Brasil no curto prazo. Não é tão simples. Não acredito que aconteça antes de 2029 ou 2030, quando vai começar a chegar de forma competitiva e com volume”, afirma Laureano.
Preço
Na semana passada, o governo argentino sinalizou mudanças nas regras de preço mínimo capazes de rebaixá-los em cerca de 20%. Pela regra atual, diz a executiva, esse gás tem que chegar, na “cabeça do poço”, a um preço entre US$ 3 e US$ 3,5 por milhão de BTU, o que é alto como preço de partida.
Para além disso, a tarifa de interconexão segue entre US$ 1,4 e US$ 1,9 por milhão de BTU. “Essa é uma tarifa alta, se considerarmos que precisamos desse gás na fronteira com o Brasil a no máximo US$ 7 ou US$ 7,5 por milhão de BTU para ser competitivo com gás de origem nacional”, diz a presidente da TBG.
Gás interruptível
Com relação aos contratos pontuais de importação para o Brasil, Laureano estima que podem ficar entre dois e quatro milhões de m³/dia. Para a diretora-executiva de gás natural do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás), Sylvie D’Apote, no limite, esse volume poderia chegar a 6 milhões de m³/dia.
Em linha com Laureano, D’Apote diz que o produto argentino ainda vai ser por alguns anos um “gás de oportunidade”, para compor o portfólio de comercializadoras ao lado do GNL (Gás Natural Liquefeito) e do biometano, alternativas ao gás nacional.
O fornecimento não avança no inverno devido à demanda interna da Argentina por gás para aquecimento e, no verão, devido ao uso doméstico para refrigeração. Algumas empresas já visam exportar ao Brasil por duto entre setembro e novembro, na primavera, quando o negócio se torna viável. É o caso da Pan American Energy, que tem ampliado a frente de GNL, mas tem planos para exportar via gasoduto, segundo o diretor-geral Alejandro Catalano.